Capítulo 07

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P.O.V. Samantha - 2007

Meu pai costuma dizer que eu sou a mais focada da casa, mas apenas quando me interessa.

É, ele tem razão.

Prometi para mim mesma que passaria de ano e que me formaria com honrarias, e estou nesse caminho. Parei de usar aquelas porcarias, tenho me dedicado a estudar seriamente e me comportado no colégio.

Por isso não esperava ser chamada para uma reunião familiar no temido escritório domiciliar do juiz Magalhães.

— Sente-se minha filha.

Meu pai está sem o costumeiro terno e parece tranquilo, assim como minha mãe. Talvez seja um bom sinal.

— O que eu fiz? Eu juro que estou me comportando!

Ele apenas sorri e brinca que não estamos num interrogatório. Apesar de já ter dezoito anos, ainda me sinto uma menininha quando essas coisas acontecem.

— Pode se desarmar, Sam. Nós queremos conversar com você, o intuito não é brigar nem te deixar nervosa.

— Se é só uma conversa, por que a formalidade do escritório?

— Sempre questionadora... a promotoria está te perdendo minha filha. Mas não é esse o assunto.

— Pai, fala logo do que se trata, estou ficando ansiosa. Vá direto ao ponto.

— Tudo bem, serei direto. — ele se encosta no tampo da mesa, ficando bem à minha frente. — Scarlet me pediu para trazer o namorado aqui no domingo, para apresentá-lo à família.

Oi? Todo esse drama é por causa do paspalho que minha irmã está de namorico?

— Ah, ok então. Mas precisava me trazer aqui para contar isso?

— Não, na verdade nós te chamamos porque... — meu pai coça a cabeça como que se estivesse tentando encontrar as palavras certas. — Sam, eu tenho esperado você ter coragem de se abrir conosco desde que descobrimos, mas como você nunca falou nada...

Ai meu Deus, o que eles descobriram? Sem nem saber do que se trata, já sinto o sangue sumindo da cara.

— Pai...

— Nós queremos o seu bem, meu amor. — minha mãe fala e não me acalma em nada.

— Samantha, hoje acordei decidido a conversar sobre isso e sua mãe concordou.

— Isso o quê, meu Deus? — pergunto mais uma vez, já entrando em desespero.

— Sobre você minha filha, sobre seus relacionamentos! Se a minha filha caçula está trazendo o namorado, então eu quero saber da minha primogênita quando conhecerei a minha nora.

Fico tão chocada com a situação que as palavras simplesmente somem da minha mente. Boquiaberta, não sei o que fazer, o que pensar.

Minha vontade é sair correndo, porém, as pernas estão bambas demais pra isso.

— Me desculpe... — é a única coisa que consigo balbuciar.

— Desculpar o que? — ele pergunta calmo e pela primeira vez em muitos anos uma lágrima consegue escapar.

— Eu... eu não queria decepcionar vocês! Eu sei que não sou a filha perfeita e...

Não consigo mais falar, as lágrimas não deixam. Meu pai me puxa para cima me fazendo ficar de pé e me abraça tão forte que consigo ouvir os batimentos do coração dele.

Minha mãe também abraça a gente e faz carinhos nos meus cabelos.

— Perdão, me desculpe...

— Sam, pare de pedir desculpa, você não fez nada de errado ao gostar de meninas. Você nasceu assim, e não é nada demais. Não é pecado, não é errado, não é crime!

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