"Faça todo o bem que puder,
Usando todos os meios que puder,
De todas as maneiras que puder...
Para todas as pessoas que puder,
Durante o maior tempo que puder."
John Wesley
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.Coloquei na cabeça que este ano farei algo diferente no meu natal. Não passarei com o meu irmão, que é a minha única família e sim, irei ajudar alguém que precisa de mais sorrisos e de mais amor. Então decide me voluntariar em um hospital do Câncer e realizar esse desejo aflorado que nasceu dentro de mim.
Me chamo Amanda, tenho quase 33 anos de idade e nessa minha jornada nunca senti tamanha necessidade de ser mais humana.
Estamos quase chegando o dia de natal, e como recebi o meu décimo terceiro vou gastar todo este dinheiro em presentes para estas crianças. Com isso fui até o hospital e conversei com o diretor que foi muito solícito e ficou extremante feliz em saber da minha vontade em fazer este natal mais feliz para suas crianças – palavras suas.
Como toda época de feriado as lojas ficam abarrotadas de pessoas que deixam tudo para última hora – inclusive eu –. Acordo cedo, faço minhas coisas e saio sem ter hora para voltar.Compro todo o tipo de brinquedo, livros, roupas e perucas. Quero deixar um sorriso lindo no rosto de cada criança. O meu coração vibra só de imaginar.
— Amanda, minha querida, você por aqui? —Enquanto olho para a boneca em minhas mãos que me trás lembranças boas. Sou tirada pela voz da minha vizinha, uma senhora muito simpática que gosta de ajudar o próximo, acho que peguei essa vontade de tantas conversas que tivemos.
— Dona Mirna, bom dia! — nos abraçamos como sempre. Ela sempre me diz que o abraço precisa durar vinte segundos. Pois segundos os pesquisadores há um efeito terapêutico sobre o corpo e mente. A razão é que um abraço sincero produz um hormônio chamado "oxitocina", também conhecido como o hormônio do amor. Ah! E sempre do lado esquerdo do coração. Nunca discuti, apenas aceitei.
E não é que é bom!
— Minha filha, me desculpa a intromissão. Mas pra quê tanta coisa? Por um acaso fará alguma festa e não tô sabendo? — Dispara a falar como sempre, apenas sorrio e olho para o carrinho abarrotado de coisas.
— Farei! Porém não é uma festa, e sim passarei o natal no hospital do câncer — olho para ela e seus olhos estão marejados. — O que foi, Dona Mirna? — Pergunto preocupada.
— Estou apenas emocionada com seu gesto, minha querida — sua mão enrugada quentinha pega a minha e mais uma vez me sinto acolhida como das outras vezes em que conversamos. — Muitos deveriam fazer isso. Mas tem que vir do coração e não uma jogada da mídia para aparecer como muitos fazem. Quero poder ajudá-la também. O que posso fazer?
Sorrio com o seu gesto e percebo que ela tira energia de algum lugar secreto, só pode ser. Pois, com a casa sempre cheia dos filhos e netos ainda arruma tempo de ajudar os outros.
A única coisa que penso é: tenho que comer muito feijão com arroz para chegar na idade dela com toda essa garra.— Irei adorar ter a companhia da senhora nessas compras. — Ela vira o carrinho dela que até então não tinha percebido e passamos o restante do dia entre conversas e trocas de experiências.
***
Deixe tudo guardado no porta-malas do meu carro e entro para o aconchego da minha casa. Minhas mãos estão congelando, na porta sou recepcionada pelo meu gato Romeu.
— Oi, sua bola de pelo mais linda do mundo, estava com saudades? — Pergunto acariciando a sua barriga, como sempre começa a morder minhas mãos. Não sei o que esses gatos tem. Vem até a gente todo manhoso e do nada vira com raiva e começa a morder.
— Não só ele, mas eu também estava morrendo de saudades — uma voz grossa me faz cair sentada no chão assustada.
— Maninho, não acredito que você está aqui!—Levanto às pressas do chão e corro em sua direção para abraçá-lo.
O meu irmão serve no exército e ele tinha me falado que não viria passar as festividades esse ano comigo. Somos apenas eu e ele neste mundão de Deus.
— Você achava que eu te deixaria sozinha?Lógico que não. — Escuto sua voz abafada por conta do abraço.
— Mas vo...— Tento argumentar, mas ele me corta e o meu coração quase sai pela boca de tanta felicidade.
— Ai, Mandy, eu queria fazer uma surpresa.
Não sei se é a época de natal ou o tempo em que ficamos longe um do outro. Porém, um nó se forma em minha garganta, escondo meu rosto mais ainda na curva do seu pescoço e um soluço escapa.
— Ei, boneca, calma to aqui com você. Não era essa reação que eu queria. — Sinto suas mãos grandes passando por minhas costas e um beijo na minha cabeça várias vezes para me consolar.
— Eu sei, seu bobo. São apenas lágrimas de alegria. Agora vem cá para eu fazer aquela comida gostosa que você tanto ama. — Me afasto dele, limpo minhas lágrimas e o empurro para dentro de casa.
E assim a noite transcorre entre risadas e conversas que há muito tempo não tinha com o meu irmão.
Quando falo o que irei fazer não pensa duas vezes em querer me ajudar.
...
Chego ao hospital para deixar já as coisas preparadas. Pois assim combinei com o diretor, avisto um senhor saindo às pressas do hospital afrouxando a gravata como que estivesse procurando ar. Um frio gelado cortante percorre minha espinha ao presenciar essa cena.
Sei que estamos no hospital do câncer e é normal ver esta cena. Mesmo sabendo que entes queridos estão em uma situação complicada, nunca estamos preparados para notícias ruins. Teremos sempre uma esperança e ela é que nos move neste mundo louco em que vivemos.
Uma mulher loira sai atrás dele, sua cara está vermelha como tivesse chorado por horas.
É normal querer confortar uma pessoa que você nem conhece? Não sei a resposta, só sei que sinto isto!
— Daniel, me escuta — ela puxa–o pelo braço. Ele olha para ela, contudo, seu olhar não tem vida. — A gente vai consegui sair dessa.
— Como? Quando? Me diz! Por que o que sei é que minha filha está lá dentro só esperando a hora. Eu... — Ele respira fundo e vira as costas mais uma vez para ela.
Ela chega mais perto dele e encosta a cabeça em suas costas. Não preciso ver seu rosto para saber que mais uma vez as lágrimas fazem caminho livres. Seus ombros tremem.
— Amanda, o que foi? Por que está chorando? — Meu irmão chega ao meu lado e toca o meu ombro. Até então não tinha percebido que estava chorando junto com eles.
— Ai, Vini. Estou com o coração apertado. — Aponto para o casal a nossa frente. — por que a vida é tão injusta com algumas pessoas? — pergunto ainda olhando os dois que agora estão abraçados e compartilhando uma dor infinita.
— Ei, olha para mim — ele fica na minha frente para não olhar mais o casal. — Repito o que falei em casa, que estou achando lindo sua atitude. Porém, você tem que controlar suas emoções. Aqui veremos todo tipo de histórias.
— Eu sei. Só me comovi com o que vi — fecho os olhos e respiro fundo.
— Vamos tomar um café e assim você se recomponha melhor. — Segura meus ombros e abre aquele sorriso lindo que só o meu irmão tem.
— Ok.
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Um Natal Mágico
Romance🎄Sinopse 🎄 Amanda Fidelis, tem 33 anos de idade e nunca sentiu uma vontade tão grande ajudar ao próximo como está sentindo nesta data tão especial como o Natal. Como a única família que tem é um irmão, ela decidiu que não irá passar com ele, e si...