— Prem, pelo amor dos deuses! Onde você esteve o dia todo? — Perth perguntou num tom baixo, um misto de raiva e preocupação.
— Desculpa, eu... Eu achei uma coisa ontem e queria investigar. Aí acabei me perdendo. — Ele deu de ombros.
— Ah, me erra! Se você tá mentindo pra mim, é porque não pode me contar a verdade, então não vou te perguntar mais. Mas isso... — Ele deu um tapa na nuca do amigo — É por ter me deixado tão preocupado!
Prem acariciou o lugar atingido, sorrindo fraco, sem saber se sentia mais dor no local ou apreço pela compreensão de Perth.
— Você teve sorte, voltou na hora do jantar. Vem, vamos voltar pro acampamento antes que seja tarde demais.
— Sim, senhor! — Estava acostumado com a seriedade do amigo quando o assunto era estudo. Ele se concentrava demais e se esquecia de tudo o que não envolvesse o assunto. Sendo assim, apenas o seguiu em silêncio até o calor da fogueira e a segurança da turma.
Prem não comeu muito durante o jantar, por estar saciado por causa do chá da tarde na casa de Lino. Perth estranhou, mas não questionou.
· 🦇 ·
De volta à barraca, Prem não conseguia ficar quieto. Se mexia, girando o corpo de um lado para o outro no saco de dormir, sem ousar fechar os olhos.
— Prem.
Ele se virou para encarar o amigo, que estava quieto olhando para o teto da barraca.
— Sim?
— Pelo amor, para de se mexer.
O garoto congelou na posição, envergonhado e sentindo-se culpado. Voltou a virar o corpo devagar, deitando-se para o lado oposto ao que Perth estava. Sentiu a ansiedade corroer seu interior aos poucos durante a noite enquanto não conseguia dormir, animado demais para a festa que aconteceria na madrugada seguinte.
Mas, quanto mais pensava nela, mais triste ficava. Não queria ir embora.
Tanto não queria ir embora que se viu mais uma vez na floresta, entre as árvores tão lindas da área do Fio Vermelho. Ao olhar ao redor, percebeu Lino, Boun e Rey com chapéus de festa, sorrindo e dançando, então tocou a própria cabeça, percebendo que ele também usava um acessório daquele. Com um sorriso, olhou para trás, vendo o grande cogumelo branco, azul e cinza, que reconheceu ser a casa do lusante, com a porta aberta. Andando em sua direção, foi capaz de ver um bolo enfeitado em cima da mesa da sala de estar. Ia tocá-lo, mas assim que estendeu a mão, ele sumiu. Como fumaça, tudo à sua volta se dissipou mais uma vez, como era costume em seus sonhos.
Tudo era breu. Não havia qualquer sinal de iluminação no lugar onde estava, e, com a cegueira induzida, seus outros sentidos se aguçaram. Assim, ele era capaz de escutar em alto e bom tom os sons dos conhecidos aparelhos hospitalares.
— Prem...
Era uma voz conhecida que dizia seu nome. Uma voz doce, mas não tanto quanto a de sua mãe...
— Prem! — Ele acordou num susto, quase batendo a cabeça na de Perth, que o chamava preocupado — Você tá bem?
Ele ainda estava meio zonzo, tonto e com dor nos olhos por conta da claridade.
— O que foi? O que aconteceu? — ele perguntou devagar, escondendo os olhos com a mão.
— Você parecia angustiado, tava tremendo e com a respiração ofegante...
Perth o ajudou a se sentar no saco de dormir, segurando suas costas. Ele bocejou, se espreguiçou e então tocou a própria testa, descobrindo que suava frio. Ao encarar o amigo, percebeu seu olhar apreensivo. Ambos seguraram a vontade de falar algo, no entanto, e apenas se levantaram em silêncio para se juntarem ao resto da turma no café da manhã.
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Sonho Místico [bounprem/premboun]
FanfictionPrem Warut, um estudante de Ciências Místicas curioso e corajoso demais, conhece em uma de suas aulas-campo Boun Noppanut, o vampiro mais temido da região, que o faz perceber a beleza por trás dos obscuros mitos e lendas sobre os folclóricos monstro...