Uma vida em que estou com você

11-10 anos antes

Sábado é um dia tão monótono, não tem aula, não tem Gabriel, não tem Alex, tenho apenas minha família.

Warley está de folga, o que faz tudo piorar. Acordei 2 horas mais cedo do que eu costumo acordar e arrumo a casa, deixo tudo limpo, sem nenhum defeito. Minha mãe só tem o fim de semana para descansar, então a ajudo com tudo que posso.

Ao terminar, me deito e tento pegar no sono até umas 9 da manhã, também mereço um descanso, mas durmo mais do que o previsto, são 11 horas e escuto gritos e a porta do meu quarto bater na parede

-Não criei mulher para ficar vagabundando, não vai fazer nada nessa casa? - Grita Warley, me assustando e tirando minha coberta de um jeito agressivo.

Não respondo.

- Além de preguiçosa, é muda?

Sinceramente, não sei porque sou o seu saco de pancadas, mas prefiro que seja eu, do que os meus irmãos, que o veem como um herói.

Me levanto lentamente, arrumo meu cabelo, passo por ele e vou ate o banheiro para lavar meu rosto, processar o que estava acontecendo. Encosto a porta e me abaixo para ir de encontro a água da torneira, quando sinto um liquido quente escorrendo na lateral da minha sobrancelha juntamente com uma dor aguda.

- Quem você pensa que é, para passar assim por mim? – Diz Warley, logo depois de socar a porta com tanta força, que veio de encontro a lateral do meu rosto, causando um corte.

Sinto o sangue escorrer em meu rosto, levo minha mão ao ferimento e é coberta de sangue, vejo tudo girar, tenho pavor de sangue, minhas vistas falham, minhas pernas tremem, ouço vozes de longe e me vejo ao chão, com uma dor forte na cabeça, não vejo mais nada.

Ao acordar, me deparo em um quarto branco, janelas fechadas, minha mãe ao meu lado, sentada, meus irmãos com minha vó no outro lado da sala, entro em pânico, começo a gritar quando vejo uma agulha em meu braço, grito e não paro nem ao sentir meus pulmões queimarem, minha garganta arder,

-Só tirem isso de mim, por favor. - Grito constantemente

Sinto o pânico me invadir, a ansiedade me atacar e de repente, fui dopada e adormeço.

Sinto que nunca vou conseguir ser feliz, morando com Warley, sempre vou estar sujeita a passar por essas situações, não importa o que eu faça. Tanta coisa que já fiz, só para me sentir aceita por ele e sempre recebi o contrário.

Me encontro acordada novamente, dessa vez sem agulhas, tento ficar mais calma, mas meu coração acelera. Vejo meus parentes no quarto, me olhando com um olhar de pena, o que odeio.

-Trouxe isso para você, aqui não tem o que você gosta. – Diz meu irmão mais novo, me entregando um copo com leite com toddy.

Me derreto, porque em todo a esse caos, meus irmãos fazem tudo ficar bem.

- Tem um número que não para de ligar. -Diz minha mãe, me entregando o meu celular.

Fico feliz de ela ter lembrado de trazer meu celular, mas no fundo eu sei que foi por medo de Warley pegar e ver que converso com meninos. Seria o meu fim.

Me inclino para pegar o celular, sinto que minha cabeça explodir, o que aconteceu comigo?

22 chamadas perdidas de Gabriel, não me sinto confortável em conversar por ligação perto da minha família, então entro no facebook.

Lory: Desculpa não ter respondido, estou no hospital.

Gabriel: Está tudo bem?

Lory: Esta, só bati a cabeça

Gabriel: como assim? Alex sabe? Me manda sua localização

Contei tudo para Gabriel e em menos de 10 minutos, ele, Alex e o time inteiro de futebol está parado do lado de fora, aguardando para me visitar, com balões, flores, chocolates e bichinhos de pelúcia e de repente, não me sinto mais sozinha no mundo.

- Não sabia que você tinha amigos - Diz meu irmão do meio.

-Eu também não – respondo

Fico nervosa, pois minha família está aqui, incluindo Warley. Fico ansiosa, procurando Gabriel com olhar, torcendo para ele ter explicado a Alex como meus pais são e ele me tranquiliza, fazendo o gesto com a mão, dizendo que está tudo bem.

- E quem são vocês? - Pergunta Warley, com um tom de voz impressionantemente super amigável. Ele tem esse dom, ser gentil e educado om todos e me tratar feito lixo em casa.

-Boa noite senhor, somos o time de futebol, hoje era dia de jogo e a Lory era a fotografa responsável, estava valendo nota então como ela não compareceu, Gabriel resolveu fazer o trabalho duro sozinho. -Responde Alex.

- E como vocês souberam que ela estaria aqui? -Questiona Warley.

- O irmão dela me avisou que ela estava doente e não poderia comparecer, me mandou a localização para ver se ela estava bem – Responde Gabriel

- É, ela escorregou no banheiro quando saia do banho e bateu a cabeça no vaso. -Disse Warley, me olhando nos olhos. -Vou deixar vocês conversarem, estaremos ali ao lado.

-Obrigado, não vamos demorar. -Diz Alex

-Então Lory, vou enviar as fotos por e-mail, mas tenho que te mostrar antes- Diz Gabriel disfarçando, até que minha família saia do quarto

-Barra limpa, galera. - Diz Marcos do lado de fora do quarto, esperando para entrar; só era permitido 3 pessoas por vez.

-Amor, o que aconteceu? – Pergunta Alex, se aproximando para me dar um leve beijo.

Conto tudo que aconteceu, vejo a fúria nascer em seu olhar.

Ele e Gabriel e entreolharam, saem sem ao menos dar explicação. Fico perdida, mas não tenho tempo de questionar, Marcos, Gael e Josias entram, conversamos, ganho presentes e foi assim com todo o resto do pessoal, até Jasminie apareceu.

Quando todos conseguiram me visitar, Alex e Gabriel voltam.

- A gente precisava descarregar a raiva, se ficássemos aqui, a cara do seu pai seria o alvo. -Diz Alex, com os olhos marejados.

-Gente, está tudo bem... -Digo segurando o choro.

-Lory, não está. Por causa dele você teve uma concussão, levou pontos...-Diz Gabriel com olhos cheios de lagrimas

-Para Gab, eu não posso chorar na frente dele- Digo, segurando sua mão.

-Vou te tirar dessa vida, Lory. Prometo. -Diz Alex, com a voz abafada, tentando ser forte o bastante para segurar o choro.

Imagina se eles soubessem de tudo.

- É melhor vocês irem, não quero ter motivos para brigas mais tarde- Digo.

-Você vai ficar segura? - Pergunta Alex

-Ele não faz nada perto da minha mãe. - Respondo.

Eles saem, Warley aparece, antes que Alex e eu pudéssemos nos despedir.

Só quero meu quarto, ficar sozinha e chorar.

Alex e Gabriel viram em meu rosto o quanto estar no mesmo ambiente que Warley me afeta, eu não tenho com o que me consolar, descontava em meus braços, era meu refúgio emocional, não me orgulho. Não tenho para onde fugir, tenho que engolir tudo e calada, por medo que ela faça o mesmo com meus irmãos.

Em casa, a maior parte do tempo, eu chorava escondida, torcendo para minha felicidade chegar e então Gabriel e Alex a fiez chegar e quando eu chorava, eles me salvavam de mim.