4 -Hoje

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-Desculpa o cartão molhado, não imaginava que choveria a tarde.

-Você comprou um cartão para mim!

-Eu ia comprar um buque de tulipas, mas...

-Eu sei, muito caro!

-Mas preferir comprar seu lanche favorito, porque com fome, você fica insuportável-Responde Alex com os braços abertos, esperando por um abraço- Lory... eu senti tanta saudade de você.

Me abraçou apertado, com um gesto desesperado. Saudade mutua, ele se entregou para mim.

- Senti tanto a sua falta que quero chorar, Alê.

Eu estava perdida na escuridão, até que o encontrei, ou melhor, ele me encontrou. Quando cai, ele me pegou... nunca vou deixa-lo ir novamente, mas no final, quem sempre vai embora sou eu. Será que tudo que quero, é pedir demais?

-Já pode me soltar agora Lory.

-Eu decido quando o abraço acaba.

Sinto falta dos dias que éramos jovens e bucólicos.

-Fim. Para onde você vai me levar?

-Para casa; você precisa de um banho, comer uma comida de verdade, porque tenho certeza que só comeu porcaria, e descansar. Amanhã temos o dia todo e eu já planejei tudo, vai ser perfeito.

No caminho para casa, o vejo dirigir. Ele está tão diferente, mas ainda é o mesmo; Agora está usando óculos (graças a Deus não é o do restart) precisei insistir muito para que ele fosse ao oculista, teimoso.

Estou o observando dirigir tem um bom tempo, não consigo parar de olhar para seus olhos castanhos. Sinto tudo de novo e estou assustada; maldito olhos castanhos.

- Você vai ficar parada me olhando sem falar nada igual uma psicopata?

- Não estou te olhando, convencido. Estou observando a paisagem do seu lado do carro.

Rimos.

- Como foi a viagem?

- Eu não sei dizer, o tempo que estive acordada foi para lanchar, tirar fotos e ir ao banheiro.

- Senti sua falta. Estou feliz com você aqui.

- O que você tem feito, Alê?

-Além de trabalhar bastante? Tentei fazer o curso de inglês, mas não tive paciência.

Rimos.

Amo quando rimos juntos, a gente se conecta; amo aquele sorriso; amo aqueles parênteses que se formam nas laterais da boca quando ele sorri;

- Lembra quando a gente se encontrava no bolinha

- Sim... as vezes eu passo lá, mesmo que tenha fechado, era nosso lugar.

- Nosso lugar.

- E você, já encontrou seu lugar com alguém onde mora? Lembro que você estava saindo com um cara...

Eu e Alex somos complexos. Passamos da fase onde tínhamos uma amizade colorida e aquela coisa de quem se ama, mas não assume o que realmente sente; evoluímos para esse amor que nem tem explicação. Ele me conta dos casos dele e eu conto dos meus quase amores de um dia e, por dentro, morro de rir quando ele fala "Ah, ela é muito inocente, não consegue me entender" e me olha como quem diz que só eu o compreendo e, meu peito aperta que chego a ficar sem ar quando ele me pergunta o que aconteceu com o cara que eu estava pensando em me envolver. Ele também ri internamente (ele não é de demonstrar emoções) quando digo "ah nem preciso tentar, meu sexto sentido me alerta quando não vai dar certo" ou então falo "ele não entendeu nada" e o olho com tanta saudade... Na maioria das vezes, ele também não entende, talvez um dia vá, mas o nosso "nó" nos traz de volta.

- Não estava saindo, foi só um beijo de tinder.

- Tinder.

Ele recebe uma mensagem no celular e eu me prontifico a olhar, como o de costume, mas dessa vez, ele reage de maneira estranha e não me deixa ver o que estava escrito e nem quem enviou. Somos melhores amigos, ele não me esconde nada...

Nossos olhos se encontram por alguns segundos enquanto esperamos o sinal liberar e sinto meu coração bater fora do peito, quase tive a certeza que ele escutaria o quão disparado estava. Esses olhares, é um dos momentos que quero guardar na gaveta de lembranças boas que tem dentro do meu cérebro e abri-la sempre que eu sentir sua falta, aliás, estou sentindo agora e não sei se é possível. Ele está do meu lado dirigindo, mas estou com saudades.

- Não vai responder à pergunta?

- Não tenho o meu lugar com ninguém, estou esperando você ir me visitar e ter um lugar seu. Nosso.

- Gramado é uma cidade linda, talvez um dia eu te visite.

Talvez em uma outra vida, um universo paralelo, a gente teria dado certo e eu não seria aquela que sempre vai embora.

- Estou saindo da minha linda cidade luxuosa para vim te ver em Uberlândia, você vai sim, me visitar.

- Vamos fazer uma pequena parada e almoçar aqui?

- Pode ser.

Ele sai do carro e eu fico, olho meu reflexo no espelho que tenho na bolsa para conferir se está tudo ok, despois dos 16 anos, sempre fui exigente com minha aparência; o bullying muda as pessoas. Quando estou prestes a colocar a mão na maçaneta, ele abre a porta do carro e me estende a mão para me ajudar a descer e fica estranho pois já desci tem uns minutos e ele não soltou a minha mão, não diz nada, seu olhar se mantem fixo para o horizonte.

-Alex, está tudo bem?

- Está. Podemos ficar aqui um pouco?

-Sim.

Ele me puxa para perto segurando minha cintura, seu rosto se aproxima o suficiente para que eu sinta seu hálito e sentimentos tomam conta de mim; seus dedos caem sob a pele do meu rosto, pausadamente, se deslisam pelas minhas sobrancelhas, lábios, cabelo e por fim, me abraça.

O silencio nos domina. Não quero que isso acabe, então permaneço imóvel. Não sei o que ele quer me dizer, palavras nunca foi seu ponto forte, gestos sim; o sinto se afastar, gentilmente segura meu rosto e me olha nos olhos.

- Lory, me desculpe. Diz desamparado e com remorso nos olhos- Tenho que te apresentar uma pessoa.

- E porque eu tenho que te desculpar por isso?

Uma garota se aproxima; cabelos longos, olhos verdes, linda! Não acredito...

-Lory, essa é Jasminie, Jasminie essa é Loren.

- Oi, sou a namor...

- Minha amiga. – Interrompe Alex.

- Já nos conhecemos.

Amigos também podem partir seu coração...

Uma vida em que estou com vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora