Capítulo 1

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        Estava prestes a iniciar uma guerra contra o reino Corbeau, o rei deles, Isildur, ganancioso demais. Meu reino, pequeno, sem muitos recursos econômicos e sem muitos guerreiros para guerrear, o que aquele homem repugnante poderia ganhar nos atacando?
        Minha mãe, a rainha Esmeralda, ficava me seguindo pelo palácio todos os dias, insistindo para que eu não vá para o campo de batalha, mas eu sou a princesa e uma guerreira! Sou destemida, e não tenho medo de nada – mesmo das coisas das quais eu deveria temer –, todos os inimigos que já enfrentei me temem, meus súditos me veneram e também não ousam incitar a minha ira.
        “Mas uma garota usando armadura e sacando uma espaça? E sendo a princesa de nossa realeza? Vossa majestade perdeu a cabeça ao permitir tal ato” os súditos, guerreiros, conselheiros e outros estavam sempre falando isso quando declarei que iria para a guerra pela primeira vez, contra o reino Serpent. Isto claro, só durou até eu vencer guerra atrás de guerra, trazendo glória e alavancando o comércio.
        Eu entendo, poder é poder.
         “É melhor atacar um pequeno reino em ascensão antes que se transforme em algo perigoso”.   
        Nunca esqueci essa frase do livro de batalha que eu lera quando criança.
        Durante a infância, fugia das aulas de boas maneiras para ficar na biblioteca lendo livros de estratégias, lutas com espadas e flechas, os pontos fracos do corpo humano, os venenos – do mais perigoso ao menos perigoso. Claro, a Rainha Esmeralda não gostava nada, mas o que ela poderia fazer? Essa sou eu.
        “Você é uma princesa, aja como tal”.
        Minha mãe me dizia tanto essas palavras que quando abria a boca para falá-las, eu me adiantava e falava em um revirar de olhos.
        Já meu irmão caçula, Jasper, adora meu jeito de ser, e normalmente – quase sempre – tenho que o distrair para poder sair, ele adoraria ir para a guerra comigo, mas o campo de batalha não é lugar para uma criança frágil.
        Jasper é meu meio-irmão, ele sempre fora uma criança frágil, seus braços não aguentam o peso da espada e suas pernas cedem. Minha mãe fala que ele puxou a minha teimosia, pois, sempre pega minha espada sabendo que não a aguenta. Esmeralda reclama, mas foi dela que herdei a teimosia.
        Monto em meu cavalo branco, cujo apelidei de Nuvem. O cavalariço me entrega as rédeas e as aperto com ambas as mãos. Já tinha discutido o plano com Thomas, meu general.
        Eu atuava das sombras, aprendera a muito tempo a ser sorrateira para poder pegar biscoitos na cozinha sem ninguém me perceber ou fugir de festas diplomáticas. E Thomas atuava da luz, sabiam que eu fazia parte do exército, mas não que eu era o cérebro que elaborava a maior parte das estratégias de ataque. Eu fazia parte da corte, conhecia cada rei e rainha, seus costumes e até os mitos espalhados.
        A vitória de meu reino era garantida.
        Minha mãe se aproxima segurando a mão de Jasper com uma mão e a outra em seu peito.
        – Minha doce filha, tome cuidado no campo, trate de voltar inteira para casa e para seus súditos – Esmeralda solta a mão de meu irmão e retira o colar que sempre usava, o me dando.
        – Por que está me dando seu colar, mãe? Pensei que fosse muito precioso – pego o objeto e olho para ele admirada. A corrente era de prata e tinha uma pedra preciosa vermelha – não condiz com o nome Esmeralda – em forma de coração. Meus olhos se iluminam enquanto encaro a joia.
        – Pode protegê-la e fazê-la ter esperança, pense em mim, em nosso reino enquanto lutar. Nos traga honra, mas acima de tudo, volte viva – ela aperta minhas mãos e se afasta.
        Passo o colar por cima da cabeça e o ajeito embaixo da armadura; pensando agora, espero que o diamante não se quebre ou se perca enquanto luto...
        Olho uma última vez para minha mãe, para o conselheiro Anthony – que também fora se despedir –, para as pessoas a nossa volta que vieram nos desejar sorte antes da partida – dar seu último adeus. Meus olhos param em Jasper, ele segura a mão de nossa mãe, seus olhos marejados que me dizem para não ir, quase que implorando. Abro um sorriso que espero que tenha sido doce o bastante para confortá-lo.
        – Espere-me, eu prometo que voltarei!
        Com isso, bato os calcanhares no flanco de meu cavalo que começa a cavalgar e, logo, os outros atrás de mim fazem o mesmo. Fiz uma promessa que não deveria ter feito, o que pode voltar é meu corpo sem vida, ou talvez apenas algum dos meus membros. A culpa cai sobre mim e respiro fundo tentando pensar somente no plano para vencer.
        Partimos para o sul, seriam dois dias e duas noites até chegarmos nas áreas da montanha congelada. Lutar na neve. Seria difícil até para achar os corpos depois, ou, uma avalanche poderia acontecer.
        Logo a noite cai, montamos um acampamento e fico dentro de minha barraca observando os mapas quando Thomas entra, em suas mãos, uma bandeja com comida. Carne de coelho – que alguém deve ter caçado – temperada com ervas e tomates picados e uma jarra com vinho de amora.
         – Pare um pouco. As coisas vão resolver-se rápido – ele tenta me confortar e coloca a bandeja na mesinha que está em minha frente e se senta na almofada no chão.
        Como um pouco da carne e percebo o quanto estava com fome. Mas ignoro a dor em meu estômago quando engulo a comida.
        – Você está preocupada com algo – Thomas me examina.
        – De fato estou. Sinto-me arrepiada. Minha intuição me diz que algo ruim pode acontecer.
        Thomas balança a cabeça.
        – Majestade, talvez seja apenas ansiedade. Não se abale. Olhe quantas batalhas já saiu vitoriosa até agora. 
        Encaro Thomas, minha expressão fria e ele se encolhe na almofada que está sentado.
        – Não acredito que seja – falo por fim. – Se fosse o caso, eu não estaria me sentindo tão insegura sobre a batalha. Minha mãe insistia demais para que eu não participasse.
        O general parece entender – por um breve momento.
        – Talvez seja por ele ser um oponente mais poderoso e isso a preocupa.
        – Está dizendo que não tenho força suficiente para lutar contra um oponente mais forte que eu?
        Ele congela.
        – Não, senhora. Suas habilidades são espetaculares – ele sorri e percebo que é forçado.
        Irritada, mando Thomas me deixar sozinha e o general sai apressado.
        Como o restante da comida no prato e deito no colchonete de penas de ganso. Já estava sem a armadura. Preferia ficar com ela durante o caminho caso tenha que lutar. Mas aqui, apenas comigo mesma, não me sinto tranquila e desejo colocá-la. Têm quase duzentos homens lá fora, sei que vão me avisar se acontecer algo suspeito.
        Suspirando, deixo minha cabeça vagar até que adormeço.

       

       

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