Capítulo 01

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P.O.V. Samantha - 1998

— Sam, só falta você! — minha mãe fala do lado de fora do banheiro e meu coração dispara.

Por que eu tenho que ir no aniversário da tia Valentina? Ela nem gosta da gente! Sem falar que todo mundo fica me olhando esquisito.

— Já vou! — respondo sem vontade e respiro fundo antes de abrir a porta. — Força, Samantha!

Saio do banheiro e vejo minha irmã Scarlet sentada na cama igual à uma mocinha, como diz a nossa avó. Ela está usando um vestido rosa, os cabelos soltos e sandália. Eu coloquei um vestido amarelo que odeio e uma sandália que faz minha perna doer.

— Que lindas minhas meninas! — meninas? Eu já tenho dez anos!

— Obrigada, Mamãe! — minha irmã puxa-saco fica toda feliz com o elogio.

Ela adora se vestir de menininha, e eu só quero meu jeans e tênis, mas sei que minha mãe não me deixaria ir assim, e mesmo que deixasse, minha família ficaria falando de mim pelos cantos.

Desço a escada quase me arrastando e meu pai me olha estranho.

— Que cara é essa, Sam? Você está passando mal?

— Não.

— Então melhora essa cara ou sua tia vai achar que você não está feliz pelo aniversário dela.

— Tudo bem, Papai. — respondo e dou um sorriso forçado.

A festa está a mesma droga de sempre. Um monte de gente metida, com filhos metidos que só falam de coisas metidas.

Fico alerta o tempo todo porque estou usando vestido e às vezes sem querer abro as pernas, aí minha mãe me olha como quem diz "fecha essas pernas". Por isso prefiro calça ou bermuda!

— Oi, Samantha. Gostei do seu vestido! — minha prima Evelyn fala rindo e nem respondo. Não gosto dela. — Perdeu a educação? Eu te fiz um elogio.

— Você não está me achando bonita que eu sei, só está tentando achar alguma coisa errada pra me encher a paciência.

Ela coloca a mão no peito, como se tivesse assustado. Eu mereço.

— Como você é grossa! Por isso que não gosto de ficar perto de você!

— Mentira! Você não fica perto de mim porque eu sou diferente das suas amigas. A gente nem consegue conversar sem brigar!

— É claro! Você é estranha, não sabe nada de coisas de meninas!

Reviro os olhos, saio de perto dela, e começo a andar pelo jardim. As palavras da Evelyn me machucam muito, eu não sou estranha! Só não gosto de usar vestidos e acho feio crianças passando maquiagem!

Meus olhos começam a arder e me dá uma vontade danada de chorar, mas eu consigo segurar.

Acho que vou entrar na casa e assistir TV, já deve ter começado "Torre de Babel", e a Sandrinha vai aprontar alguma coisa!

Olho para trás e vejo que ninguém está olhando para onde estou, então entro na casa pela cozinha e vou andando rápido até a sala de TV, porém escuto alguém chorando.

Paro no meio do caminho sem saber o que fazer e além do choro escuto a voz do meu pai. O que está acontecendo?

Ando bem devagarinho e vou seguindo o barulho. Vejo uma porta meio aberta e fico quase colada nela.

Não interessa, Valentina! Você tem que ser firme para resolver a situação!

É fácil pra você falar, Teodoro! Nunca passou por isso! — minha tia fala chorando.

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