[CAPÍTULO ÚNICO]

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Se você perguntar a Gerard o quanto ele lembra de sua vida sem Frank, ele vai te dizer que lembra muito pouco ou quase nada. A presença de Frank era algo inerente àquela existência de Gerard, algo que fazia parte da paisagem como o branco descascado pelo mofo da madeira da fachada da casa dos seus pais; como o cheiro de cigarro e café que era uma constante na casa dos Way.

Frank apareceu antes de ele cansar de dividir o quarto com Mikey na adolescência e resolver transformar o porão no seu quarto. Muito antes de Gerard resolver cortar o cabelo comprido e pintar de amarelo e vermelho. No caso, Frank ajudou Gerard a escolher o tom de vermelho e perdeu uma tarde pintando o cabelo dele, ainda tendo que ouvir que o jeito como estava fazendo era errado.

Se havia algo que tinha saído de bom do divórcio dos pais de Frank era que sua mãe se viu obrigada a mudar para Newark com o filho, para ficar mais perto da família. Frank tinha três anos, então ele mal se lembrava. Foi com essa idade que ele caiu na mesma sala que Mikey e eles se tornaram amigos. Como todos os amigos de Mikey eventualmente se tornavam amigos de Gerard, que era só um ano mais velho, foi um movimento natural. A pouca diferença de idade dos irmãos Way muitas vezes levava as pessoas até acharem que eram gêmeos, mesmo que os dois torcessem o nariz quando alguém fazia esse comentário.

Com o tempo, Mikey foi adicionando novas amizades ao grupo: Shawn, Ray, Gareth. Alguns Gerard gostava e fazia questão de conviver; com outros, no seu pior dos humores, ele apenas revirava os olhos e descia as escadas correndo. A verdade é que ninguém era Frank, ninguém era engraçado ou sagaz como ele. Ninguém era corajoso, destemido e ímpar como ele. Ah, antes que você ache que isso poderia levá-los a algum lugar, você está achando certo.

O único capaz de fazer Gerard tirar o pijama para ir assistir a um show de alguns velhos senhores músicos no Brooklyn em um sábado à noite era definitivamente Frank, que não perdia por nada a oportunidade de ver seu avô tocar com os amigos. O avô depois os levava para comer uma torta de maçã e os deixava na casa do pai de Frank, que sempre trabalhava todos os finais de semana porque, assim como seu pai, era músico. Talvez a música fosse mesmo algo que corresse nas veias de Frank, um karma ou um destino. A casa do pai de Frank era legal – porque ficava com ele a missão de ser legal —, e o quarto de Frank na casa do pai tinha uma beliche. Gerard sempre ficava com medo de quebrar, então ficava na cama de baixo e Frank na de cima. Por mais que às vezes os dois acabassem adormecendo na cama debaixo depois de passar horas madrugada adentro jogando magic.

Às vezes, Mikey se sentia um pouco deixado de lado, principalmente quando começou a adolescência. Mas a verdade é que Mikey era mais diferente de Frank e Gerard do que eles eram similares. A relação simbiótica dos dois acabou por ultrapassando o trio e se fortaleceu. Gerard tinha essa teoria sobre trios de amizades de que eles nunca funcionam. Eventualmente, o terceiro elemento era sempre perdido, um acessório da relação. Quando ele contou a tese para Frank, ele se acabou de rir e discordar. Mas prometeu a Gerard de que ele jamais seria o terceiro.

Esta realidade era perene para Gerard. A caminhada da escola com Frank e Mikey todos os dias, parar para comprar um lanche de almôndegas às sextas-feiras na frente de um estabelecimento que claramente era controlado pela máfia, mas tinha um lanche inigualável, era uma rotina que levava Gerard pela segunda-feira maçante até a quinta-feira entediante. Ir ao cinema, jogar jogos de tabuleiro e fazer todos os trabalhos da escola juntos (ou melhor, Gerard fazer os de Frank porque ele simplesmente não conseguia passar mais de 30 minutos sentado).

Foi depois de umas férias que Frank passou na casa de uns primos distante do pai na Itália que Gerard se deu conta de que ele jamais poderia viver longe do amigo porque ele (suando só de pensar nisso) amava Frank. Foram noites sem dormir pensando no sentimento, pensando que ele estava errado. Por outro lado, ele achava que Frank mandava sim sinais de que ele sentia o mesmo. Não era possível que aquilo fosse um pouco.

[FRERARD] I'll be home for christmasOnde histórias criam vida. Descubra agora