Capítulo 07

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Manuela🌹

Sinto meu peito arder através das lágrimas, sinto tudo à minha volta rodar. Uma angústia, um desespero, uma fadiga tão grande, eu odeio esse sentimento, odeio essa sensação. Alex foi quem invadiu, mas sei que ele só invadiu para deixar um aviso, ele é do BOPE e sempre me interessei por tudo voltado a polícia, sei muito bem que eles jamais invadiriam o morro para deixar Terror vivo, mas ele não queria Terror, ele queria a mim e não sei mais o que fazer para me livrar dele.

— Manuela... Manu, ei... — Julia chama minha atenção e olha para ela, a vontade de chorar invade meu peito de novo. — Você está segura Manu, te garanto que Alex não vai te machucar mais.

— Você não pode me garantir isso Júlia. Não queria colocar nenhum de vocês em risco.

— Meu amor fica calma. Você não nos colocou em risco nenhum, a partir do momento em que assumimos te proteger assumimos também o risco de enfrentar o BOPE ou caralho a quatro. Somos o tráfico Manu, isso não nos assusta. — Júlia me abraça e deixo as lágrimas rolarem para tentar me acalmar.

— Eu... Sinto muito... — O soluço encurta minha voz.

— Fica tranquila, está tudo bem. Iremos te proteger e o filho da puta do Alexandre vai rodar e você vai ser livre.

Levo suas palavras para o coração como forma de finalmente conseguir acreditar cem por cento em alguém. Mas depois de tantos anos mal consigo acreditar em mim mesma quem dirá nos outros que estão chegando agora na minha vida. Me sinto mal por tudo isso, por sentir isso e por permitir que tudo isso aconteça.

A noite caiu rápido, Júlia ficou a maior parte do dia comigo conversando e me consolando e tentando me aconselhar. Ouvi seus conselhos, mas sei que os causei muitos problemas e isso se tornou ainda pior quando o terror apareceu aqui pedindo para Julia descer para boca para fazer o relatório das baixas dos mortos. Ele não expressou raiva em nenhum momento comigo, até chegou perguntar se eu estava bem, mas sei que todos os problemas causadas aqui são por minha culpa, e agora entendo o que Alex dizia “Voce é o próprio estrago Manuela, por onde você passa, você deixa uma destruição sem fim”. Eu sou o próprio estrago.

Fecho a mochila com a última roupa minha e vou até a porta do quarto, olho em volto e não vou negar que os últimos dois dias aqui me trouxeram aventuras que jamais havia vivido em toda minha vida. Julia não está em casa desde cedo então é minha brecha para ir embora sem muitas desconfianças. E passar pela segurança vai ser fácil, os meninos estão na troca de turno então vou ter breves segundos para descer sem ninguém perceber.

Solto um suspiro alto e saio do quarto fechando a porta atrás de mim, desço as escadas da casa o mais rápido possível e logo vou para a porta, abro uma frestinha e vejo que nenhum dos seguranças estão lá, saio da casa e sinto o vento gelado bater em meu corpo, não posso dar vestígio de estar fugindo e o shorts que uso não colabora com minha fuga também.

Fecho a porta da casa e desço o morro tranquila, porém não posso deixar de pensar no que vou fazer agora. Por mais que eu tenha colocado a vida de todos aqui em risco, eu ainda teria a proteção do pessoal caso Alex tentasse alguma coisa, mas agora não terei mais isso, será eu por eu mesma. Pensa Manuela, pensa... Você é um mulherão, você nunca abaixou a cabeça, nunca se rendeu e vai deixar seu ex maluco te fazer surtar agora.

Termino de descer a ladeira e ao chegar na barreira, fecho os olhos tentando ter certeza de que é isso que quero, mas não é isso que quero, mas é preciso. Me aproximo dos meninos da barreira, mas mal tenho tempo de falar alguma coisa, o ronco alto da moto que é fácil de se ouvir do Leblon e a luz branca piscando me proíbem de terminar de descer.

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