rocya

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— Linda, Tity, tãããão linda!

Vestida em crepe, e pares de camadas em tule, a mais velha dos irmãos tinha os gêmeos menores correndo em sua volta. As crianças não eram tão pequenas, mas a animação as deixavam com o brilho infantil que Mit'ty tanto apreciava e amava ver.

Com sorte, o homem mais velho dali salvou a máscara delicada que cairia com o tropeço de Raskil, o filho do meio de Hoote, que perdeu o equilíbrio ao pisar na barra da calça da menina que corria em volta da irmã.

— Mãe! — apoiando-se na parede de forma desengonçada para não cair, fechou a expressão pras crianças. — Aqui não é um parque pra ficar correndo atoa. Diz pra pararem!

Os menores olharam feio para o irmão, e logo depois para a mãe e o tio com chantagem nos olhos coloridos; Mit'ty recebeu os próximos olhares pidões e sua expressão foi carinhosa. Dando as mãos aos pequenos, a irmã trouxe-os para sentarem quietos no sofá.

— Não vamos estragar tudo logo hoje — Kesth pôs a mão livre na cintura ao observar a situação, e a outra deslizou pelo braço da mais velha, segurando-a pelo pulso pra tirá-la do aperto das crianças manhosas. Ele posicionou a máscara no rosto da sereia, sem ainda prendê-la. — Ou queremos estragar o vestido da futura rainha?

— Não, papai Kess — o coro infantil soou.

Hoote sentou-se acanhada ao lado dos filhos e, com os olhos cheio d'água, manteve o olhar para a mais velha. Mit'ty colocou as mãos na cintura e, erguendo o rosto com falso orgulho esnobe, retribuiu o olhar à mãe.

— Tomem cuidado com a futura rainha — segurou o riso com esforço —, meros mortais.

A risada familiar soou pela casa quando Raskil iniciou a zombaria; não durando muito, pois um estouro começou. Tinha sido longe da residência dos Gora, mas ainda assim dava pra ser ouvido os fogos de artifício que começavam a serem lançados no céu, um a um, anunciando as portas abertas do palácio.

O barulho conseguia ser mais forte do que o qual as nuvens ainda mais escuras faziam no céu, anunciando que viria uma tempestade. A família já tinha visto piores, mas a garota selecionada ao Koch fingia que via uma lua brilhante para se manter positiva, e não se exasperar com pessimismo e gerar cenários desastrosos em sua mente.

— 'Tá na hora, Mit'ty! Vai, vai, vai! — a caçula pulou do assento, sendo seguida pelo gêmeo que também estendeu a mão para a irmã. — Pai Keeeeessss, vai, vai!

— Agora tem pressa, ratinha? — o moreno pôs as mãos na cintura, arrebitando o nariz enquanto a caçula mantinha o rosto corado. — Mit'ty?

A platinada respirou fundo, suspirando baixinho pra controlar seu nervosismo. Ela olhou para seu tio e, esgueirando um sorriso positivo nos lábios ansiosos, arrastou os fios pra fora dos ombros e acenou.

— Estou positiva. Como nunca estive.

As crianças se agarraram na roupa em tons de azul, tentando abraçar como podiam a irmã. Mit'ty acariciou os cabelos espetados e sentiu as próprias bochechas esquentarem.

— Não vou demorar tanto assim. Vão sentir meus beijinhos de boa noite.

Os gêmeos se animaram e soltaram-a, com os pedidos do tio e da mãe. A mais velha acenou para os irmãos uma última vez, apesar dos menores a seguirem para a porta; com um beijo delicado e carinhoso, despediu-se da mãe desanimada.

— Vai tomar cuidado, Mit'ty, não vai? — ela tocou com a mão fria na garota, esperançosa. A platinada sabia do que ela estava querendo dizer. — Não só hoje.

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