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2003, Miami.

Os anos haviam passado e eu tive que enterrar meus sentimentos lá no fundo do meu coração, tive que ver ela se envolvendo com todos os tipos de caras daquela faculdade, não podia demonstrar meus ciúmes, afinal eu não tinha nenhum direito sobre ela.
Eu sofri em segredo, enquanto ela curtia a vida, eu me afundei nos estudos e não me permiti entrar em mais nenhum relacionamento, não queria que acontecesse o mesmo que houve com Camila a anos atrás. O máximo que eu fazia era passar a noite com alguém, apenas para saciar os desejos do corpo, sem perguntar nome, telefone ou endereço.

— Não acredito que vamos nos formar. — Júlia deu um gritinho ao se olhar no espelho.

Ela estava tão linda usando um vestido preto que realça seu corpo, eu poderia ficar horas apenas a admirando.

— Você está linda. — afirmei sorrindo.

— Ow, obrigada Nai.— sorriu agradecida. — Você está ainda mais deslumbrante.

— As mulheres vão cair em cima. — ela disse rindo e passando a maquiagem.

— Pena que a mulher que eu quero não me quer. — sussurrei apenas para mim.

— Disse algo? — ela perguntou virando-se para mim.

— Não, pensei alto. — ri sem jeito. — Agora anda logo que daqui a pouco a cerimônia de formatura começa e a gente ainda nem chegou.

Decidimos que seríamos uma o par da outra na formatura. Eu não queria escolher ninguém, ela tinha vários pretendentes é claro, mas preferiu ficar comigo.

— Obrigada por ser minha acompanhante. — eu sorri. — Seria um horror ficar sozinha. — confessei.

— Eu nunca te deixaria, amigas são pra essas coisas. — ela me deu um beijo demorado na bochecha, e eu senti como se milhares de borboletas voassem pelo meu estômago.

Meus planos era que quando voltássemos para Seattle, eu criasse coragem para revelar meus sentimentos.
Nos divertimos bastante na festa de formatura, meus pais e minhas irmãs vieram assim como o pai de Júlia, sua madrasta e o irmãozinho.
[...]

2004, Seattle.

Havia se passado três meses após a formatura. Eu estava morando temporariamente na casa dos meus pais até juntar dinheiro o suficiente para dar entrada na minha própria casa. Consegui emprego em uma multinacional como advogada e estou muito feliz com isso, enquanto Júlia estava trabalhando na empresa de seu pai.
Era sábado e eu a convidei para irmos jantar em um restaurante. Eu já havia tomado minha decisão; iria me declarar para ela. Mesmo com muito medo de perder a amizade dela, eu percebi que já estava na hora de revelar meus sentimentos, pois já não aguentava mais viver escondendo aquilo.

— Uau, aqui é lindo. — ela disse assim que entramos no restaurante. — É meu aniversário e eu não sei? Por isso me trouxe aqui. — brincou.

— Para de ser boba Kudiess, você merece, eu quis te fazer um agrado. — eu disse sorridente.

Fomos levadas até a mesa que já estava reservada. Ela usava um vestido vermelho bem forte e o batom combinando, e o seu sorriso, como seu sorriso estava mais lindo ainda com aqueles lábios vermelhos. Meu coração estava acelerado e minhas pernas trêmulas, mas eu sabia que havia chegado a hora.
Sentamos e fizemos nossos pedidos, e para beber eu pedi um vinho recomendado pelo garçom.

— Você está podendo demais pra tá gastando assim comigo, Naiane. — riu.

— Você merece, e hoje vai ser uma noite especial.

— É, porque? — perguntou curiosa.

Sua mão estava em cima da mesa, então resolvi colocar a minha por cima da dela e a olhei nos olhos, pronta para começar a me declarar.

— Júlia, eu... — fui interrompida.

— Júlia Kudiess, é você? — uma voz masculina veio por detrás de mim.

— Guto? Não acredito. — ela riu e tirou sua mão de cima da minha, e levantou-se às pressas para cumprimentá-lo.

— Que coincidência te encontrar por aqui, desde que me formei nunca mais nos falamos. — ele falou olhando ela de cima a baixo, e obviamente aquilo me fez ter ciúmes.

— Guto essa é a minha melhor amiga Naiane, e Nai esse é o Gustavo um amigo da faculdade, ele fazia medicina.

— Prazer. — eu estendo a mão e ele aperta. — Está passeando por Seattle? — perguntei.

— Oh não, estou fazendo residência em um hospital aqui perto. Grey-Sloan, conhece?

— Oh sim, conhecemos. — Rosa se apressou em confirmar. — Está sozinho? — questionou olhando para os lados.

— Estou sim, esse é o melhor restaurante da região e resolvi aproveitar a minha folga e comer uma boa comida. — ele sorriu.

— Então senta aqui com a gente, né Carol?! — ela ofereceu olhando para mim com aquela cara de pidona que eu não sei dizer não.

— Claro, junte-se a nós. — fingi empolgação.

E lá se foi a minha noite de declaração, porque a partir daquele momento para Júlia só existia Gustavo, ela mal prestou atenção em mim.
Quase duas horas depois quando fomos embora, no meu carro - que papai me deu de presente de formatura - ela não parava de falar sobre ele. O quanto ele era lindo e gentil, e que na época da faculdade eles chegaram a ficar em uma festa e até trocaram número de telefone. E quanto mais ela falava dele, mas eu me senti triste porque sabia que mais uma vez eu teria que guardar meus sentimentos para mim, pois ela nunca sentiria algo por mim além da amizade.
[...]

2019, Seattle.

Eu então peguei uma foto nossa que estava guardada na caixa, era antiga, éramos adolescentes.
— Nessa época eu ainda não sabia que te amava, mas já sabia que você era a pessoa mais importante da minha vida. — sorri olhando para a foto. — Quantas saudades dessa época. — suspirei e a guardei de volta junto com o diário. — Amanhã eu continuo a ler.

Minha Melhor Amiga - NajuOnde histórias criam vida. Descubra agora