Capítulo 04

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Terror💥

O café da manhã na casa da Julia foi bom. Ela é a única mina aqui do morro que a todos os moleques tem apego, sem maldade, ele é mulher do meu parceiro, já quis pegar ela, já, mas isso foi antes deles dois tomarem um rumo na vida.

A amiga da Julia ainda me intriga, sinto que conheço a garota, mas não sei, pode ser qualquer uma, o morro tem muita gente e muitas podem ser parecidas. Durante o café, Manuela, Branco e Th, ficaram em um assunto inerte, eu nem abri minha boca. Mas depois que ela saiu comecei conversar com o pessoal e até que foi bom o começo do dia.

Depois de sair da casa da Julia, peguei minha moto e vim pra boca, RN me avisou que já tinha tudo sobre a garota, puxei Branco e Th comigo, não pago ninguém pra ficar de bobeira.

— É sério que você tá investigando a amiga da Juh? — Branco, pergunta sem acreditar.

— Não confio nem na minha sombra, muito menos em quem nunca vi. — Repondo e me sento na cadeira vendo a pasta com os papéis. — Branco, vai pro asfalto, hoje é dia de cobrança. — Aponto pra ele que sai da sala sem questionar.

— Sabe que a Juh vai ficar puta, quando descobri o que está fazendo. — Th, diz e se senta no sofá.

— Foda-se, é a minha favela. Tenho que estár de olhar até nas almas penadas.

— Tem medo de morto mano? — Th, pergunta e ri alto.

— Eu tenho medo dos vivos!

Olhos os papéis na minha mesa, a ficha da garota é extensa, mas não tanto quanto imaginava. Olho tudo sobre ela, nome completo, idade, nascimento, nome da mãe, o pai é desconhecido. Ela nasceu aqui no morro, morou aqui e foi embora, entre outros coisas.  Continuei lendo tudo sobre ela, até meus olhos pregarem no final da folha, casada com Alexandre Oliveira Alves, 1°tenente do exército.

— Filha da puta! — Grito puto, e Th me encara sem entender. — Eu mato essa desgraçada! — Levanto da mesa e saio da sala sem dar explicação pra ninguém.

Sinto meu sangue ferver e meus olhos fulminar ódio, essa vadia é a filha da puta de uma X-9. Pego a moto e subo o morro parando em frente à casa de Julia, meus olhos transbordam ódio, os meninos que fazem a segurança da garota, já me encaram assustados. Entro na casa que nem bala vai me pegar.

— Terror? Tá fazendo o que aqui? — Juh, pergunta fazendo Manuela me olhar.

— Meus assuntos são contigo! — Aponto para a garota que olha sem entender.

— O que você está falando Terror? — Julia pergunta sem entender nada.

— Você sabe… — A morena diz baixo, mas ouço. Solto um sorriso de lado.

— Nada fica sem passar por meus olhos, garota.

Me aproximo dela com um sorriso irônico no rosto. Fico próximo dela a ponto de sentir sua respiração pesada, seguro seus braços com força e a encaro fulminado ódio.

— Que porra você tá fazendo Terror? — Julia, me pergunta desesperada. — Solta ela.

— Essa filha da puta é uma x-9. — Encaro a cacheada que me olha assustada. — Casada com o tenente do exército que tem ligação com o BOPE.

— Solta ela Terror. — Julia, começa a bater em meu braço sem se preocupar com o que falei. — Ela não é uma x-9!

— Você sabia? — Encaro a ruiva que abaixa o olhar. — Porra Julia. — Solto a garota que não diz uma palavra.

— Ela é casada com o Alexandre sim, mas está vendo esses hematomas e marcas nela? Pois é, foi aquele filho da puta que fez. — Julia explica, abraçando a menina que começa a chorar como se fosse uma criança de colo. — Ela não tem culpa de ter casado com um psicopata sem escrúpulos.

Olho o rosto da morena e agora entendo o porquê das marcas, roxos e hematomas do seu rosto quando chegou aqui, mas ainda sim, não confio, não posso confiar, muitas coisas aconteceram e as pessoas fizeram com que eu deixasse de confiar nelas.

— Eu espero que eu não tenha problemas com os vermes, porque se tiver, a tua amiguinha já está prometida a morte! — Aviso a Julia que me encara com raiva. — Pode ficar com raiva Julia, meu morro vem em primeiro lugar. — Digo por fim saindo dali.

Não dou nem três passos até a porta quando a voz calma e falhada me chama. Essa voz não me é estranha, nada dela me é estranho, mas não consigo lembrar de onde conheço tudo isso.

— Espera, por favor! — A voz ela me faz parar no caminho, mas não me viro para encará-la. — Eu preciso de ajuda, por favor. — Ela diz baixo e cansado.

— Não fazemos favores garota, deveria saber disso. — Respondo seco, mas não me movo do lugar.

— Eu sei que não, mas faço o que for necessário, pago o quanto você quiser, mas preciso de proteção. — Viro a cabeça e encaro ela que está assustada, mas ainda sim com um olhar firme.

— O que está fazendo? — Julia pergunta pra ela sem entender e a morena começa a se aproximar de mim sem um pingo de medo.

— Ele vai vir atrás de mim, independente do que eu faça, eu não quero voltar pra ele, eu não quero acabar morta, eu preciso de ajuda. — Me viro para ela e seus olhos encaram os meus sem nenhum medo. — Eu quero poder recomeçar minha vida sem medo daquele maldito que acabou com todos os meus sonhos.

Ela continua a falar e olho por cima dos seus ombros, observo Julia que tem um certo vacilo em sua expressão. Ela me encara como se pedisse piedade por sua amiga, mas isso eu não tenho.

— Não fazemos caridade morena, a prefeitura fica do outro lado da cidade. — Debocho e Juh me encara puta.

A garota baixinha se aproxima de mim com determinação no rosto.

— Não estou pedindo pra fazer uma caridade, eu pago se for preciso. Mas sei como é a lei aqui dentro da Rocinha, e você como chefe deveria saber também! — Ela me encara com frieza e sinto reconhece esse olhar frio.

— Abaixa tua bola, que você não tá no mesmo patamar que eu. Eu conheço muito bem a lei da minha favela, é bom você baixar essa tua cristã, por que aqui tu não tem moral. — Aponto o dedo em seu rosto, mas a garota não abaixa o olhar.

Vejo seu peito estafar e ela se aproximar ainda mais, há baixinha você gosta de um perigo em?

— Terror, vai embora por favor? — Julia murmura atrás da amiga.

— Sou mulher o suficiente pra enfrentar um homem, enfrento ou policial ou um traficante, a minha bola só vai abaixar quando eu receber o mesmo respeito que estou lhe dando. Não estou pedindo um favor, estou fazendo uma oferta, proteção por dinheiro. — A garota, diz sem um pingo de medo.

Abaixo meu dedo e solto uma risada irônica.

— Eu vou pensar no teu caso. — Me viro já saindo, mas volto a olhar para trás. — Mais uma coisa, se continuar com essa sua marra toda, vai morrer rapidinho, eu deixei passar essa, mas dá próxima, meto uma bala no teu crânio! — Aviso e saio da casa de Julia batendo a porta com força.

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