Uma vida em que estou com você

6-Hoje

Jasminie sugere entrar para o restaurante, antes que fique cheio e não consigamos lugares e Alex pede para que ela vá na frente.

Não consigo o olhar nos olhos, fico encarando meu sapato, em silencio.

- Lory, eu ia te contar...

-Contar o que? Vocês não são só amigos?

As palavras quase não saem da minha boca.

-Amizade colorida, para ser mais exato.

Me senti substituível. Fico meses sem vê-lo, sofro todos os dias com saudade e ele arruma uma substituta; não posso reagir assim, estou parecendo uma mimada. Mas dói.

-Alex, para. Você não me deve explicações, vamos entrar e comer.

Qual o problema dele? Ou qual o meu problema? Será que interpretei as coisas erradas? Será que estou exagerando? Sério Alex, baixo até para você; Jasminie.

Ando o mais rápido que posso, quero ficar longe dele, não quero que me veja chorar... é sempre a mesma história, eu já devia ter me acostumado.

O sinto correr ao meu encontro, mas não paro. Ele me alcança. Me puxa pelo braço.

- Qual seu problema Alex? Tem medo de ficar sozinho comigo? Sempre que venho te ver você arruma uma companhia extra. Eu vim do outro lado do país só para te ver. Não quero passar o pouco tempo que temos, junto de uma vadia que você leva para cama. Do que você tem medo?

- Lory, eu te amo, mas...

-Mas! – O interrompo. -Não precisa dizer mais nada. Eu nunca vou ser suficiente para você, não é, Alex?

-Loren...

Eu só quero ser o suficiente, será que isso é pedir demais? Há algo de errado comigo? Minhas expectativas em relação ao Alex são altas demais, eu já devia ter aprendido minha lição. Sempre entrego o meu melhor, mas o que posso dizer? Ele sempre consegue me decepcionar e eu sempre perdoo, aceito pouco e me entrego muito; isso é culpa minha.

-Alex, estou com fome e sua, seja lá o que ela for, está te esperando.

Chegando ao restaurante, consigo fingir que nada aconteceu.

-Nossa, vocês demoraram, está tudo bem? – Pergunta Jasminie com um sorriso no rosto.

Reparo que ela tirou o aparelho, colocou lentes nos dentes, é uma dentista de sucesso. Está linda. Paramos de nos falar logo após o ocorrido na festa da Amanda, mas continuei torcendo por ela.

Alex já ia responder à pergunta que fizera, mas interrompi.

-Está tudo bem Jasminie, Alex só estava me ajudando com a reserva de um hotel. - Respondo com o sorriso falso e seco no rosto.

-Que besteira, Lory. Não precisa de hotel, você pode ficar na minha casa. Tenho quarto de hospedes e...

-Jasminie, eu não vou fingir que nada aconteceu, ok? Então me polpe de seu fingimento. – A interrompo.

- Lory... Já se passaram 10 anos.

- Meninas, o garçom. Vamos pedir! – Alex tenta deixar o clima menos tenso.

Fizemos o pedido, ninguém fala nada por um tempo. Alex está sentado de frente para mim e Jasminie está ao seu lado. Ambos trocam caricias e a todo momento, Alex desvia o olhar para mim.

 O garçom chega com o tira gosto, por conta da casa; biscoito de água e sal, sabor cebola e salsa. Me lembro do Gabriel. Sinto tanta saudade; costumávamos dividir um pacote na aula de história. Depois daquela tarde, nunca mais consegui comer um biscoito desses, fazia tempos que não ficava cara a cara com um. Me perco em nossas lembranças.

 Talvez em outra vida, ele seria o meu garoto; estaríamos a Espanha agora, curtindo os jogos do Real Madrid. Lagrimas interrompem meus pensamentos, pisco rápido o suficiente para que elas voltem para onde não deviam ter saído, mas Alex percebe. Desde o momento em que o garçom colocou os biscoitos em minha frente. Ele sempre percebe tudo.

- Gente, preciso ir ao banheiro, volto já. -Diz Jasminie.

É tudo que Alex precisava. Um tempo a sós comigo.

-Lory, você está bem? – Pergunta com olhar doce; segura minha mão e a beija.

-Estou ótima, Alex. Só preciso comer, tomar um banho e torcer para ter um hotel vago. Vou embora na próxima semana.

-Loren, você só vai superar, quando se permitir sentir toda essa dor que vem reprimindo, já se passaram 10 anos e eu nunca vi você derramar uma lagrima. Você está em estado de negação a 10 anos, amor... me preocupo.

Alex, não me chama de amor, eu não quero ceder.

- Ele não gostava de você, sabia?

- Sim, ele me confrontou uma vez...

- E nunca pensou em me contar?

- Você nunca se permitiu falar dele, depois de tudo que aconteceu.

- Prefiro manter assim.

- Lory?

-Alê?

Nos olhamos. Aquele olhar...

- A Jasminie é chata para caralho, muito inocente... não consegue me entender.

E sinto tudo voltar ao normal. Isso é o que mais gosto em nós. Não importa o que aconteça, sempre seremos um nó.