Capítulo 6

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        Lafaiete me guia até uma grande sala com uma mesa grande cheia de comida; frutas – algumas tinham bolinhas, não eram para humanos –, carne de cervo temperada com folhas secas e limão, entre outras comidas.
        Engulo minha saliva, meu estômago dói de fome. O cheiro da comida é espetacular, mas eu poderia comer? Pode ser mais comida feérica.
        Como se estivesse lendo minha mente, Lafaiete coloca uma mão em meu ombro e sorri.
        – Pode se servir, virei buscá-la quando terminar a refeição.
        A feérica afastou-se e me sentei em uma cadeira. Esfrego as mãos na saia do vestido, estava tão nervosa que comecei a suar. Olho para a grande porta da qual eu entrara com Lafaiete, agora quem entrava era Aaron e, meu irmão, Jasper.
        Me levanto rápido e Jasper corre para me abraçar. Ele tremia – ou será que era eu?
        – Que lugar é esse? Por que estamos aqui? Cadê a mamãe?
        A voz dele era aflita, ele estava com medo. Quando não respondi, Jasper olhou-me.
        – Cristal?
        – Jasper, escute-me bem. Nossa mãe, ela morreu. Agora esse lugar é nossa casa...eu acho – seguro os ombros do mesmo e o encaro.
        – Mamãe...morreu? Como? Cristal?
        – Isto não importa. Você já tem doze anos, precisa entender.
         Aaron se sentou em uma cadeira enquanto eu conversava com meu irmão. E quando eu me levantei, ele pigarreou. O olhei e coloquei Jasper em uma cadeira antes de eu mesma me sentar.
        – Está tudo bem com sua garganta, vossa majestade?
        Lhe lanço um olhar de escárnio.
        – Afinal, pode me dizer por que decidiu não me executar? Vossa majestade não pode mentir, então o que fará a respeito de Isildur?
        Ele suspira e larga a taça de vinho que tinha pego.
        – Podemos apenas ter um jantar calmo hoje? Prometo explicar-lhe tudo amanhã.
        – Isso é uma promessa de verdade. Irei lhe procurar assim que amanhecer!
        Olho para uma janela, do lado de fora, o céu estava claro. Eu tenho certeza de que falou que estávamos “jantando”, então, por que lá fora estava claro?
        – Por que você disse “jantar” sendo que está Sol lá fora?
        – Não somos criaturas diurnas, nossa vida acontece durante a noite e dormimos durante o dia.
        Corto um pedaço de carne para meu irmão enquanto assimilo a informação. Terei que me acostumar a acordar quando estiver entardecendo e ir dormir quando estiver amanhecendo...
        Minha vida saiu totalmente da minha zona de conforto, e eu não quero viver nesta terra onde não conheço nada, nem ninguém e nem os costumes, e principalmente, não quero que meu irmão cresça aqui; aqui é perigoso.
        Nem consegui comer direito. Aaron me explicou algumas coisas sobre as comidas, para que eu não coma as frutas feéricas – como uma fruta rosa com bolinhas roxas, esta, age como uma droga, deixa um humano viciado ao ponto de barganhar para ter mais ou até mesmo roubar, e quanto mais comer, mais rápido a morte virá –, ele também me falou sobre usar talismãs contra os feitiços e prometeu nunca me enfeitiçar.
        Voltei para meus aposentos e sentei na cama, aproveito o momento sozinha para olhar o quarto, não tinha as raízes aparecendo, nem o resto, na verdade, tudo parecia uma parede de madeira e o chão também, as cortinas eram roxas com animais bordados, tinha uma sacada também, que talvez eu possa tentar usar para fugir.
        Tirei o vestido e coloquei uma camisola. Me deito na cama, me sinto sendo consumida pelo cansaço e a cama parece ainda mais confortável. Logo fechei os olhos e adormeci.
        No dia seguinte, antes que Amélia ou Lafaiete pudessem falar ou fazer algo, pedi para me levarem ao quarto de Jasper, Lafaiete não quis, não antes que eu trocasse de vestimenta, mas a ignorei e saí do quarto ás pressas.
        Amélia e a feérica gritaram por mim. Olho de um lado para o outro e corro para a direita, havia visto uma feérica de pele dourada levar meu irmão pela aquela direção. Fui abrindo todas as portas do corredor, muitos quartos estavam vazios.
         Depois de abrir um total de seis portas, na sétima, vejo meu irmão sentado na cama, o rostinho inchado de sono.
        Solto um suspiro e sorrio quando ele me olha.
        – Bom d... – Me lembro que agora seria o início da noite. – Dormiu bem?
        – Não consegui dormir muito bem...
        – Eu não sei o que aquele homem quer com a gente, mas depois você pode dormir o quanto quiser – bagunço ainda mais o cabelo de Jasper.
        Ouço a porta abrir, era a feérica que trouxe Jasper para o quarto; junto com Amélia e Lafaiete.
        – Senhora, precisa trocar de roupa – Amélia colocou as mãos nos quadris e me olhou com reprovação.
        – A água vai esfriar se demorar demais – disse Lafaiete.
        Me viro para elas e meus olhos caem na feérica de pele dourada, os olhos dela eram amarelos e o cabelo preto.
        Sentindo meu olhar nela, a feérica sorriu para mim e disse:
        – Eu sou Gold. O Grande Rei me designou como criada do senhor Jasper.
        “Senhor Jasper”. No mundo mortal chamavam ele de “jovem mestre”.
        Quero muito voltar para casa, mesmo sabendo que teria que herdar a coroa, eu quero o meu quarto, minhas calças, meu arsenal de armas... Acima de tudo, eu quero o Alex.
        Após conferir que Jasper não estava em perigo, voltei para meu quarto. Lafaiete não esquentou a água novamente, e ela esfriou muito rápido.
        Me banhei e Amélia escolheu um vestido roxo com flores bordadas no espartilho. Fiz cara feia porquê não queria o colocar – embora fosse lindo.
        Queria que Ágron aparecesse agora com um par de calças e blusas de manga longa. Mas não aconteceu e tive que vestir o vestido.
        Desço as escadas com as duas criadas atrás de mim.
        Na sala de jantar, Jasper conversava com Aaron e Ágron, um sorriso enorme que ia de orelha a orelha estava em seu rosto, meu coração se aqueceu e doeu ao mesmo tempo.
        – Olá a todos...Jasper, por que está sorrindo tanto?
        – O tio...quer dizer, o senhor Ágron, disse que me levaria para um passeio a cavalo depois do café da manhã, eu posso ir, irmã?
        Mordi o lábio inferior.
        – Será seguro, eu garanto – Ágron sorriu para mim e Aaron bufou irritado.
        Olho para Aaron e então para as caras esperançosas de Jasper e Ágron.
        – Eu não confio em você, então não diga ao meu irmão que irá levá-lo para cavalgar. Ele também é muito frágil e pode se machucar facilmente.
        Ágron apenas balançou a cabeça em afirmação. Mas Jasper me olhou triste, ele tomou um suco de laranja e comeu metade de uma panqueca de mirtilo. Ele não falou mais e nem olhou para mim. Quando acabou de comer, apenas voltou para o quarto com Gold.
        – Você é protetora demais.
        Olho para Aaron.
        – Não sou! Meu irmão é frágil e apenas quero proteger ele.
        – Sim, sim. Continue enganando a si mesma.
        – Não estou me enganando! Este lugar é perigoso, mesmo que prometam segurança, não pode falar pelos seus guardas. Fora de seus olhos eles podem fazer o que quiserem.
        Ágron pigarreou e se levantou.
        – Tenho coisas para resolver. Vou deixá-los sozinhos agora – e assim, ele saiu do cômodo.
        Olho para as comidas na mesa, panquecas de mirtilo, banana fatiada, aveia, mel, suco e.…vinho. Não sinto vontade de comer nada que está nessa mesa. Mesmo que sejam comidas que eu comeria normalmente no meu mundo.
        Me sirvo de uma taça de vinho de cereja – na esperança de que ficar embriagada me deixe um pouco melhor – e encaro Aaron.
        – Perguntei a sua criada sobre as comidas mortais. Até que não comemos tantas coisas diferentes, tirando que metade destas coisas seriam com frutas feéricas.
        – Não quero saber se somos diferentes ou não.  Me fale o que irá fazer a respeito de Isildur, você prometeu me dizer!

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⏰ Última atualização: Dec 28, 2022 ⏰

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