E o que foi ferido se cicatrizará.
A tua afeição, toca o coração.
E o que foi partido inteiro se fará.
Pois não há nada que o Teu amor
não possa restaurar...
(Laura Souguellis)
Humilhada, era assim que se sentia! Todo seu orgulho tinha despencado literalmente em uma queda bem feia. Seu pé doía ao dar passos ainda incertos pelo chão do aeroporto chic de Seul, a última vez que estivera ali era só uma menina cheia de sonhos, naquele momento só lhe restara alguns troféus fajutos e a sensação de ser sempre a segunda em tudo que viveu.
Estava tão perto de alcançar seu tão sonhado pódio, de ser reconhecida da forma que gostaria. Agora parecia que sua sina era assistir a vitória dos outros chorando seus próprios fracassos.
Obrigou a discar em seu celular o número quase esquecido de sua mãe e implorar alguma carona até o lugar onde os pais viviam e que agora ela gostaria de chamar de lar.— Yeoboseyo? Kim Na-ri? Que saudade querida, quanto tempo...
— Omma — não conseguiu completar a frase, ao ouvir novamente a voz doce de sua mãe, após tanto tempo, soube que estava exatamente onde deveria estar naquele momento, em casa.
Explicou a sua mãe de maneira resumida o que acontecera e implorou para a mãe buscá-la e levá-la embora de toda aquela vergonha! Queria voltar a ser criança e se esconder entre a saia de sua mãe como fazia sempre que o mundo parecia cruel demais.
Sentou-se em um banco e ficou observando o movimento das pessoas indo e voltando de seu país! Não sabia que precisava tanto ver aquela infinidade de gente como ela, tudo ali lhe causava uma sensação de pertencimento.
Assim que a mãe a enxergou pelas lentes de seu velho óculos correu mais rápido quanto suas pernas lhe permitiam e a envolveu em um abraço caloroso e materno! Como aquele pai que ao ver seu filho retornar à casa se alegrou de tal maneira que preparou-lhe uma festa, o coração daquela mãe pulsava de saudade e amor, estava pronta para dar-lhe um anel e devolver à ela a honra.
Kim Na-ri se instalou no carro com a ajuda da mãe e juntas partiram rumo ao lar! Durante o percurso não conseguiu trocar nenhuma palavra com a mãe, estava envergonhada demais, apenas observava as paisagens conhecidas e deixava o vento gelado que entrava pelas janelas do carro secar suas lágrimas.
Não se lembrava ao certo em qual momento do percurso dormiu mas acordou com sua mãe a chamando, olhou em volta e pela primeira vez naquele dia sorriu, estava em sua cidade natal, fazia quase 20 anos desde estivera naquele lugar e tudo parecia absolutamente igual.— Omma, vocês voltaram pra nossa antiga casa? — perguntou curiosa dirigindo a palavra a mãe.
— Depois que você foi embora, eu e seu pai decidimos que seria melhor voltar a vida simples.
— Fico feliz, eu gostava desse lugar! Onde está o Appa?
— Está trabalhando, mas já o avisei, jajá ele chega! — direcionou a menina ao velho sofá— vamos, sente-se, vou preparar algo pra você comer.
Na-ri sentou meio desajeitada não só pelo pé machucado mas era estranho estar na casa onde passou o início de sua infância tanto tempo depois, ela não merecia aquilo! Aquele amor! Enquanto esperava sua mãe reparou o tanto de coisas referentes a ela naquela sala pequena, tinha quadros com fotos de espetáculo, matérias de jornais coreanos com sua foto, anúncios de comida e tantas outras coisas.
— Aqui querida, você fez uma longa viagem, coma um pouco. Estou tão feliz em te ter aqui, nem parece verdade!
Apenas sorriu, tinha tantas palavras entaladas na garganta mas elas misturavam -se com uma bagunça de emoções! Não conseguia racionar nada, só queria dormir.
Entrou em seu antigo quarto e tudo parecia exatamente como um dia fora! As cobertas sobre a cama, o quarto limpo, as toalhas com cheiro de pétalas, tudo ali parecia estar esperando sua volta a qualquer momento, seu coração doeu, não sabia ao certo em qual momento do percurso havia se perdido, em qual momento começou a correr a corrida dos pódios e deixar que a sede pelo "grande" lhe roubasse os detalhes do caminho.
Não sabia ao certo se estava se sentindo perdida pela nostalgia daquele local ou por toda a série de acontecimentos que lhe dera uma rasteira em pouco tempo! Sentou-se no chão em frente a sua mala e começou a desfazê- la na intenção de se esconder naquele lugar e não ir embora nem tão cedo. As poucas roupas amassadas foram pra uma pilha ao seu lado no chão, o que ela queria mesmo era ver o que restara, não de suas coisas naquela mala, mas de si!
Olhava os quadros nas paredes com fotos de suas vitórias e comparava com aqueles troféus e sapatilhas rasgadas, era um grande contraste! Nada daquilo parecia real, aos olhos das pessoas ela era uma grande artista mas os calos em seus pés denunciavam que aquela corrida havia machucado, desgastado e cansado não só seus pés mas sua vida. Agora parecia inútil tamanho esforço, do que adiantara? Não tinha qualquer perspectiva de futuro, apoiara toda sua esperança em algo mutável, não tinha mais profissão e nem esperança!
Arrumou suas coisas de qualquer maneira nos armários, tomou um longo banho e fora deitar na pequena cama em seu quarto, antes de apagar as luzes notou um livro cor de rosa na mesinha de madeira ao lado de sua cama, era a bíblia que ganhara de presente quando era criança, decidiu abri-la por simples curiosidade, não sabia ao certo como encontrar alguma coisa então puxou a fitinha que era usada para marcar as páginas e encontrou grifado um versículo que a incomodou, não por falta de compreensão mas porque era exatamente o que seu coração doído precisava ouvir, não lembrava de ter riscado aquele versículo, mas agradeceu por encontrá-lo! Queria de fato acreditar naquelas palavras.
Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês', diz o Senhor, 'planos de fazê-los prosperar e não de causar dano, planos de dar a vocês esperança e um futuro.
Jeremias 29:11
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Esta noite, quando a neve cair.
Krótkie OpowiadaniaEsta noite, quando a neve cair é um conto, baseado em romances coreanos, que narra a história de Kim Na-ri e Anthony Hong dois amigos que sentiram a dor da separação logo cedo por circunstâncias da vida. Os anos passaram e agora eles são adultos que...