3 -10 anos antes

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-Lory, você não vai acreditar!

-Não Gabriel, não... outra maluquice não.

-Calma garota. Alex está perguntando sobre você para todos os nossos amigos em comum.

- É sério que esse babaca não lembra que já estudamos na mesma sala?

- Ele está achando que você é aluna nova.

- Inacreditável!

Gabriel é meu melhor amigo desde sempre. Alto, olhos escuros como a noite, sorriso radiante como o sol, cabelo cacheado e preto, pele negra, macia como bumbum de bebê; nos conhecemos em um acampamento da igreja e desde então não nos separamos para nada.

-Finalmente encontrei você.

Conheço essa voz. Suave, rouca, firme e sínica.

-Oi Alex, quanto tempo.

- Então você sentiu minha falta!?

-E por acaso eu teria motivos para isso?

- Afetuosa, como sempre.

Um silencio constrangedor invade os corredores da escola; não sei porque eu sou tão cruel com ele, talvez seja uma forma de defesa.

-Lory, eu queria te chamar para sair.

- Hum, deixa eu adivinhar. Na sua cabeça era para eu estar lisonjeada por você ter me chamado para sair e sou obrigada a aceitar?

-Quase isso.

- Petulante.

-Vai ser legal. Tem música, comida, paisagem... eu só estou te pedindo uma chance.

Gostaria de entender que efeito é esse que esse garoto tem sob mim, eu não posso, não quero sair com ele; mesmo assim, vou. Faz muito tempo desde o Gael e eu prometi a mim mesmo que faria as coisas diferentes; é meu último ano, vou aproveitar; viver o presente e deixar o futuro para depois, o que de tão horrível poderia acontecer?

-Ok. Me encontre as 14:00, não posso sair à noite.

Chego em casa e mal consigo raciocinar, vou ter um encontro. Depois que namorei Gael, as coisas não deram certo por causa da minha família; controladores, paranoicos, abusivos, já falei controladores? Gael merecia uma garota com a vida mais tranquila, onde não precise levar um primo ou irmão para ir à igreja enquanto estava com ele. Terminei para seu próprio bem e doeu muito, não me permito sentir esse tipo de dor novamente.

Tenho que almoçar, tomar banho, escolher uma roupa, inventar uma desculpa para minha mãe, pisar em ovos com meu pai, entrar no msn e não esquecer de excluir o histórico do computador.

Como rapidamente um miojo, escovo os dentes e corro par ao banho. Minha mãe ainda não está em casa, o que me dá uma vantagem em pensar na desculpa perfeita.

Blusa preta, Short xadrez, all star, cabelo solto, perfume, protetor solar, base, gloss e rímel.

- Onde você pensa que vai?

- Oi mãe, tenho aula de reforço, você poderia me dar carona?

Sorte a minha realmente ter aulas de reforço na escola.

- Qual matéria?

- Matemática.

-Ok, te levo. Jasminie vai com você?

-Ela vai me encontrar na escola.

-Toma cuidado com essa menina, não confio nela.

-Isso já é coisa da sua cabeça, mãe.

Dou uma última conferida no espelho, confiro se não estou esquecendo nada, levo a mochila para disfarçar e jogo o perfume dentro, se eu passasse perfume em casa, ela desconfiaria que eu fosse fazer algo. Entro para dentro do carro e a espero.

No caminho, quase não conversamos. Não me sinto à vontade em conversar sobre minha vida com ela e estou muito nervosa para pensar em um assunto para jogar conversa fora.

Chegando na escola, o nervosismo toma conta de mim; espero minha mãe virar com o carro até que suma das minhas vistas e vou de encontro a Alex.

Estou no local combinado e já se passaram 10 minutos, já começo a achar que ele desistiu; me viro para procurar um lugar com sombra e sinto suas mãos agarrar minha cintura por trás.

- Desculpe o atraso, comprei esse salgadinho para você não ficar com fome.

-Cebola e salsa. Meu preferido, como sabia?

- Não sabia, é o meu preferido também.

Nos sentamos para conversar, debaixo de uma arvore o que deixou o encontro com clima de piquenique.

O sol estava bem quente naquela tarde; pássaros cantando, uma brisa suave balançava meus cabelos, tudo estava perfeito.

- Eu pensei em você a semana toda.

- Talvez eu tenha pensado em você algumas vezes.

- Impossível não pensar em mim, Lory

- Na realidade eu era obrigada a pensar, já que me chamava para conversar todos os dias durante 2 meses.

- Só estava jogando conversa fora.

-E eu respondia por educação.

- Meiga, como sempre.

-Vai abrir o salgadinho ou vamos ficar olhando para ele?

Conversamos por um bom tempo. Ele fazia com que eu me sentisse a vontade; era como se não existisse problemas, ele fazia tudo ficar bem e nem se esforçava para isso.

Conheci todas as suas inseguranças e eles as minhas; descobrimos o que o outro gosta, o que não gostamos, realmente nos conhecemos e tem algo nele... não sei explicar. É bom.

-No que está pensando? - Pergunta Alex com o tom de voz suave, sorriso de lado, me encarando, se aproximando...

Está se aproximando de mais. Minhas mãos começam a suar frio. Meu estomago está se revirando.

Suas mãos vão em direção ao meu rosto, tirando minha franja dos olhos, me encara com afeto e me beija.

-Eu estava querendo te beijar tem muito tempo, Lory.

-Então por favor, não pare.

-Vou colocar uma música para gente.

Estamos sentados debaixo de uma arvore, nos beijando e é como se meu mundo estivesse congelado naquele momento, não ouvia mais nada além de sua respiração ofegante e aquela música.

"e quando você conversa e me beija, ao mesmo tempo eu vejo as suas cores do seu olho tão de perto; me balanço devagar, como quando você me abraça, o ritmo rola fácil... parece que foi ensaiado... eu acho que eu gosto mesmo de você, bem do jeito que você é..."

Uma vida em que estou com vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora