— Ah... — jogou os fios claros para trás do rosto, prontificando-se em esfregar os olhos que ardiam.
Tinha acabado de sair da água e secado o corpo, junto da vestimenta delicada, mas se apressou demais com os pés que tinham voltado à forma e atropelou-se na corrida. Com o vestido rosa-claro ajustado outra vez no corpo esguio, ela apertou os olhos e olhou para o chão, piscando para tentar melhorar a situação do que via.
Chacoalhando a cabeça para limpar a areia do cabelo, ela prendeu a respiração pra olhar ao seu redor, procurando pelo chapéu trançado que caiu com os tropeços que dera antes de cair.
A fitinha rosa estava amassada contra o chão, mas ela tinha certeza que aquele chapéu praiano era o seu e, segurando o vestido contra as pernas para se levantar, esticou-se para pegar o acessório que guardava algo a mais que um homem tinha acabado de jogar.
— Mas..? — pensou rapidamente no que aquilo significava e, sem tirar os olhos do alto homem, se levantou rápido. — Senhor, por favor, tome seu dinheiro de volta.
O moreno a olhou de baixo à cima, detalhando-a como bem entendesse naquele instante. Ele suspirou, soltando a fumaça que tinha prendido há um momento antes de dispensar no chão o cigarro e segurar os fios negros que atrapalhavam sua visão por conta do vento. Ela estendeu o chapéu, com os olhos brilhando em compreensão.
— Eu não preciso disso, senhor, não sou uma sem-teto, ou... — falou com a voz trêmula, baixo ao olhar analítico daqueles olhos amarelos. — Perdoe-me por fazê-lo pensar nisso, mas é um mal-entendido.
Entediado e sem força de vontade alguma, o rapaz apenas pegou a nota de valor alto de dentro do chapéu da jovem, depois dela o estender por longos segundos e insistir com os olhos aguados e desesperados.
— Eu hein... — franziu a testa, fazendo um bico involuntário enquanto via o outro se afastar e enfiar o dinheiro de volta ao bolso; seu chapéu voltou à cabeça e ela teve de segurá-lo por conta do vento gelado que vinha da direção do mar.
Mit'ty se perdeu por um instante, quando virou o rosto na direção da brisa e fechou os olhos pra senti-la. A cidade estava consideravelmente cheia, mas se ela se esforçasse, podia ouvir os sons que a maré trazia pela manhã, ou pelo menos imaginava e acreditava o suficiente para se satisfazer com a ideia. Os sinos da longínqua catedral tocou, e ela levou um susto com os pensamentos bagunçados e perdidos.
— A anunciação! — lembrou-se, só. — Ah, não, não..! Atrasada pra anunciação, atrasada...
O vestido balançava e parecia ir contra a vontade da platinada, deixando-a ainda mais envergonhada e nervosa sobre a situação que estava, enquanto via a multidão que seguia o caminho que levaria à praça para o esperado anúncio. As sapatilhas confortáveis e delicadas faziam um som contínuo no chão de tijolos coloridos, mas cessou sua sinfonia enquanto ela se enfiava no meio do mutirão.
— Atenciosa platéia e necessárias mulheres aptas..! — uma voz estridente chamou a atenção, sendo seguida do ruído do microfone. — Hoje o palácio está aberto, como bem sabem, para o festejo da Koch! Mulheres, não percam tempo pensando em chamar a atenção do pretendente, e nem os homens percam o de vocês tentando vender seu peixe! Sabemos bem como será a escolha da princesa, e é por isso que anuncio hoje a iniciação dos jogos da Seleção Real!
Mit'ty bem sabia que não seria um simples jogo, como todas as outras mulheres ali também; no entanto, seus olhos brilhavam a cada palavra que o mensageiro dizia no topo daquela instalação arranjada no meio da praça. Ela suspirou esperançosa: tinha chegado o momento pelo qual havia estudado e treinado toda a sua – curta – vida!
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Sons da Maré
RomanceEntre todas as moças, físicas e mentalmente selecionáveis, está Mit'ty, quem se preparou a vida toda para o teste que seria submetida para competir em ser a companheira do príncipe. Thowobia tem um sistema rígido em relação ao matrimônio real, e ago...