the other woman

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as coisas realmente mudaram nesse meio tempo, e essa foi a única vez que eu percebia o quanto minha vida poderia ficar sem rumo, mas outras vezes, eu simplesmente me rendia, mas dessa, eu realmente estava resistindo como podia, reagir eu não conseguia, minha forças já estavam no fim mas eu não deixaria que minha autoestima ou amor próprio se abalerem

Então eu me arrumava todos os dias, colocava aquele meu sorriso tão conhecido no rosto, e saia, divertia as pessoas e pelo menos tentava, só tentava me divertir, mas parece que nada mais fazia sentido sem ela, e tudo que eu precisava era dela para ser feliz, acho que eu peguei uma dependência absurda nela. quando minha mãe disse que drogas eram viciantes, eu não lembro dela ter dito que drogas tinham cabelo preto, um sorriso lindo escondido, um humor quase invisível e 1,60 de altura.

Eu não sei dizer o exato momento em que eu perdi wednesday, talvez foi quando eu a chamei, em outras palavras, implorei para ela passar alguns dias comigo em minha casa, e com muita insistência eu consegui fazer com que wednes aceitasse o meu pedido. Foram dias maravilhosos ao seu lado, fizemos tantas coisas juntas, saímos, fomos ao parque que havia chegado recentemente na cidade, fizemos uma trilha de mais ou menos 12 horas, acampamos na floresta, comemos cogumelos vivos, wednesday me ofereceu garantindo ser uma delícia, e eu aceitei desconfiadamente, apenas para agrada-la, mas aquilo era horrível e eu tive que ir pro hospital pois descobri ser alérgica a cogumelos vivos, oque rendeu risadas de wednesday e uma bronca da minha nutricionista. Também aprendemos, ou pelo menos tentamos aprender a jogar futebol quando meu pai se dispôs a nós ensinar, mas wednesday era um desastre, e eu então, nem se fala, uma verdadeira decepção para a Marta. Lembro de quando chutou a bola sem querer em meu rosto, indo me ajudar assim que cai no chão, eu fingi chorar, meu pai sorria de longe, ele me conhecia mais que ninguém, sabia que aquilo era drama, mas apenas ficou calado, e sempre ria quando eu fingia estar magoada pela bolada na cara, lembro como se fosse hoje, eu falando toda manhosa com wednesday e ela me tratando como uma princesa só para eu desculpa-la pela bolada, ela se sentiu culpada por ter me "machucado". aquilo foi tão fofo que eu nem se quer consegui sustentar o personagem por muito tempo, desculpando-a assim que a vi na cozinha, e lá mesmo, naquele mesmo dia, fizemos amor, na presença de meus pais e minha irmã, eles estavam no quarto, e ela na sala. acredito que não tenham escutado, pois foi tudo tão calmo e silencioso. Eu e wednesday transamos várias vezes, por cada mínimo cantinho daquela casa, se eu não soubesse que ela era tão previsível eu diria até que ela tinha um fetiche muito que bem inusitado.
aquelas dias foram mágicos, mas depois que ela virou "amiga" de minha irmã, as coisas começaram a desandar, ou melhor, andar de frente para trás. era incrível a maneira em que Heather só falava em wednesday e no quanto ela era estranha e misteriosa, o quanto ela queria conhecê-la melhor pois estava encantada com seu jeito reservado, e foi bem ali que eu comecei a perceber as reais intenções de minhas irmã, por mais que ela não soubesse do que acontecia entre mim e wednesday, ela praticamente tirou sua amizade de mim, e então derrepente, elas ficaram muito próximas, as vezes eu me sentia até de lado, e eu nunca entenderia, como Heather conseguiu a mesma coisa que eu? Como conseguiu se aproximar tão rápido de wednesday? Então eu não era única em algo? Talvez fosse por que ela era encantadora, não fosse tagarela, tambem fosse reservada, fosse linda, legal e formasse o par perfeito com a mais velha. me doía pensar assim, mas só de pensar que perdi todas as chances que tinha com a mesma quando eu beijei ajax, fazendo wednesday ficar com tanta raiva a ponto de nem querer olhar na minha cara, eu me sinto complemente culpada. embora não tenha sido eu quem troquei alguém tão rapidamente naquela história.

Depois do meu beijo com ajax, que só aconteceu pela carência que estava sentindo em relação a wednesday, que sempre estava ocupada demais escrevendo um livro ou tentando dar a atenção que minha irmã cobrava dela, eu me sentia completamente descartável, completamente usada, e mais ainda, quando ela simplesmente parou de falar comigo de uma hora para outra, pediu para mudar de quarto no internato, e começou a deitar-se com Heather, no quarto ao lado, acho que aquilo foi de propósito, pois sempre dava de ouvir as risadas de felicidade de minha irmã do outro lado da parede, aquilo me matava por dentro, matava tanto ao ponto de eu ter que mudar de quarto com Xavier e Bianca, que não reclamaram, apenas aceitaram ainda confusos. eu pedi para que não deixassem ninguém dormir comigo se não fosse yoko, ela foi quem mais me ajudou naqueles dois meses, sempre me apoiando e me enchendo de conselhos como uma mãe preocupada, ela tentava me consolar todos os dias, estava lá quando eu tive minhas crises de choro, nas crises de ansiedade que eu tinha adquirido com o tempo, e nas crises de raiva que eu precisava controlar todas as vezes em que via minha irmã e minha amada juntas. "Mas sabe o pior de tudo? mesmo depois de tudo eu ainda não acredito que aquela emo do sorriso lindo, que parecia ser o ser mais o ser mais inofensivo do mundo conseguiu foder tanto com meu psicológico." Eu disse em meio a soluços, mais uma vez chorando por ter chegado em casa em um final de semana e ter visto wednesday com a minha irmã enquanto jogavam um jogo de damas. Eu até havia falado com as duas mas só Heather me respondeu, enquanto wednes nem se deu o trabalho de me olhar. "p-por que ela fez isso yoko..?? Será que eu não sou o suficiente? Ela mentiu quando disse que eu estava salvando ela? Eu me recuso a acreditar!" Eu falava rapidamente, colocando tudo para fora sem parar, minha amiga me olhava na câmera assustada, conversávamos por vídeo chamada, Yoko estava no internato pois não gostava de sua casa, ao contrário de mim, Mas agora isso também era algo que eu estava começando a odiar.

Depois de um tempo conversando com minha amiga eu desliguei a chamada e fui tomar um banho para tentar me reerguer, passei horas no banheiro, quando minha mãe apareceu por ali ela me levou lá pra baixo para jantar, sempre perguntando o tempo todo por que meu sorriso já não estava com tanta frequência no rosto ou o que tinha acontecido para eu ter ficado tão pálida ou desanimada nos últimos meses. Eu disse que não era nada, ela sabia que tinha algo mas não insistiu, quando cheguei na mesa eu me deparei com algo que tanto evitava, evitava no internato, e agora tinha que começar a evitar em casa. Heather sorria alegremente enquanto agarrava o braço de wednesday e as duas mantinham uma conversa agradável com meu pai, que levou sua atenção a mim quando minha mãe puxou uma cadeira na mesa para que eu pudesse me sentar. Ele me olhou preocupado, isso já não era tão anormal, todos estavam na verdade.

- tudo bem, filha? - perguntou pegando em minhas mãos.

- tudo, pai. - eu respondi cabisbaixa.

meu pai não deve ter acreditado muito naquilo, ele olhou para wednesday, que estava de cabeça baixa, mais uma vez, evitando olhar para mim. E então eu acho que foi ali que ele começou a perceber as coisas, não tão diferente de minha mãe, que olhava seriamente para a ruiva e a morena a sua frente.

- wednesday, tá tudo bem, querida? - minha mãe agora pergunta, vendo ela assentir. - por que nunca mais veio aqui? Sentimos sua falta.

- e-eu estava muito.. ocupada. - ela gaguejou, parecia nervosa.

- sabe que é sempre bem vinda ne? - ela assentiu quando meu pai perguntou. - não entendo por que enid nunca mais te trouxe aqui, mas fico feliz que Heather tenha nos permitido vê-la mais vezes.

Neste mesmo momento eu sai da mesa com tudo, não aguentei, não aguentei ouvir que Heather havia tomado o lugar que eu sempre ocupei naquela casa, ela levou minha amada até lá, dormia no mesmo quarto e ainda sim não entendia por que eu agia daquele jeito, ela era a culpada, Heather era a culpada! Mas ao mesmo tempo, a mais inocente ali.

Eu iria passar a noite trancada em meu quarto, e ao amanhecer, eu iria fazer o mesmo, e pediria para me tirarem daquele internato, pois eu não tinha psicológico. É bem louco oque o amor pode fazer com as pessoas, é bem louco o sentimento de ser insuficiente para a pessoa que você ama, se sentir impotente e ve-la nos trocar por alguém que não daria o terço do que nos daríamos por ela, isso dói. Para ela pode não ter doído, mas para mim sim, por que eu senti cada minuto daquela relação se acabando, eu vi seu sorriso sumir cada vez mais, eu vi seus olhos brilharam cada vez menos, suas palavras ficarem cada vez mais curtas e grossas, seus gestos, expressões e reações sumindo aos poucos, sua animação para falar comigo. e até pelo celular, eu a vi parar de me responder em minutos para horas, e depois dias, e depois nada. Eu a vi parar de me elogiar, eu a vi desativar o visto por último, tirar a nossa foto de perfil, eu a vi apagar as memórias que eu tanto trabalhei para construir, como se fosse um nada. eu a vi responder meus textos com apenas duas ou três palavras. eu a vi falar sobre outra pessoa, que quando me toquei que não era eu, meu coração doeu. Mas assim como na escola, no amor eu aprendia, eu tinha uma professora, wednesday era seu nome. Me ensinou que o amor é lindo, mas me ensinou a diferenciar paixão e amor, ao contrário de mim, eu acho que ela sentia paixão, paixão é algo passageiro, eu tinha certeza que meus sentimentos não eram, então ela me ensinou muitas coisas além disso.

E ela me ensinou que o amor
não existe.

HEATHER, wenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora