kawama

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O céu estava escuro outra vez. Auroras Boreais anormais reluziam suas cores belas e perigosas que se destacavam no momento noturno; eram fenômenos comuns por ali, não algo incrivelmente diferente, raro e esbelto de se parar para observar e aproveitar.

Mit'ty estava longe de querer apreciar, também: Kesth sempre se fez contra a ideia da existência delas, culpando a elas e as estrelas por diversas coisas que aconteciam e vinham acontecendo, então, a sereia cresceu com ideia de repúdio sobre as moléculas coloridas.

Com água por seu corpo, dentro da banheira familiar a sereia tinha o rosto erguido para a luz da Lua que entrava pela claraboia; suas unhas compridas nos dedos reluziam como garras naquela forma, e sua pele escamosa cintilava com a pouca claridade. O cabelo em um coque alto a dava mais liberdade com os movimentos ali, apesar de pouca diferença.

O controle de suas formas era algo que a jovem adulta adquiriu não com muita facilidade, mas sim com muito esforço e persistência focada. Ela não simplesmente se transformava quando tinha o corpo molhado, mas sim quando havia concentração e desejo sob aquilo; a mesma coisa acontecia na transição de volta à humanidade.

Naquele instante, ela estava sob sua forma que mais a conecta à natureza, e isso a fazia ficar em grande parte para fora da banheira da família. Seus familiares sempre a alertavam sobre aquela ação, mas ela sempre acabava ignorando para aproveitar ao menos um pouco da sensação que o ambiente aquático a dava.

Durante o banho, ela o fazia para fugir dos pensamentos ou, ao menos, para tentar se distrair — ainda mais quando não conseguia passar tanto tempo quanto queria com seus animais.

Daquela forma, ela não sentia o tornozelo a chatear e, mesmo seu tamanho ultrapassando os limites do espaço em que estava, ela se sentia mais confortável. As suas unhas afiadas deslizavam por seu corpo, fazendo-a sentir arrepios a tomando; parando os dedos nos lábios, Mit'ty remexeu a pele ressecada para tirá-la.

Com um suspiro, retornando a sua forma humana, ela se acertou na banheira com seu corpo pequeno. Com a língua limpando o que aparecera de sangue em sua boca, ela estendeu as pernas e deslizou as mãos para tocar os pés.

— Que droga — chiou, sentindo o incômodo no músculo.

— Mit'ty, se apresse! — a voz gritou do outro lado da porta, batendo na madeira com força. A platinada se assustou e, recolhendo o corpo de abrupto, se amaldiçoou por ter batido o tornozelo contra o mármore; sua mãe continuou: — Kawama já chegou! Não está ouvindo os sinos?!

A sereia quis afundar na água e não responder, fingir que não existia. Ou podia escapar pela janela, fugir sem destino.

— Já saio!

Respondendo com falsa animação, ela suspirou em seguida com a ideia de sair dali.

Enrolando-se na toalha, ela deu uma última olhada na sua imagem no espelho. O coque a deixava com mais liberdade de visualizar a pele pálida e corada, mesmo que alguns fios estivessem escapando e grudando em seu corpo; ela gostava de dar algumas voltas sozinha de forma divertida, apenas pra se ver em mais ângulos, mesmo com o tecido claro a cobrindo. Abrindo a torneira e jogando mais água em seu rosto, ela ergueu os braços e se espreguiçou, estalando alguns ossos de forma relaxante e finalmente sorrindo tranquila e brilhante.

Assim que chegou em seu pequeno quarto, fechou a porta com uma batida alta suficiente para os familiares ouvirem que tinha saído do banho e se aprontaria. O som forte fez o rapaz deitado em sua cama piscar rápido e deixar de olhar o teto.

Eu fiquei sabendo... — o moreno começou, com o sorriso desafiador e brincalhão que tirava a platinada do sério quando ele fazia especialmente para a testar em momentos tensos.

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