005 :: Atadura

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Anya nunca foi super inteligente, e isso ninguém poderia contestar. Se fez necessário muito esforço para entrar no Colégio Éden, e mais esforço ainda para conseguir as sete Stellas, que exigiram anos e anos – oito, aproximadamente.

Por não ser tão inteligente, é possível assumir que provavelmente não conseguiria ler corretamente o manual de um produto novo e com termos desconhecidos. Também é possível assumir que daria errado caso ela tentasse manusear algo do tipo.

Damian se amaldiçoava mentalmente, pois deveria ter assumido isso. Deveria ter percebido que acatar a ideia de Anya daria errado assim que ela abriu a boca, mas ele se deixou levar pelas feições tristonhas da menina e pela própria curiosidade.

É bem como dizem por ai: "A curiosidade matou um gato".

Frankie havia feito um enorme manual, com instruções de como manusear a máquina e todo o passo-a-passo de como construí-la, embora pudesse ser útil, de nada o item adiantaria se não soubesse o que Anya teria colocado de errado no painel de configurações, que os fez parar em frente ao Colégio Éden.

— E então, lembrou? — ele parou de folhear o manual e encarou Anya.

Ela tinha os braços juntos atrás do corpo e balançava para frente e para trás, alternando entre a ponta dos pés e o calcanhar. Encarava fixamente o enorme prédio a frente, tentando entender como a grama parecia incrivelmente mais verde e o céu incrivelmente mais azul.

— Anya? — chamou de novo.

— Hm?

— Se lembrou do que colocou na máquina?

— Não sei bem...

Damian suspirou. Estava tentando não perder a paciência pois ela parecia triste, conseguia perceber pelos olhos esmeraldinos sem brilho algum. Fechou o livro e a encarou por alguns segundos, se aproximando.

— Tenta pensar mais um pouco, vamos andar por ai. — passou a mão no topo da cabeça dela, numa tentativa automática de alinhar os cabelos desgrenhados pelo vento.

As bochechas de Anya enrubrescerem minimamente e seus olhos ganharam um brilho triste, como lágrimas que se acumulavam. Damian franziu a testa e afastou a mão, percebendo que a cada segundo que passava ela ficava ainda mais estranha.

— Vai ser mais efetivo do que ficarmos aqui parados. — utrapassou-a.

A medida em que se aproximavam da academia, mais vozes podiam escutar. Assistiam crianças e adolescentes andando a passos delicados e gesticulando conforme a fala de modo elegante. Os rostos pareciam familiares, entretanto, desconhecidos ao mesmo tempo.

— Acho que voltamos algumas horas no passado, quando era mais cedo e estava tendo aula. — Anya observou — Por isso o céu tá mais azul do que quando entramos na máquina.

— Uau, parece que você pensa um pouco!

— Claro que penso! — parou de caminhar, bateu o pé e Damian sorriu, deixando-a confusa.

—Tudo bem, Anya, então agora pense em quais botões apertou dentro daquela lataria.

— Você é um manipulador!

— Não sou. Vem rápido ou vai ficar para trás.

Emburrada, voltou a seguir o rapaz que encarava os arredores com as mãos dentro dos bolsos da calça. As crianças que passavam por eles ficavam estáticas, admiradas e surpresas. "Quantas Stellas!", "Uau! Quem são eles?", Anya ouviu atentamente as diversas exclamações.

Se sentindo orgulhosa, arrumou o laço no pescoço e levantou a cabeça, marchando confiante. Raspou a garganta e se dirigiu a Damian com a voz firme:

— Para onde vamos?

Lapso | DamianyaOnde histórias criam vida. Descubra agora