Mit'ty fechou a porta com o máximo de discrição que conseguia pôr em seus movimentos mesmo que com o corpo cansado. Dentro de sua casa, ela pôs os sapatos em um canto do primeiro cômodo e conseguiu centralizar sua atenção em segurar o vestido longo enquanto andava.
Seu tio não servia mais aos trabalhos Reais, então certamente estava em casa. Kesth havia notado a chegada da sobrinha em uma carruagem formosa, mas a platinada se despediu sorridente e o moreno não viu necessidade imediata de tomar informações; Hoote estava havia acabado de pegar no sono, e o cunhado fazia questão de zelar por sua tranquilidade para se certificar que pela manhã ela estivesse com os filhos.
A sereia parou no batente da porta entreaberta dos gêmeos. Eles estavam obviamente dormindo, abraçados na grande cama de casal de forma adorável. Mit'ty empurrou a porta com extremo cuidado, adentrando o cômodo com passos calmos; na beira do colchão se curvou e deslizou os dedos carinhosos para tirar os fios do rosto da criança adormecida e deixar um beijo doce, indo do outro lado, fez a mesma coisa com o gêmeo.
Assim que chegou no próprio quarto, encostou-se na porta fechada e suspirou baixinho. A única coisa que queria fazer era deitar logo para dormir e, assim que se livrou sonolenta da roupa extravagante, soltou seu corpo contra o seu colchão e fechou os olhos.
De manhã, Mit'ty tinha acordado logo depois do tio, que já cuidava do café da manhã para a família. Atordoada e sonolenta, ela pôs sua costumeira regata larga para treinar e seu velho short. Seus pés descalços a deslizaram para o primeiro andar da casa enquanto seu cabelo era preso com rapidez e, passando por Kesth, o cumprimentou.
— Espera aí, mocinha — pegou-a pelo pulso, antes que escapasse do cômodo. A platinada o olhou como um cãozinho. — Onde vai?
— Treinar, Kess.
— Hoje começam as provas. Como assim você vai treinar?
— Eu tenho que estar preparada — fez um bico nos lábios e ficou pensativa; as mãos se fecharam e ela respirou fundo. — Tenho que me alongar, aquecer; eu nã-.
— Você tem que descansar — com a mão ainda a segurando, a trouxe pra perto, mesmo que ela estivesse relutante. Kesth puxou uma cadeira e a segurou pelos ombros, fazendo-a sentar. — Você já vai se desgastar muito durante a seleção toda, tem que utilizar todo o tempo que tiver para descansar.
— Todo tempo sobrando é oportunidade para melhorar o treinamento.
— Mit'ty Gora — fechou a expressão. — Você não vai se forçar hoje.
— Alongar, tiooo —- fez biquinho pidão. Os olhinhos brilhantes nem sempre serviam de chantagem. — E se não houver tempo de me aquecer lá? São testes de resistência também, você quem disse.
— Eu que te criei e sei bem o que é aquecimento pra você.
— Pufff — acenou em discordância, assoprando a mecha de cabelo solta. Mesmo que a intenção não fosse comer, se rendeu a um pãozinho quando a barriga fez um som alto. — Eu sei dos limites de um treinamento.
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— Você nunca aprende! — Kesth falou rígido, decepcionado com a sobrinha. Mit'ty olhou pra cima envergonhada, mas com algo em mente pra dizer em sua proteção, não que o moreno fosse a dar chances naquele instante: — Você não sabe sobre limites!
A platinada havia se sentado no chão com a dor que tinha acabado de causar no próprio tornozelo, com as mãos massageando os músculos, ela evitava o olhar repreensivo do tio. Ela obviamente tinha extrapolado no treinamento, e o resultado estava em seu corpo. A sereia sempre ganhava novos machucados por desafiar a si mesma, e sua pele era cheia de marcas para a lembrar, mas ela simplesmente escolhia se cobrar mais do que outra coisa.
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Sons da Maré
RomanceEntre todas as moças, físicas e mentalmente selecionáveis, está Mit'ty, quem se preparou a vida toda para o teste que seria submetida para competir em ser a companheira do príncipe. Thowobia tem um sistema rígido em relação ao matrimônio real, e ago...