The Felbornland | EM ANDAMENTO

𝖮 𝖵𝖺𝗅𝖾 𝖽𝖾 𝖬𝗈𝗒𝖺𝗀𝖻𝖺

Antes da alvorada apenas o clarão da lua podia ser visto, cortando o enorme arvoredo que rodeava as barracas. Ainda a escuridão daquela noite serena pairava sobre as cabeças, quando o jovem Colin viu-se escutando algo que certamente não o convinha ouvir. Ele sabia - da mesma forma que bem sabemos - que não é certo escutar as conversas alheias. Mas sua curiosidade bateu mais alto que sua decência, que o fez ceder desta vez. 

O príncipe despertava de um sono um tanto profundo; mesmo profundo, algo o incomodava. Acaso fosse uma conversa entre duas pessoas, próxima às barracas. De primeira, Colin conseguiu reconhecer um dos sujeitos: a voz baixa e inexpressiva de Taurin era mais que inconfundível. O outro menos falava, talvez fosse um outro Guardião amigo dele. A princípio, o rapaz não possuía motivos nenhum para que fosse despertado algum mísero interesse na conversa. Mas uma expressão mudaria toda a sua percepção a respeito disso. Algo como atravessaremos um dos pontos mais perigosos dos Quatro Domínios, o fez estremecer. Adiante, ainda pode escutar sobre algo chamado "Vale de Moyagba", que Taurin dizia ser um caminho mais rápido para chegar ao Norte, mas que não assegurava a plena segurança de quem por lá passasse. Aparentemente, o dia seguinte seria limpo, com nuvens claras adornando o azul do céu, talvez o azul mais gracioso que se pode imaginar. Assim, a travessia poderia ser menos dura. E pouco depois de um tempo, a conversa cessou. Em todo o tempo que durou o diálogo, Colin permanecia ao lado de Alanis, como se estivesse dormindo. Embora virado para o outro lado, sua atenção permanecia no diálogo entre os dois Guardiões. Aquilo intrigou o príncipe o resto daquela madrugada. Nem ao menos foi capaz de cochilar por alguns minutos. O que seria mais perigoso que estar de frente ao Grande Mestre, sendo um humano, não uma criatura daquela terra mágica? O que poderia acontecer de pior naquele Vale, se não as consideráveis chances de ser descoberto humano à frente de todos em um dos eventos mais importantes para aquele povo? Pensamentos tomavam a mente do príncipe, que tirou-lhe o sono por completo.

Quando Alanis despertou naquela manhã, radiante e sorridente como o Sol que corava suas bochechas (talvez passara toda a noite a sonhar com fadas e flores), deparou-se com o rapaz ao seu lado com os olhos arregalados, apavorados como nitidamente estava o moço.

- Alteza, o que aconteceu? Pareces...

- Desesperado, sim - respondeu, com a voz trêmula e dificultosa -. E um tanto receoso, mais que estar de frente ao Grande Mestre... talvez, senhorita. Poderíamos considerar permanecer aqui, onde é relativamente mais seguro a nós.

- Eu-, eu não o entendo - disse a garota, procurando o olhar perturbado de Colin, que tinha a todo tempo fixo a mesma barraca de onde surgiu o instigante diálogo entre os dois Guardiões.

Após, de uma certa forma - apesar de frouxa e pouco útil - se recompor, pôs-se a dizer tudo que ouviu na conversa e sobre as muitas dúvidas que rodeavam sua mente depois. A forma que Taurin dizia sobre aquele Vale foi temerosa o bastante para que se estremeça; e como o outro encarava o ele disse era evidente em sua resposta ao Guardião da Fronteira: "teremos mesmo que atravessar... atravessar aquele Vale, meu senhor? Ora, pois temos tantas outras travessias, como o Desfiladeiro de Gylvind, o que acha?". Mas Taurin permanecia inalterado sobre sua proposta. "Compreendo seu temor, meu caro. O nome de Moyagba ainda causa tremores em mim também. Mas já passei por lá algumas vezes, umas quatro ou mais, junto de meus homens no último Verão. Foram caminhadas morosas, sem nenhum sinal dele. Fomos vigilantes a cada passo que demos. Não nos deparamos com nada,  nada além de uma bela vista às Montanhas acima de nossas cabeças", disse Taurin. "Não posso assegurar que não o encontraremos. Mas farei o possível, pelo bem de todas as criaturas de nosso povo, protegê-nos de qualquer ameaça".

Alanis permanecia quieta, ainda processando tudo que o outro dizia, quando exclamou:

- Afinal, quem é esse tal de Moyagba?