4 | Lua Minguante

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— Mas não vai poder ser hoje. Voltem amanhã durante o dia e nós responderemos a todas as suas perguntas. Apenas me prometam que vocês vão ficar bem longe do Fio Vermelho.

— Prometemos — os amigos disseram em uníssono e seguiram o olhar de Off em direção à lua.

Era o último dia em que a lua estaria cheia.

Preocupados, despediram-se e voltaram rapidamente ao acampamento, torcendo para que ninguém tivesse sentido sua falta. Bem, por sorte, apenas uma pessoa percebeu.

— Perth! Prem! Pelo amor dos Deuses, o que aconteceu? Já é a segunda vez que isso acontece, onde anda a cabeça de vocês?!

— Sammy! Você não vai acreditar, nós temos um monte de coisa pra te contar! — Prem declarou. Ele ia começar a tagarelar sobre tudo o que passaram, mas — felizmente — foi interrompido pelo professor, que anunciava o horário de jantar.

Indo em direção à fogueira, o mais novo sentiu algo estranho. Ao olhar para a frente no horizonte, percebeu, entre as árvores distantes, algo que o fez estremecer.

Com o estômago revirado e um nó na garganta, encarou o par de olhos cor de sangue que brilhavam em sua direção. E só então ele se deu conta: não deveria contar nada a ninguém.

— E então, como ia dizendo? — Samantha voltou a perguntar, curiosa, querendo continuar o assunto.

— Não, não era nada, só... Depois a gente te conta... — respondeu baixo, ainda encarando os olhos que o vigiavam de longe.

No dia seguinte, os dois fizeram questão de acordar cedo e comerem logo para não perderem um segundo sequer com Off e Gun antes que a lua começasse a brilhar no céu. Quando os encontraram, no mesmo lugar em que se despediram no dia anterior, já tinham uma lista de perguntas na ponta da língua, e, assim que tiveram a chance, começaram a disparar.

— O que acontece se nos encontrarmos quando não for lua cheia? — Prem perguntou rapidamente.

— O que aconteceu quando o Prem tocou o Fio Vermelho naquele dia? — As vozes dos garotos saíam quase ao mesmo tempo, embaralhadas.

— Por que todas as pessoas têm tanto medo do Boun?

— Como são os vampiros? — Perth perguntou com entusiasmo.

— Como funciona a transformação dos lobisomens? — A voz de Prem sobressaiu, curioso e com a mente martelando uma enxurrada de questionamentos.

— O que acontece com quem ultrapassa o Fio Vermelho?

— Qual a relação entre vocês dois? — Prem prosseguiu, audacioso.

— Como funcionam o espaço e o tempo aqui na floresta?

— OK! CALMA, CALMA, CALMA! UMA PERGUNTA DE CADA VEZ!

— Mas antes, eu mesmo tenho uma pergunta. Você não tem medo da morte, tem, Prem? — Gun perguntou num tom de brincadeira, mas com um fundo de seriedade. O garoto apenas sorriu envergonhado, sabendo das ciladas em que se metera.

— Agora sim. Qual pergunta querem que a gente responda primeiro? — Off retomou o raciocínio.

— O que vocês dois são? — Prem tornou a perguntar, exalando curiosidade.

— Lobisomens...? — Gun respondeu, confuso.

— Não, isso eu sei, mas... O que são um do outro...?

— Ah, sim. A gente namora — o menor respondeu simplista, dando de ombros. Sua expressão mudou para assustada quando Off deu uma cotovelada de repreensão em sua costela.

— Ótimo. Me deve um lanche, Perth — Prem anunciou, sorrindo orgulhoso. O amigo apenas revirou os olhos, admitindo a derrota da aposta que fizeram enquanto tentavam encontrar os lobisomens no dia anterior. Gun riu e balançou a cabeça, indicando que continuassem com o interrogatório.

— Ok. O que acontece quando nenhuma das luas tá cheia?

— Nós viramos lobos definitivamente e todos os nossos instintos animais vêm à tona novamente, deixando a razão quase adormecida. Por isso vocês correm perigo de vida.

— Exato. Nós apenas tomamos nossas formas humanas em época de luas cheias, e a razão vence nossos instintos.

— Entendi... Por isso não podemos nos ver a partir de hoje à noite?

Os dois concordaram com a cabeça.

Depois de alguns segundos em silêncio, voltaram a fazer perguntas.

— Como é que funciona a Floresta Mística?

— Ok, essa é uma história longa.

Agradecidos por terem ido ainda cedo de manhã, Prem e Perth ajeitaram a postura, se preparando para a quantidade de explicações que viria a seguir.

— A princípio esta é uma floresta normal, se excluirmos as espécies ditas por vocês como místicas. O que não funciona de modo comum aqui é a área do Fio Vermelho. Ninguém sabe como, quando ou o porquê, mas ele é enfeitiçado. Você percebeu, Perth, quando Prem ficou paralisado encarando o brilho do Fio, certo?

O garoto fez que sim com a cabeça em silêncio, respondendo Gun.

— Então — o namorado dele continuou — Não se sabe o que acontece exatamente com quem sofre isso, nem mesmo a própria pessoa, já que sua mente vira um branco total, mas sabemos que um toque é capaz de causar um choque temporal num círculo de diâmetro quilométrico. É como se tudo em volta do Fio simplesmente parasse, mas o tempo continuasse correndo. O tempo na área do Fio Vermelho também passa diferente.

Agora tudo (ou quase tudo) fazia sentido. Por isso é que, quando eles voltaram ao acampamento, estava muito mais tarde do que realmente deveria estar!

Os garotos ainda tinham uma infinidade de perguntas, mas no momento parecia que tudo tinha se alinhado. Tudo parecia certo e fazia um pouco de sentido em suas cabeças e eles se sentiam mais tranquilos. Nenhuma outra questão lhes veio à mente mais.

Passado algum tempo em silêncio, assimilando todas aquelas informações, se lembraram de que deveriam voltar ao trabalho. Após pedirem permissão aos dois mais velhos, Prem tirou uma foto incrível para colocar no dispositivo-tablet, afinal, eram lobisomens. Então, escreveram muito sobre a espécie com a ajuda dos dois ali. Depois, juntos, os quatro continuaram a exploração pela floresta, tirando fotos, escrevendo e descrevendo espécies. Tudo estava perfeito.

Perfeito demais.

Ou pelo menos parecia perfeito.

Lá no fundo, Prem sabia e sentia que algo estava errado. E no final da tarde, já de volta ao acampamento, ao olhar para o lado, ele se deu conta do que era. Ao longe, mais uma vez, os mesmos olhos vermelhos observavam o fundo de sua alma.

Duas das perguntas ficaram sem resposta, mas já estava começando a escurecer: eles não tinham mais tempo para fazer perguntas para os dois novos amigos.

Prem teria que averiguar por si só naquela noite.

Sonho Místico [bounprem/premboun]Onde histórias criam vida. Descubra agora