O corpo bem passado

657 48 22
                                    

Mais uma vez aquelas pessoas estranhas em sua casa, mais uma vez o aperto forte no coração. O médico examinava sua mãe na cama dela junto com sua tia e a enfermeira, enquanto Sanji espiava na fresta da porta do quarto. Sua mãe e sua tia costumavam esconder dele o que estava acontecendo de fato e por, conta disso, se assustou quando viu as costas desnudas de sua mãe. Quando ela emagreceu tanto? 

Sua boca secou, mas os olhos ficaram molhados. Uma dor cobriu sua garganta e sentiu falta de ar, saiu correndo para o andar de cima e se trancou no seu quarto como se tivesse visto um monstro. Depois ficou de joelhos, apoiando os cotovelos na beirada da cama e passou a chorar. Sua mãe iria morrer logo e desejou no fundo de seu coração que achassem uma cura pra isso. 

“Deus, se você existe, por favor...” 

Então, a casa começou a tremer e Sanji, imerso nas lágrimas, não notou de princípio, até escutar um barulho. Um abajur na mesa de cabeceira caíra no chão, depois os livros das estantes. Compreendeu o que estava acontecendo e pensou se seria aquilo um terremoto? 

“Por que isso justo agora?! Não é comum haver terremotos por aqui!” 

Esfregou o olho esquerdo coberto pelo cabelo loiro e compreendeu que não estava vendo coisas. Aquilo era real. Tanto quanto o desequilíbrio que o levou contra o chão, antes que pudesse tentar se levantar ou se proteger, algo caiu na sua cabeça e desmaiou. 

Um garoto de cabelos pretos e desgrenhados estava junto de um com cabelos cacheados e narigudo. Os dois observavam um rapaz loiro e desacordado recostado numa árvore da floresta em que estavam. 

— Será que ele tá morto? — Perguntou o primeiro. 

— Para de perguntar e vai lá ver, Luffy! — O narigudo parecia assustado. 

— Acho que tá morto, Usopp. 

— Você só está com preguiça de ir até lá e ver se está vivo! Ele pode ter dinheiro! 

Luffy revirou os olhos. — Então, vai você ver! 

— Eu?! — A ideia de vasculhar um cadáver era algo inconcebível para o narigudo. — Tá doido?! 

— O que vocês estão fazendo? — Perguntou uma voz grave. 

Luffy e Usopp olharam pra trás, de onde ela surgira. — Ah, é você Zoro... 

— O que fazem aqui? 

— Procurando por ti? Faz dois dias que veio caçar e sumiu. — Respondeu Usopp, dando um suspiro logo em seguida, enquanto pensava que não podia tirar os olhos de Zoro, que ele se perdia facilmente. 

— E cadê a comida? — Luffy se referia a caça, estava morto de fome, não que não ficasse o tempo todo, mas realmente já fazia um bom tempo que não se alimentava. 

— Eu não fui caçar. Fui tirar água do joelho. Então, do que estão falando? 

— Tem um morto ali. — Respondeu Luffy, apontando para o corpo recostado na árvore. 

— Morto? Ele deve ter dinheiro. — Zoro avançou sem medo e começou a tatear aquele cadáver com roupas esquisitas, de onde será que ele viera? Será que era da corte pra se vestir assim? Contudo, pensou que não eram tão esquisitas quanto a sobrancelha que terminava em espiral. O rapaz era também jovem, devia ter sua idade. 

— Esse cara tá só o pó que nem a gente. — Gritou para os outros dois ouvirem. Usopp se lamentou e a barriga de Luffy roncou. 

— Será que podemos comê-lo? — Disse Luffy, babando. 

— Quê?!! — Um frio correu pela espinha de Usopp. — Virou canibal?! 

— Mas, Usopp, estou muito faminto!!! 

Zoro ainda estava próximo do corpo enquanto ouvia os dois reclamando, porém sentiu algo pegar em seu pulso. 

— KYAAAAAA!!!! É UM ZUMBI!!!! — Gritou Usopp, ao ver o cadáver loiro se movimentar. 

— Zumbi? Será que ainda dá pra comer? Seria como se estivesse comendo uma carne bem passada mesmo, né? 

— Cala boca, Luffy, e corra!! Zoro já foi infectado!!! 

Uma gota de suor desceu da têmpora de Zoro, ele ainda não havia sido mordido e naquele momento teve certeza que se algo acontecesse com ele, os outros dois não fariam nada e o abandonariam. Bons amigos aqueles que arrumou. 

— Anjo... 

Ouviu e voltou o olhar para o loiro que ainda segurava o seu pulso. 

— Anjo, cure minha mãe...

As terríveis aventuras de SanjiOnde histórias criam vida. Descubra agora