prólogo

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— Era disso que Mheetu estava falando.

O rapaz alto correu os dedos pelos fios escuros e em seguida pelo rosto ansioso, enquanto ele observava o céu escuro estrelado, mas que não devia exibir aquela espécie de Aurora Polar sombria. Chateação e ódio estavam juntos no seu ser; apesar da beleza âmbar o estampar, o que guardava em seu coração passava longe de algo apreciável naqueles momentos de estudo.

Tiooooo! — a garotinha, apesar de ser a mais velha entre os irmãos, apareceu manhosa e tímida. — Onde está mamãe?

— Lá em cima, monstrinha — o rosto sério se desmanchou automaticamente assim que ouviu-a, e a voz modificou-se instantaneamente para ser cuidadoso.

As crianças, filhos de seu recém falecido irmão, eram seu maior tesouro, e os únicos motivos de felicidade em sua vida. Mit'ty era a mais velha, mas também era a mais grudada com os responsáveis, sendo seus pais ou o tio; Kesth ofereceu para pegá-la nos braços e a garota se desmanchou em seu ombro.

— Lá...? Onde esteve o papai...?

Ele abraçou-a mais forte, ainda que cuidadoso. Apontando pra uma estrela brilhante, pensou na menina acanhada e em como poderia distraí-la.

— Sua mãe está bem.

— Eu já sou grande!... Tio, ainda teremos a mamãe?

— Claro que terão. Sua mãe, eu e sua avó.

— E papai na estrelinha.

— Seu pai na estrela, miudinha — concordou, mais confortável com a menina tranquila em seu corpo.

— Tio... A vovó disse que as estrelas são perigosas, quando contei que papai agora mora em uma.

— Elas são. Belas e perigosas — com a garota ainda no colo, sentou-se na mureta da varanda e Mit'ty pôde se aconchegar mais. — Na verdade, são apenas lindas, e feitas para ficarem distantes e boazinhas; mas qualquer coisa pode ser perigosa se usarmos de jeito maldoso.

— O papai me disse sobre elas fazerem mal pra mamãe, pra Miwa e pro Rask. Tio Kess, se elas podem vir pertinho pra fazer mal, porque a do papai não vem pra perto pra vermos ele?

— Elas não vem pra perto, querida, mas há pessoas más que usam elas lá de longe. Você não vê seu pai, mas ele está nos vendo, e tem orgulho de você continuar sendo a melhor garotinha do mundo.

— Quase adulta, tio!

— Quase adulta, amor! — concordou. Ele apertou os olhos e ela o estranhou. — Mas ainda gosta de cócegas!

A risada ecoou pela varanda, inocente e contente enquanto a platinada se espatifava no colo do tio brincalhão.

Kesth gostaria de poder manter aquela família satisfeita no quesito felicidade.

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