Lapso | Damianya

009 :: Mentiras

Já era quase uma da manhã quando a campainha tocou. Yor, acordada até então enquanto esperava Loid, foi até a porta atender.

Agora, sentada em uma cadeira ao lado da cama dele, segurando uma pequena xícara de chá e uma aspirina, esperava a boa vontade do homem de se levantar.

— Loid, — chamou com a voz trêmula — sua reunião com Silvya era em um bar com Franky?

Esperou um pouco, mas nenhuma resposta veio. Ela falava em um tom de voz tão baixo que duvidava que ele realmente pudesse ouvir.

Quando abriu a porta, o encontrou desacordado, sendo amparado pelos ombros por Franky. O levou para dentro de casa, o trocou e o colocou para deitar. Por sorte, sua força não havia diminuído nem um pouco nesse meio tempo em que se afastou da Garden e carregar o marido para lá e para cá havia sido fácil. Porém, em contrapartida, sua mente estava uma confusão.

— Digo, foi ele que te trouxe. A não ser que ela tenha te embebedado e você precisou ligar pra alguém te buscar. Mas então, por que não ligou pra mim? Sei que a gente não tá conversando direito, mas você tava bêbado e bêbados não pensam. Por um acaso você não pensa em mim nem quando seu raciocínio não funciona? E por que sua reunião de trabalho terminaria tão tarde da noite?

No fim, precisou admitir que estava falando com as paredes quando outra vez esperou mais e outra vez não ouviu nem mesmo um murmúrio. Era um monólogo que estava tendo consigo mesma em voz alta, pois isso tornava as coisas mais reais. Não queria se iludir com Loid novamente, pensava que a primeira vez havia sido mais do que suficiente e no quanto foi doloroso perceber que precisaria dar um basta se não quisesse se machucar mais.

Ainda sim, desejava que ele pudesse ser um pouco mais piedoso por compaixao a tudo que estão enfrentando graças ao sumiço de Anya. Esperava que ele abrisse os olhos e negasse cada palavra dela.

— Loid — chamou outra vez, desesperada e desesperançosa, com um soluço saindo do fundo da garganta e sem segurar mais as primeira lágrimas — Você mentiu pra mim de novo?

Sentia seu coração sendo dilacerado. Pensar em Loid bebendo com uma mulher qualquer por ai a desestabilizou. Se sentia culpada por não ter dado a atenção que ele queria durante esse tempo, porém, a pergunta que martelava em sua cabeça era "Por que ele não foi atrás de mim, então? Por que não insistiu mais?"

Por fim, cansou de ficar lamuriando para o nada, enquanto a atenção do homem que tanto almejava nem mesmo lhe era concebida. Deixou a aspirina e o chá em cima do criado mudo ao lado da cama e, sem se importar se ele se encheria de formigas ou esfriaria durante a noite, saiu do quarto, puxando a porta atrás de si e limpando as lágrimas, calando então os gritos desesperados de seu coração machucado.

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Anya estava morta! Nunca mais dormiria no chão e nunca mais faria essa proposta a ninguém. Além disso, o som das mil e uma quinquilharias dilatando durante a noite era assustador, quase precisou se agarrar a Damian – que, por sorte, não ouviu sua confissão vergonhosa – que estava tão incomodado quanto ela.

Quando acordou, sentia como se todo seu corpo tivesse sido esmagado por um caminhão em alta velocidade. Observou Damian sentado no chão estalando as costas e se colocou sentada ao lado dele, coçando os olhos que não queriam se abrir. O lugar ainda estava escuro, afinal, a luz do sol só entrava por uma janela minúscula.

— A gente não vai dormir aqui nunca mais! — decretou Anya.

— Eu espero.