6. inaspettato

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Rosamaria Montibeller


Você é criminosa, isso sim.

A mensagem de Naiane me arranca uma gargalhada como há muito tempo eu não fazia.

Hoje é sábado e nós precisamos fazer uma reunião para falar das coisas da empresa. O problema é que, para mim, essas coisas são feitas de manhã cedo. Mesmo que seja um sábado. E como eu sei que minha melhor amiga detesta acordar cedo, eu deixei uma mensagem, assim que eu acordei, dizendo para ela deixar de preguiça e não se atrasar. Mas aparentemente marcar reuniões às nove da manhã – o que significa acordar às sete e meia – de sábados é um crime hediondo.

Lide com isso enquanto se arruma.

Não se atrasa!

Envio as mensagens, ainda rindo, e volto a me arrumar. Está fazendo muito calor em Belo Horizonte, então opto por uma blusa verde de alças e um short de uma cor estranha. Minha irmã, Ana Paula, com certeza descreveria como cor-de-burro-quando-foge – o que ela usa para toda cor que ninguém sabe direito qual é. Enfio os pés em um par de tênis brancos e, logo após passar uma escova nos cabelos, estou arrumada. Confiro novamente a pequena mochila que estou levando, a fim de ver se não esqueci de nada. A reunião de hoje é importante para o decorrer do projeto e espero que a gente consiga desenvolvê-la sem muitos imprevistos. Com tudo em seu devido lugar, abro o aplicativo de carros no celular e digito o destino da corrida. Pegando minha mochila e garrafa d'água, desço os sete andares de elevador e vou de encontro ao motorista assim que ele chega. Decidimos nos encontrar em uma cafeteria que abriu recentemente no bairro, então é para lá que o motorista me leva.

No local, subo os poucos degraus da frente que me levam ao salão. O espaço é aberto, com algumas janelas de vidro nas paredes principais e as mesas são bem espaçadas entre si, o que é ótimo para o que viemos fazer aqui hoje. Passo pelo portal da loja, sinto o vento gelado do ar-condicionado me atingir e agradeço silenciosamente. Caminho até uma mesa localizada próxima à parede e me acomodo em um dos bancos acolchoados que estão em volta do tampo quadrado, repousando a mochila e a garrafa. Paro por um momento para admirar o lugar desconhecido e me encontro positivamente surpreendida – o azul claro que compõe a paleta de cores da cafeteria, junto com a luz solar que entra na medida certa pelas janelas e a distribuição bem pensada das mesas deixa tudo muito aconchegante.

Minha primeira experiência visual é interrompida por um garçom.

— Com licença, senhora — Ele veste um uniforme claro, um avental azul e nas mãos carrega um folheto plastificado. — Gostaria de olhar o cardápio?

Aceito rapidamente a sugestão e ele me estica o objeto que tem em mãos. Passo os olhos pelos produtos e, com um pensamento ligeiro, resolvo pedir apenas um café e esperar Naiane chegar para, efetivamente, comer alguma coisa. O garçom simpático anota o meu pedido e volta pelo mesmo caminho. Tomo um gole de minha água e espero, checando uma de minhas redes sociais.

O funcionário da loja volta com meu pedido e eu tomo metade da xícara antes de ver Naiane me procurando na porta. Levanto o braço esquerdo e aceno até que ela me veja também, o que não demora. Ela caminha até mim com as sobrancelhas franzidas e eu já estou rindo.

— Tu já pediu.

Ela diz, mais como uma afirmação do que como uma pergunta.

Tu demorou demais. Precisava de café, pelo menos — Nai tira sua mochila do ombro e abre o zíper principal, ainda com cara de poucos amigos.

— São oito e cinquenta e seis. Eu tô adiantada quatro minutos e você não teve a capacidade de me esperar? É nessas horas que a gente precisa repensar as amizades, sabe de uma coisa?

HortênsiasOnde histórias criam vida. Descubra agora