Prólogo

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Boa leitura!

"Você está em todo canto
Menos ao meu lado
E isso
Dói "

Há momentos, em que uma vida solitária se torna contraditória em seus caminhos. Quando uma alma estilhaçada em constelações mergulha perto de sua avareza solidão, tornando seu ser vago, algo com presença. E então, a vida não está mais solitária, pois algo á preenche de forma tão lúcida, que até o mais vazio de seus poros transbordam.

Enid foi para mim como uma dessas constelações, eu nunca admiti isso para alguém. Mas ela completou meus mais profundos vazios. Contudo, sua partida levou tudo o que um dia ela chegou á completar, me deixando com um mero nada de essência, e transbordante em ardência de uma tristeza não passageira.

As memórias daquela noite brincam com meu subconsciente, tornando tudo doloroso demais para ser sentido. E novamente, aquela noite maldita surgiu em minha mente. Ela  apareceu, com toda a sua força e coragem, movida á um extinto animalesco, como se pudesse enfrentar qualquer coisa.

Tudo ocorreu tão rápido, eu nem ao menos tive tempo de olhar para trás, e corri para enfrentar o que me esperava pelo o resto da noite. Crackstone não chegou nem perto de ser tão assustador e assombroso, quanto a notícia que recebi ao fim daquela noite densa.

Ao passar pelo os grandes portões de ferro, senti pela a primeira vez o frio escasso me assolar. Eu sentia que algo estava errado, pois o semblante dos alunos se resumiam em uma única expressão; luto.

Eu procurei por ela, por toda a multidão, mas apenas consegui focar meus olhos em Ajax, que abraçava um casaco rosa manchado de sangue, enquanto soluçava violentamente. Lembro-me de sentir tudo ao meu redor parando, cenários e mais cenários passando por minha mente.

Eu tinha que sair dali, ter a certeza que eu estava errada, e que tudo não passava de um mal entendido. Mas eu não conseguia mover um músculo sequer, meu corpo estava petrificado, sem emoção.

Nunca quis ser abraçada ou tocada por alguém, mas naquele maldito momento, tudo o que eu mais desejava era que ela estivesse ali, me abraçando violentamente com seu jeito impulsivo e ferozmente carinhoso.

Mas tudo o que recebi, foi o aperto gélido de Mãozinha, um mero conforto perto do que eu realmente desejava.

Eu á perdi, de forma rápida e cruel.

No funeral, eu assisti enquanto o pai dela chorava copiosamente, vendo sua única filha sendo velada no belo caixão azul claro. Não podia medir ou imaginar a dor dele, pois os filhos que deveriam enterrar seus pais, não o contrário. Fiquei possessa quando descobri que a mãe dela não compareceu, pois viu a morte de sua filha como uma falha da transformação de lobo, julgando sua própria filha como fraca.

O dia estava com um lindo céu aberto, o sol aconchegava o cemitério, era como se o tempo estivesse tentando se igualar á essência dela, como uma forma de confortar a cerimônia. Ao entardecer, o caixão foi levado para a cova á sua espera, confirmando para os desacreditados, que esse era o fim.

E como se estivesse se entristecendo junto da descida do caixão a cova, o tempo fechou, e o céu chorou torrencialmente, com a dor da despedida.

A chuva caia, e eu permanecia ali, junto da terra recém posta, admirando a lápide ao chão. Me sentia entorpecida, sem emoções, como se estivesse anestesiada. Eu sabia que era a forma do meu psicológico se proteger do estrago que estava feito. Eu continuei ali pelo o resto da noite, Mãozinha assim como eu, não queria deixar o local, ficando por cima da lápide.

— Eu não quero que você se sinta sozinha, então eu ficarei aqui com você, tudo bem? – sussurei, como se ela pudesse me ouvir ou responder, eu sabia o quanto ela tinha medo do escuro, então fiquei ali, sentada ao lado da lápide da qual mantinha sua identificação.

Passei horas ali, até o amanhecer, quando acordei de um leve momento de sono, meus músculos se queixavam de dor pela a posição em que adormeci.

Bastou segundos para a ficha cair, e meu peito queimar em dor. A minha proteção havia chegado ao fim, e a hora de lidar com o pior de meus pesadelos bateu á porta; Enid se foi, ela morreu.

Desse dia em diante, meu cotidiano se resume em passar meus sombrios dias abraçando meus próprios joelhos em frente á metade da janela dela. Não tive coragem de mexer em seus utensílios, não consigo nem ao menos encarar as porcarias dos ursinhos de pelúcia que parecem observar meu sofrimento, como se também sentissem falta da mesma.

Se antes eu era como um livro lacrado, depois de tudo eu me tornei um muro forte. Me fechei completamente para todos, sem dar abertura para ninguém de NeverMore. As aulas foram retomadas na semana seguinte, e o pai de Yoko assumiu a direção do colégio.

Apenas Eugene e Mãozinha foram concedidos á manter contato comigo, por mais curto que fossem nossos diálogos.

Eu só tenho algo á tentar, e é trazer Enid Sinclair de volta.

Two souls and death 《WENCLAIR》Onde histórias criam vida. Descubra agora