Capítulo 09

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P.O.V. Antonella – 2018

"Chorei

Não procurei esconder

Todos viram, fingiram

Pena de mim não precisava

Ali onde eu chorei

Qualquer um chorava

Dar a volta por cima que eu dei

Quero ver quem dava..."

Volta por cima – Jorge Aragão

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Depois de tantos anos trabalhando na Matsoteq, tenho ainda mais certeza de duas coisas: odeio meu pai, e vou derrubá-lo do seu pedestal.

O filho da puta entrou na justiça alegando irregularidades no testamento da minha mãe, o que levou ao congelamento dos bens, e com isso me deixou quase sem nada. Provavelmente fez o mesmo com Álvaro, porém a vida dele não me interessa.

E para piorar, quando me impus em busca de um lugar na administração da empresa, ele riu com escárnio e disse que eu poderia no máximo ocupar a vaga em aberto no Centro de Distribuição de Peças - CDP, ou seja, a função mais básica, com o menor salário entre todos.

O que eu fiz? Aceitei, porém com uma condição: ele não atrapalharia minhas chances de promoção.

Acreditando que eu não seria capaz de crescer com meus próprios méritos, o CEO aceitou e assinou um contrato deixando isso claro. Ele parecia muito satisfeito ao achar que acompanharia de perto meu fracasso.

Só para irritá-lo mais um pouco, aceitei alguns trabalhos como modelo no Brasil e fazia questão de me apresentar com o sobrenome Matarazzi na empresa, deixando claro que era filha do poderoso chefão.

Rapidamente a história se espalhou e ele passou a ser ainda mais odiado pelos funcionários, afinal os meus colegas compraram minha briga sem que eu sequer pedisse por isso.

Não que isso fizesse diferença para um psicopata, mas não fez muito bem aos negócios quando, durante uma homenagem marcada para comemorar os setenta anos da empresa fundada por meu avô materno, a grande maioria dos presentes simplesmente deu as costas para o palco quando o CEO foi chamado para discursar.

Juro que não tive nada a ver com isso, mas confesso que ri descaradamente enquanto as pessoas simplesmente passaram a ignorar o protocolo.

Depois desse vexame, ele deu um ataque de pelancas na sua sala e me chamou para uma conversa, ou melhor, para uma sessão de gritos. Escutei calada, porém sorrindo, o que aumentava ainda mais seu ódio.

Fui ameaçada descaradamente e saí da sala tão muda quanto estava quando entrei. Na época eu havia acabado de ser promovida ao cargo de supervisora de pedidos do CDP.

Os anos foram passando, fiz cursos, viajei para outras unidades, continuei respeitada pelos colegas e subindo na empresa.

Hoje sou gerente de operações, ficando apenas três cargos abaixo dele no organograma geral.

É tão legal quando temos reuniões gerencias com a sua presença! Adoro afrontá-lo, e sou a única que tem colhões para dizer na cara o que os outros se borram de medo de falar.

Enfim, é desgastante e muito cansativo, pois alio as duas carreiras e quase não tenho tempo para nada, principalmente depois que comecei a terceira faculdade, de engenharia mecânica.

Trabalho durante o dia, estudo à noite, e nos fins de semana estou modelando ou praticando algum esporte radical.

Amo paraquedas e bungee jump! Com tanto estresse, preciso de alguma coisa para descarregar as energias negativas.

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