Capítulo três

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Caminho calmamente pelas ruas da pequena cidade de Santa Rita do Trivelato. Sinto-me segura em meu corpo, feliz, como se estivesse flutuando em nuvens fofas feitas de algodão. Sam havia sido tão carinhoso, respeitador, quando ele me olhava nos olhos eu sentia todo o amor que transbordava dele, seu toque me causava um arrepio intenso e caloroso ao mesmo tempo. Enquanto ele me tocava, apenas por um segundo eu havia pensado no passado, mas aquilo ficara para trás quando ele me beijou. Fechei os olhos e tudo o que vi foi ele e eu, vi com a alma, instinto, desejo. Eu o amava tanto, com todo meu coração e nada, a não ser o medo de que o passado voltasse.

    A maioria de meus pesadelos era sobre o que havia acontecido, a tortura que passava diariamente, o medo de ter que presenciar uma morte ou de morrer, eu me lembrava de como havia momentos que eu era corajosa, desafiava o Caçador ou então Rafael, mas minutos depois o medo tomava conta de mim. Mas ás vezes, e eram essas vezes que me davam os ataques de pânicos, eu pensava no que poderia ter acontecido comigo.

     Fui estuprada por dois homens diferentes e violentos, eles não usavam camisinha e eu não tomava remédios anticoncepcionais, ao menos não sabia se tomava, algumas vezes sentia gostos estranhos no café, um amargo, mas não sabia ao certo o que era. José poderia ter me matado como fazia com suas vitimas, amarrar nas vigas e abrir a barriga com uma faca sem corte, cruel e sem escrúpulos.

     Mas, apesar de todo mal que passei, Deus havia me oferecido um presente. Samuel e as crianças eram uma benção em minha vida, eles cuidavam de mim e me amavam. Tiago já estava com dezoito anos, havia arrumado a primeira namoradinha em Londres e havia sido difícil a separação, mas ele era um garoto especial, cheio de luz e bondade. Luiza estava com dezessete anos era uma garota linda, de olhos verdes e cabelos encaracolados e pele branca como a neve, ainda passava por psicólogos, por sua beleza José havia a estuprado diversas vezes e isso ainda a atormentava, não pretendia namorar tão cedo e Samuel agradecia, secretamente, por isso.

     Tamires estava com dezesseis e se dedicava aos seus livros, como esperado ela conseguiu publicar a própria historia e ainda mais um livro com dicas de como emagrecer, agora ela pretendia ajudar com as tarefas de casa e pretendia se casar, mas não tinha pressa. Ela era a que mais me ajudava, sempre estava do meu lado nas crises. Segurava minha mão e dizia que "tudo vai ficar bem".

     Ramón continuava o mesmo anjo de sempre, a única coisa que mudará era sua beleza, os filhos do Caçador eram muito belos, ele estava com quinze anos e trabalhava no centro de ajuda que Sam criou enquanto não tinha idade para assumir seu cargo na prefeitura. Meu pai o amava muito, mesmo depois daquela carta maluca que caiu em suas mãos graças a Ramon, no final ele percebera que era Sam, no começo havia sido um problema, mas era melhor do que se apaixonar pelo Caçador, não é?

    Giovana com dez anos só preocupava em estudar e recuperar os movimentos que havia perdido com aquela surra, aquela que me tornou refém da bondade, mas com muita fisioterapia os médicos prometiam que ela se recuperaria totalmente. Luiz, de oito anos, era um menino alegre, sem muitas marcas, ele não precisou de nenhum tipo de ajuda psicológica, era nosso bebê, só precisava estudar e crescer.

    As crianças iam bem, Sam e eu somos um casal com poucas brigas e muito carinho, agora também havíamos feito amor, o que só fortalecera nosso vinculo. O que mais eu poderia pedir?

   Paz.

    O bilhete de Rafael havia me deixado apavorada, já era difícil aguenta-lo em meus pesadelos, mas agora eu o via em toda parte, em toda pessoa. Belos olhos verdes em uma cabeça cheia de maldade.

     Nunca o amei, mas ele acreditava, até hoje, naquele teatro que fazia parte de meu plano. O que eu queria era que José e ele acabassem se matando por minha causa, mas ele fugiu e deixou as coisas se acalmarem, para só então voltar, logo agora que eu estava tão feliz.

    Apresso-me para chegar até o carro que me espera na esquina, os médicos não me permitem dirigir, por isso Sam contratou um motorista particular. Ele é um senhorzinho de idade, olhos azuis e testa enrugada, usa aquelas boinas de lã cinza e fala com um sotaque de português, é um senhor encantador.

   Quando chego perto do carro Sebastião dá a volta e abre a porta do banco traseiro, arrumo minha saia antes de me sentar e nesse momento que eu o vejo. Rafael está sentado em um dos bancos da praça principal, está vestido todo de preto e óculos escuros escondem os olhos verdes, mas eu reconheço aquele sorriso malicioso, como se fosse o dono do mundo.

– Senhora está tudo bem? – Sebastião toca minha mão assustando-me.

– Está sim.

– A senhora está pálida.

– Minha pressão deve estar baixa. – Encaro Rafael e tento não demonstrar nenhuma reação. Ele continua sorrindo para mim e acena. Aceno de volta enquanto Sebastião dá a partida no carro.

– Para onde vamos? – Para casa da minha mãe. – Mas antes passe em algumas lojas.

    A minha intenção era despistar Rafael caso ele resolvesse tentar me seguir. Por isso passei em três lojas e duas lanchonetes, sem comprar nada. Sebastião havia estranhado, mas eu não precisava lhe dar satisfação.

    Depois de alguns minutos, quando me sinto segura, ordeno que ele vai para a residência de meus pais. Entro correndo na mansão e quando a porta frecha atrás de mim sinto-me aliviada. Solto um suspiro e fecho os olhos tentado apagar aquele sorriso da minha mente.

– Filha? – Minha mãe toca meu ombro me chamando. – O que faz aqui?

– Como assim? – pergunto surpresa. Nunca precisei avisa-la para visita-la.

– É que... – Ela engasga. – Não tem que arrumar a sua casa?

– Não. – Minha mãe está muito estranha. – Está ocupada?

– Não. – Mamãe me abraça e me leva para a cozinha. – Vamos tomar um café?

– Ok. – Respondo andando na direção da garrafa térmica, mas minha mãe dá um grito e me abraça novamente.

– Na cidade. Vamos tomar café na cidade Verônica estou morrendo de saudade de você.

   Há dias venho percebendo certas mudanças com o pessoal lá de casa, de inicio achei que era por causa do receio de que eu tivesse uma nova crise, mas agora, com a mudança da minha mãe, eu estava com medo de que fosse algo mais sério. Talvez eles também estavam recebendo bilhetes de Rafael e isso os tivesse mudando, como a mim. Ou eu estava esquecendo algo.

    Minha mãe pega sua bolsa, apressadamente, e me leva até o carro. Sebastião se assusta, mas sorri ao abrir a porta para nós.

– Mãe está tudo bem?

– Sim querida.

***

    Luiza e Tamires respiram fundo quando ouvem a porta fechando. Elas não esperavam que Verônica aparecesse, já estava quase anoitecendo e as duas adolescentes corriam contra o tempo para arrumar a decoração no quintal da casa do prefeito, pai de Verônica, faltavam dois dias para a festa.

 

 Lembram que eu prometi cinco capítulos? A promessa está de pé. Vou estar postando os capítulos entre hoje e amanhã, então fiquem atentas. Meu olho está melhorando, a dor passou, agora o único problema é que as células estão demorando a voltar ao normal, por tanto está meio embaçado. Caso houver erros me avisem para eu consertar.

Beijos e muito VerUel

Ansiosos para a festa de niver da Verônica? 

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