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2019, Seattle.

Naiane Rios estava arrumando algumas coisas em seu guarda roupa quando encontrou uma caixa, ao abri-la encontrou um pequeno diário dentro.

— Oh meu Deus, te encontrei. — ela diz pegando o diário e o abraçando. — Tantas coisas escritas aqui, tantas coisas. — suspirou melancólica. — Vou matar a saudade.

Ela então abre o diário e começa a ler, recordando-se de quando tudo aconteceu.
[...]

1992, Seattle.

Já era verão naquele ano, eu tinha doze anos e estava brincando no jardim de casa com uma bola de vôlei que ganhei de minha irmã mais velha que havia acabado de se mudar da casa de nossos pais. Estava tão entretida que nem percebi quando um caminhão de mudança parou em frente a casa vizinha, só reparei quando vi sair de dentro uma menina de cabelos morenos e olhos claros segurando uma boneca nos braços, ela deveria ter uns dez anos.

— Olá. — eu disse quando me aproximei. — Me chamo Naiane Rios!

— Oi. — disse tímida. — Julia Kudiess, mas pode me chamar de Julia. — diz sorrindo.

— E eu de Naiane. — digo animada. — Você vai morar aqui do meu lado agora?

— Vou sim, nos mudamos da Itália porque minha mãe faleceu. — disse tristemente. — E agora papai se casou de novo, e ela quis vir morar aqui.

— Nossa, sinto muito. — disse sem saber muito o que dizer. — Se quiser podemos ser amigas.

— Sério? — pergunta abrindo um sorriso.

— Sim, aqui nesse bairro só tem gente velha. — ri. — Somos as únicas crianças e acho que deveríamos ser amigas para podermos brincar, conversar, vai ser legal. — eu disse sem tirar os olhos dela.

— Claro, você será a minha primeira amiga.

— Você vai ver, seremos melhores amigas.
— estendi a mão para ela que apertou.

No dia seguinte na escola, a encontrei sozinha sentada em um banquinho no horário do intervalo.

— Está tudo bem? — perguntei.

— Não muito. Não fiz nenhum amigo, todos zombam do meu sotaque italiano. — diz triste.

— Não ligue, são todos uns bobões.
Nesse instante eu vi um menino gordinho se aproximando com duas meninas.

— Olha lá a italianazinha. — os três riem e eu sinto uma raiva enorme, não deixaria que ninguém a tratasse assim.
Me aproximei do menino e o olhei com cara feia.

— Se você tornar a importunar a minha amiga eu quebro a sua cara, entendeu? — eu disse ele de cima, já que eu era maior.

— Tá... tá... tá bom. — ele pronunciou morrendo de medo e eu me afastei com um sorriso vitorioso no rosto.

— Não acredito que fez isso. — diz me abraçando apertado. — Você é demais Naiane, obrigada.

— Imagina Julia, somos amigas, não somos? — ela confirmou com a cabeça. — Então eu sempre irei proteger você, ok?

— Obrigada, você é a melhor amiga que eu poderia ter. — disse agradecida.

E foi naquele dia que a nossa amizade se iniciou de verdade, a partir dali não nos desgrudamos mais.
[...]

1995, Seattle.

Eu e Julia vivíamos uma na casa da outra, eu agora com quinze e ela com treze anos, nossos pais diziam que parecíamos irmãs. Era sexta-feira a noite e como todas as sextas, dormíriamos juntas uma na casa da outra. Hoje era na casa dela, estávamos no quarto dela assistindo "Uma Linda Mulher" e comendo pipoca com refrigerante.

— Julia, preciso te contar uma coisa. — eu digo nervosa.

— Pode falar Nai. — ela disse enchendo a boca de pipoca.

— Eu fiquei com uma pessoa. — eu digo mordendo o dedo e vejo ela arregalar os olhos enquanto mastiga a pipoca.

— Como assim você beijou primeiro que eu? — ri. — Quem foi? Ele é bonito? — perguntou curiosa.

Eu não sabia como dizer aquilo pra ela. Porque eu não havia beijado um menino, e sim uma menina. Na verdade, desde os meus doze anos eu tinha essa vontade, e o meu primeiro beijo tinha que ser com uma menina.

— Se chama Andy, ela é da minha sala. — eu digo de uma vez e a vejo engasgar com o refri. — Oh meu Deus Rosa, respira. — digo batendo em suas costas até ela respirar normal.

— Oh mio Dio. — ela diz me olhando. — Come hai baciato una donna? — ela adorava falar em italiano quando estava nervosa.

— Beijando ué. — disse revirando os olhos. — Com a boca, com a língua. — ri. — Vai deixar de ser minha amiga por causa disso? — perguntei com medo.

— Claro que não sua bobinha. — ela disse me dando um tapinha no ombro. — Só achei estranho você nunca me contar que tinha vontade de beijar meninas, ou que gostava dessa tal Andy. — disse simples vontando a comer sua pipoca.

— É que eu tinha vergonha disso e medo de você me rejeitar. — confessei.

— Você gosta mesmo dela? — perguntou.

— Sim, muito. — sorri.

— Então é isso que me importa. — ela disse sorrindo. — Somos amigas pra tudo, e eu estou aqui pra te apoiar independente da sua orientação sexual. — dá de ombros. — Eu amo você Nai, vamos ser amigas pra sempre. — disse pegando na minha mão.

— Obrigada Julia, o seu apoio é muito importante. — eu disse emocionada. — Eu também amo você, amigas pra sempre. — disse e a abracei.

E foi naquela noite que eu tive certeza que nada nunca abalaria a nossa amizade. Mas um dia eu saberia que isso não seria tão verdade assim.






Notas Finais: Essa fic é uma adaptação da fic rosattaz da @daroittaz porque só vi uma fic de naju até agr e não quero sofrer sozinha 🥲!

Minha Melhor Amiga - NajuOnde histórias criam vida. Descubra agora