Trinta

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Jisoo piscou lentamente. Em quê, Jennie poderia ter mentido para ela? A garota não trajava o perfil de mentirosa, pelo contrário, sempre fora bem direta e sincera em relação aos seus pensamentos.

-- Como assim mentiu? Ao que se refere? -- Jisoo perguntou com cautela, vendo o rosto da mais nova tomar uma coloração rosada.

-- Sobre o carro e o celular. -- Ela disse, fitando as próprias mãos por um momento. -- Eu não fui roubada, eu os vendi.

-- E por quê? -- Jisoo perguntou. A mais nova exalou o ar de seus pulmões e Jisoo percebeu seu tom de voz baixar um decimal.

-- Porque a dívida da minha mãe era muito alta e eu, bem, não tinha outra forma de pagar. -- Confessou, coçando um dos olhos. O sono era evidente nela. -- Fui expulsa da casa onde eu morava na Flórida porque atrasei o aluguel e passei a viver em meu carro, mas antes de eu sair chegou a notificação da morte de minha mãe e da dívida. -- Jisoo balançou a cabeça digerindo as novas informações.

-- Posso, huh, te fazer um pergunta? -- Jisoo perguntou e Jennie assentiu. -- Como conseguiu aqueles machucados?

-- Pedindo carona. -- Ela confessou baixinho, com a voz frágil e voltando a fitar suas mãos. -- Um grupo de mulheres achou que eu era, você sabe, prostituta porque eu estava pedindo carona de noite na beira da estrada e com um vestido. -- Jisoo abriu a boca incrédula e sentiu seu sangue fervilhar ao imaginar alguém machucando Jennie. -- Elas pararam e, o resto você sabe. -- Disse enrubescendo mais. -- Queimaram minha mala de roupas também, por isso eu só tinha um vestido. Agora tenho dois, Somi me deu o outro.

-- Então veio para cá para pagar o hospital com o dinheiro do seu carro e celular?

-- Sim, eu já não tinha nada lá mesmo. Tentei pedir carona para voltar, mas ninguém parou desta vez. -- A garota disse, soltando um suspiro derrotado. -- Então retirei algum dinheiro do que eu tinha guardado e estou limpando vidros. Pelo menos tenho o que comer.

-- Onde dormiu? -- Jennie realmente se sentia envergonhada com tal situação, pois cada vez corava mais.

-- Na rua. -- Jisoo sentiu seu coração se comprimir ao ouvir aquilo tudo. -- Eu tentei te contar aquele dia no restaurante, mas fiquei com vergonha ou medo de você me xingar por ter mentido. -- A garota parecia tão derrotada e abatida que a qualquer momento desmoronaria, Jisoo tinha certeza.

-- Nini, eu jamais faria isso. -- Jisoo disse, tocando em suas mãos suavemente.

-- Desculpe ter mentido. Eu geralmente não sou a favor de mentiras, mas eu tentei dizer a verdade e acabei apanhando e... -- Jisoo puxou Jennie para seus braços quando viu que a menina havia começado a chorar. Ela não se importou em colocar Jennie em seu colo, mesmo tendo algumas poucas pessoas olhando para elas.

-- Não chora, por favor... -- Jisoo pediu baixinho, acariciando as costas da menor.

-- Eu estou tão cansada disso tudo. -- A mais nova disse entre o choro, afundando seu rosto no pescoço de Jisoo; seu choro aumentou a intensidade, no entanto, ainda era baixo; Jennie não gostava de chamar a atenção.

-- Você deveria ter me dito isso antes, Jen. Eu jamais teria te deixado só, eu esperaria sem problema algum você efetuar o pagamento e depois a gente daria um jeito.

-- Desculpe. -- Jennie lamuriou novamente; pequenos soluços escapavam por entre seus lábios; ela não queria chorar, mas foi inevitável.

-- Não se desculpe, tudo bem? -- Jisoo perguntou e Jennie assentiu. -- Vai ficar tudo bem agora. Entendido? -- Jennie desencostou-se do ombro de Jisoo e assentiu, levando uma mão ao rosto para enxugar as lágrimas.

[...]

Após acalmar a menina, a comida finalmente chegou e elas comeram quietas, Jennie se sentou em seu lugar e vez ou outra Jisoo contava algo para descontrair, fazendo Jennie rir.

-- E Somi decidiu ficar lá. Iria transar, com certeza. -- Jisoo disse revirando os olhos, fazendo Jennie rir novamente.

-- Não acredito!

-- Sim, acredite. Não sei como fizeram, o homem parecia ter um braço entre as pernas. -- Outra gargalhada não tão alta de Jennie ecoou no lugar, fazendo Jisoo sentir seu estômago se revolver em êxtase ao ouvir tal som.

-- Andou reparando na bagagem dele, hm? -- Jennie perguntou sugestivamente, fazendo Jisoo revirar os olhos.

-- Era como se ele tivesse três pernas. -- Jisoo disse horrorizada. -- Eu não tinha reparado até o meninão dele começar a ganhar vida própria. -- Disse fazendo uma careta.

-- Acabamos de almoçar, não fale coisas nojentas na mesa. -- Jennie brincou e Jisoo riu, respirando fundo e se levantando.

-- Vamos?

-- Vamos. -- Jennie disse tristemente.

-- As meninas não vão acreditar quando te verem. -- Jisoo disse, deixando o dinheiro sobre a mesa. Jennie lhe olhou confusa.

-- Como assim? Elas virão para cá? -- Jennie perguntou confusa.

-- Não, Jennie. Você vai para lá comigo. -- Jisoo disse, vendo as orbes castanhas se arregalaram surpresa. -- Você realmente acha que eu te deixaria aqui sozinha?

-- Jisoo, eu não tenho como retribuir. -- Jennie avisou sinceramente. -- O único dinheiro que tenho eu estou ganhando limpando os vidros. -- Jisoo sorriu de forma terna e esticou a mão para Jennie, que segurou um pouco relutante.

-- Eu só quero que nunca mais chore daquele jeito, Nini. Se você estiver feliz e segura já estará me retribuindo. -- Jisoo disse e Jennie se levantou também, se jogando nos braços de Jisoo e a abraçando fortemente.

-- Você é o melhor ser humano deste mundo. Obrigada, Chu. -- A mais nova disse, se arrepiando ao sentir Jisoo lhe dar um beijo na curva de seu pescoço.

-- Agora vamos. -- Jisoo disse, se afastando do pequeno corpo e recolocando o chapéu em sua cabeça, já Jennie pegou suas próprias coisas.

E de dedos entrelaçados, saíram do estabelecimento. Jennie sorriu sem Jisoo ver, pois era a primeira vez em dois dias que sentia seu estômago completamente cheio, mas também sorriu por ter voltado a ver Jisoo. Ela jamais imaginou que aquilo poderia acontecer, afinal ela era uma azarada de mão cheia e em sua vida só costumava acontecer coisas ruins.

Seu coração se acelerou quando sentiu Jisoo acariciar com o polegar sua mão. A mais velha realmente se importava com ela, Jennie podia sentir. Não era dó, não era pena, era afeto. Puro e verdadeiro.

E muito bem retribuído.

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