Uma vida em que estou com você

9-10 anos antes

 Meu despertador toca, o sol invade minha janela, me vejo obrigada a levantar da cama, nem que seja para fecha a cortina. Não tenho forças; depois do eu aconteceu ontem, eu só quero ficar na cama, sem contato com o mundo lá fora. O que me dá forças par levantar é meus irmãos, dependem de mim para o café; minha mãe sai cedo para o trabalho e meu pai chegou em casa de madrugada, então a responsabilidade de acordá-los, alimentá-los e coloca-los no ônibus, é minha.

- Porque está com essa cara? - Pergunta meu irmão mais novo, enquanto se senta para tomar café.

Como vou explicar para uma criança de seis anos que um babaca partiu meu coração na tarde anterior? Por mais que ele seja inteligente, é muito novo para entender esse lado feio da vida. Simon é uma criança adorável, fofinho, cabelo liso, sobrancelhas grossas, pele clara, somos muitos parecidos, tanto na aparência e tanto no temperamento e personalidade.

- Bom dia, o que tem para o café hoje? - Pergunta Darcy, meu irmão do meio.

Darcy e eu não nos parecemos tanto, ele é mais carinhoso, eu sou mais seca, mas o amo com todo meu coração. Tem um cabelo mais claro que o meu, ondulado, nariz mais achatado, um amor de criança. A maioria das vezes, nos desentendemos, mas, nos acertamos sempre.

- Hoje vai ser bolo, leite, café, o que vocês sentirem vontade de comer, só não suja o uniforme e não se atrasem, quando o celular tocar, aperte o botão vermelho imediatamente e vão escovar os dentes. Não falem alto, papai está dormindo. Estou no meu quarto me arrumando.

Ao me virar, dou de cara com meu pai, que já está impaciente no corredor, consigo ver sua mente a mil por hora procurando algo para criticar, acho difícil que dessa vez ele consiga, os meninos estão de banho tomado, cabelo arrumado, uniformizados, tomando café. Warley tem problemas de raiva, somos muito parecidos, mais do que eu gosto de admitir. Tem um coração enorme, mas parece não me aceitar como filha.

- Mas que bela irmã de merda é você, Loren. -Diz com tanta rispidez, imediatamente olho para os meninos, procurando o que tem de errado dessa vez. – Você ia deixar os dois sozinhos tomando café? - Continua- procurando motivos para uma briga.

- Warley, não estou com tempo para isso agora. - Digo me virando de costas para ele, pois o despertador toca e não quero atrasar nem a mim e nem os meninos.

Sinto sua mão agarrar meu cabelo, me puxando para trás, enquanto me sufoca enfiando um pedaço de bolo na minha boca, com sua outra mão, gritando em meu ouvido.

- Queria que eles se engasgassem assim, não é? Você é uma inútil.

Eu não sei o que fez para ser alvo das crises de raiva do meu pai, odeio que ele seja o cara que minha mãe escolheu para ser pai de seus filhos.

Quando estou jogada ao chão, Darcy se joga em minha frente, pedindo para que ele não me batesse, enquanto Simon sai assustado para o banheiro. Sempre o instrui para que se algo o assustasse, ele se escondesse. E foi o que ele fez. Temo pelo dia que nosso pai não desconte a raiva somente em mim, não suportaria ver os meninos passando por isso, então sempre os instruir como agir, como pisar em ovos, como fingir, até mesmo como mentir. Por um instante, parece que Warley se dá conta do que está fazendo, e se afasta.

- Vem, papai leva vocês dois de carro hoje, vai ser divertido.

- E a Lory, pode vim com a gente? – Pergunta Darcy, assustado.

- Lory vai andando, ela está precisando emagrecer.

Andar vai me fazer bem, por mais que Warley saiba que eu odeio me exercitar e por isso fez com que eu andasse a pé, eu estava precisando tomar um ar. Meu celular é velho, mas consigo acessar o facebook e ouvir músicas, então está ótimo, por mais que as vezes ele desligue sozinho, ou trava em tela preta por horas... sou grata por ter um.