O Caso da Fazenda St. Gertrudes

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Ele chegou na fazenda com seu Ford modelo T sob pesadas nuvens de chuva que ameaçavam despencar sobre a área rural de Presidente Prudente. Os ventos sopravam na direção contrária desde a entrada da estrada de terra, quatorze quilômetros atrás.

Ele teve dificuldades com o ferrolho da porteira, que estava empenado pela sujeira e ferrugem.
Com um rangido seco e agudo ela deslizou sobre as dobradiças abrindo a passagem. Depois de fechar a porteira atrás do carro ele seguiu a estrada serpenteante que conduzia a casa da Fazenda.

Cinco minutos depois estacionava o carro novinho em folha sob a cobertura do celeiro. A estrutura em péssimas condições estava caindo aos pedaços, com partes faltando aqui e ali por onde os répteis entravam e saíam.

Ele apanhou a pesada valise de couro que continha o dossiê do caso que estava trabalhando e a mala quadrada onde estava sua máquina de escrever. Caminhou até a entrada da casa e subiu os degraus de pedra cortada, batendo na porta três vezes no pêndulo de latão. Um rapaz magricela e mal humorado atendeu a porta com um ar infeliz:

- Não queremos comprar nada mascate! – ele já ia fechar a porta quando o detetive o impediu colocando sua valise no meio do caminho.

- Eu sou o Detetive Pedro, fui convivado pelo Sr. Augusto… - ele viu um ar de surpresa passar pelo rosto do rapazinho mal educado.

- Deixe o detetive entrar seu imundo imprestável - a voz rouca e falhada saiu rasgando de dentro da casa mal iluminada.

O rapazinho tentou corrigir seu erro arrancando a pasta da mão do detetive e tentou apanhar a outra mala, ao que o Detetive se recusou dispensando o jovem estabanado. Ele sempre mantinha suas posses sobre suas vistas, uma vez que seu trabalho dependia delas.

Dentro da casa ele se viu numa sala comprida de teto alto sem forro, onde via os gossos madeiramentos do telhado de barro vermelho. Um homem grisalho estava do outro lado da sala, sentado numa poltrona surrada e em alguns pontos era possível ver os detalhes da estampa de motivos florais em tons monocromáticos.

O homem grisalho o recebeu com um aceno, sem se levantar, indicando um assento a sua frente.

- Obrigado por vir depressa Detetive Pedro; posso te chamar de Detetive? – ele não esperou uma resposta e prosseguiu – Detetive… não gostei do som que faz, parece que minha boca está tendo espasmos! Vou te chamar de Pedro, está bom assim.

O detetive estava acostumado as idiossincrasias dos clientes, mas só faziam dois minutos que estava ali e já queria cancelar a investigação e voltar para as noites badaladas da Capital.

O homem grisalho prosseguiu:

- O Senhor está aqui porque coisas estranhas estão acontecendo na Fazenda St. Gertrudes… Meus irmãos e eu não conseguimos explicar nenhum dos eventos recentes que ocorreram nessas terras:

“Nós somos em treze irmãos, todos nascidos e criados nessa Fazenda, nosso pai nos deixou cem mil cabeças de gado, espalhados por vinte e seis alqueires de terra. Nossa terra tem nada menos que cem nascentes de água pura, que se unem cortando nossas terras, que são as melhores produtoras de frutas da região. No ano passado saíram daqui duzentas caixas de frutas que abastecem uma fatia boa do mercado do estado.

Tudo estava uma maravilha aqui na St. Gertrudes, até que tivemos um pequeno desentendimento com nosso irmão do meio. Ele queria vender uma parte da fazenda para ir morar com a esposa na cidade grande. Aí que começaram nossos problemas: ele queria vender as terras do alto, onde as nascentes estão, por serem as terras que dariam um melhor retorno para ele. Nesse caso nós perderiamos a maior parte das fontes de água. Como negamos ele decidiu vender as terras baixas onde estava o nosso pomar, com as árvores cheias de flores, onde teríamos em breve a nossa melhor colheita.

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