𝖯𝗋𝗂́𝗇𝖼𝗂𝗉𝖾 𝖠𝗅𝖻𝖾𝗋𝗍 𝖢𝗈𝗅𝗂𝗇

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Tudo o que aconteceu na tarde passada não seria esquecido tão facilmente por eles. Moyagba estava vivo, e em poucas horas se mostraria à todas as criaturas dos Quatro Domínios no Palácio do Grande Mestre. A Lenda de séculos estava mais viva do que nunca e seguiria viagem junto deles. Mesmo horas após o susto, entre o povo tudo ainda era um tanto silencioso, apenas se ouvia o som dos que montavam as barracas e da água que corria bravia por entre as pedreiras do outro lado do bosque. Os ventos assobiavam uma harmonia melindrosa cada vez que moviam as folhas altas naquela noite fria - era um sinal que já estavam a poucos quilômetros das montanhas. Após o vilarejo, haviam apenas de atravessar a Cidade para finalmente alcançar os grandes portões do Norte, depois andar a tarde inteira até o Palácio, que ficava no topo da Montanha Maior. 

Quando todas as barracas já estavam montadas, comeram alguns frutos e sopas para aquecer do frio intenso que já podiam sentir desde muito longe, e foram cada qual para a sua barraca. Alanis e Colin, como na outra noite, teriam de dormir de novo do lado de fora - já que a maior barraca de todas conseguia comportar somente um deles. Colin ofereceu à companheira, que muito hesitou até finalmente decidir entrar na pequenina tenda. Quanto ao príncipe, disse que não se importaria de dormir uma terceira vez sob palmeiras e pedras - apesar daquela noite estar bastante fria para se passar desabrigado à céu aberto como ele.

- Será somente por mais uma noite, senhorita Hanzen, e logo mais estaremos aquecidos no Palácio. Talvez por lá ainda possa ter algum lugar para dois humanos infiltrados em uma terra mágica... é possível. Portanto, não se preocupe comigo, apenas trate de dormir para aguentar o longo dia amanhã. Tome seu cobertor e se aqueça. Sonhe com criaturas voadoras e flautas mágicas, somente não se perca na melodia! - despediu-se dela, fechando a portinha da barraca.

E estas foram as únicas palavras que os dois jovens trocaram naquela noite (além da discussão para que Alanis fosse de uma vez dormir na barraca, depois muito questionamento e relutância de sua parte). Nem mesmo comentaram com o outro sobre a fatigosa tarde com Moyagba, ou sobre a atitude da garota no momento em que foi para diante dele, pondo em risco sua vida por causa de um sentimento maior que seu controlo, mesmo sem entender o que isso de fato significava. Isso era algo que Colin nada entendia. Uma sensação estranha que era sentida dentro de si? Seria um mero pressentimento, como quando se está com dor e o primeiro impulso seja chorar ou gritar? Que bobagem se fosse algo assim! "Pois eu também tive uma sensação estranha... sim, eu tive: desejei muito sair correndo dali e voltar para casa imediatamente! Sim, também senti algo aqui dentro, e isso pode ser chamado angústia e aflição, como também era sentido por todos... mas, ir até ele? Uma atitude muitíssimo perigosa da senhorita Hanzen! Felizmente saístes viva, senhorita Hanzen, felizmente!", Colin pensava consigo mesmo; porém, logo já adormecia, envolto em um grosso cobertor de lã que apenas deixava seus olhos à mostra.

Embora o acampamento ficasse muito perto do pequeno vilarejo despovoado, não muito distante da Cidade, estar alerta era indispensável. Mas, extraordinariamente, toda aquela noite seguiu pacífica e imperturbável (sem nenhum rastro de Moyagba, nem fera ou quaisquer ameaças). Portanto os Guardiões mantinham seu trabalho, enquanto Taurin repousava próximo as pedreiras atrás do bosque que cercava o acampamento. Mas somente repousou por algumas horas, pois não era de dormir demais - desde muito novo já possuía este hábito particular. No entanto, quando está em sua terra de origem, passa a maior parte do crepúsculo a praticar suas habilidades de combate. Taurin era muitíssimo talentoso, e manuseava todos os tipos de armas de guerra que eram conhecidas nos Quatro Domínios, assim sendo o mais apto a ser nomeado o Guardião da Fronteira, naturalmente.

Já pela manhã, a primeira refeição foi rápida, mas durou tempo suficiente para que o silêncio que os rodeava fosse rompido pela ilustre chegada de Moyagba. A enorme criatura pousou em um galho retorcido, ao escândalo de suas enormes asas, e mais uma vez agradecia à singela gentileza do povo por deixá-lo seguir viagem com eles. Também não demorou muito para que partissem, uma vez que os ventos tornavam-se pouco a pouco mais densos, ao passo que se aproximavam das terras geladas. Teriam, então, de atravessar o restante trecho do vilarejo pela frente até os portões do Norte. Moyagba seguia por cima de suas cabeças, enquanto as criaturinhas iam envoltos de ponchos coloridos de algodão e gorros pontudos que os protegiam do frio, e os dois jovens humanos vestiam mantos de lã por cima de suas couraças e luvas de algodão em suas mãos. Caminhavam um ao lado do outro, mesmo que não tivessem ainda dito nada ao outro desde que por último discutiram acerca da barraca. Porém, algo não parecia certo com o príncipe. Tinha seu olhar apagado, e caminhava à passos tardios e custosos.

The Felbornland | EM ANDAMENTOOnde histórias criam vida. Descubra agora