12 | Um fio de esperança

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A mente de Prem estava longe dali. Tão longe que ele mal escutava os aparelhos fazendo barulho naquele quarto de hospital. Tão longe que ele demorou a perceber a voz rouca e fraca que dizia seu nome pela terceira ou quarta vez.

— Prem... — a voz chamava, trêmula.

— Mãe? — Ele finalmente acordou de seus devaneios — Mãe! — Levantou-se do pequeno sofá e correu até a poltrona ao lado da cama da mulher, segurando sua mão — Mãe, a senhora tá bem? — Ele estava preocupado, isso era nítido em sua voz e expressão facial.

— Prem... — Ela levantou o olhar para ele e sorriu, fazendo-o sorrir também. Ele estava tão emocionado que esqueceu que deveria chamar o enfermeiro ou a médica caso ela acordasse do breve coma. Quando finalmente se lembrou, apertou o botão na mesinha do lado da cama, o que o fez ouvir um som baixinho de apito. Passaram-se apenas alguns segundos antes da porta se abrir e dar espaço ao mesmo enfermeiro do holograma que recebera no dia anterior. Com um aceno de cabeça, cumprimentou-o em silêncio, sem sair dali ou soltar a mão da paciente.

· 🦇 ·

Na Floresta Mística, Boun foi o primeiro a perceber o atraso de Prem, poucos minutos após as três da manhã. O vampiro se preocupou, sabia que o garoto não era de se atrasar para eventos de seu interesse, mas ficou quieto. Mais minutos se passaram, Boun se preocupava mais e mais, até que Lino pareceu finalmente perceber também.

— Ele tá demorando... — Ele estava chateado, afinal, eles tinham um combinado.

— Eu não botava fé nele desde o início — Rey denunciou, mesmo sabendo, no fundo, que algo estava errado. Ele apenas queria que Lino ficasse o mais longe possível do humano.

— Algo aconteceu — Boun pensou em voz alta.

— Como?

— Algo aconteceu com ele, Lino.

— Como você sabe...?

— Ele não se atrasa quando realmente quer estar em algum lugar — disse pensativo antes de desaparecer dali, se desfazendo em inúmeros morcegos. Lino odiava quando ele fazia isso.

· 🦇 ·

Na cidade vizinha à Floresta Mística, no hospital Griffin Cêntero, um dos quartos já escuros era ocupado por uma mulher fraca e abalada, adormecida na cama, e seu filho que, sentado numa poltrona, observava o céu noturno de forma estranhamente quieta pela janela aberta. Ele estava tão concentrado em seus pensamentos que nem percebeu quando uma quantidade enorme de morcegos se aproximou rapidamente, se levantando de um pulo ao passarem pela janela e se fundirem, formando o corpo de Boun de pé em sua frente.

— O que diabos... — começou, baixinho para não acordar Malee, tentando entender o que estava acontecendo ali.

— Me alivia ver que você está bem — o vampiro disse no mesmo tom de voz, o encarando com uma expressão de seriedade e preocupação.

— Eu estou... Mas minha mãe não. — Prem apreciava a preocupação de Boun, mas ela de nada adiantava para si. Ele se virou para observar a mulher que dormia tranquilamente, tocando com cuidado seu braço.

O outro se aproximou devagar, parando perto o suficiente para tocar levemente o ombro do humano, num gesto de consolo:

— Eu sinto muito... — Sua voz soava melancólica e muito sincera, assim como seu rosto demonstrava quando Prem se virou para olhá-lo — Você quer conversar sobre isso? Você pode contar comigo para isso e para o que precisar, saiba disso.

Prem o encarou por um momento, depois passou a fitar a própria mão que acariciava a pele da mãe. Talvez fosse mesmo uma boa começar a se abrir com outras pessoas. Guardar as coisas para si realmente o deixava mais pesado e mais deprimido a cada dia, ele percebeu que Rey estava certo.

— Sim, por favor... — Voltou a encarar o mais alto com os olhos marejados e um semblante cansado.

Boun então se sentou numa ponta do sofá do outro lado do quarto, dando dois tapinhas na almofada ao seu lado para que o garoto fizesse o mesmo. Prem o seguiu, se sentou sem fazer contato visual e suspirou pesadamente.

— Não sei por onde começar — confessou.

— Comece pelo começo. — O vampiro tocou a mão do humano que repousava na coxa, acariciando-a com carinho — O que ela tem?

Prem suspirou mais uma vez.

— Ela tem uma doença que ataca os órgãos internos um de cada vez, a começar pelos pulmões. Ela era cientista mística antes de ser internada e ia muito à Floresta Mística para estudar. Ela disse que acha que pegou essa doença quando se cortou com os espinhos de alguma planta venenosa, mas não conseguiu identificar qual era. — Uma lágrima escorreu silenciosa por sua bochecha — Nenhum médico consegue encontrar a cura e nós não sabemos quanto tempo ela tem sobrando.

Os dois não faziam contato visual: Prem fitava o chão enquanto o maior observava cautelosamente seu rosto triste sem soltar um único som, mas prestando completa atenção.

Depois de um longo período de silêncio, quando o humano finalmente o encarou, com o rosto molhado de choro expressando sua desesperança, Boun suspirou e o abraçou, fazendo um carinho delicado em suas costas.

— Sei com qual planta sua mãe se machucou — ele disse no tom sério que Prem já conhecia bem — E sei qual planta deve ser usada para produzir o antídoto.

Prem se afastou num espasmo, encarando o platinado com súbita esperança.

— Existe um antídoto?! — Um sorriso começou a se abrir em seus lábios, fazendo o vampiro sorrir também inconscientemente.

— Existe um ditado na floresta: "se uma planta causou, outra planta pode reverter" — respondeu orgulhoso — Você só precisa saber onde procurar.

Agora ambos sorriam grande um para o outro, demonstrando a felicidade de encontrar a luz no fim de um túnel tão sombrio. Prem impulsivamente puxou Boun para mais um abraço, dessa vez mais apertado. O mais alto demorou um pouco para reagir, mas retribuiu o ato já com uma certa consciência de para onde as coisas estavam indo dentro de si.

— Espera — Prem interrompeu o abraço, encarando Boun de forma desconfiada — Como você sabia onde eu tava?

— Perguntei aos gnomos se sabiam o que estava acontecendo. Alguns deles te viram receber o holograma, então sabiam onde você estaria — o vampiro respondeu com um sorriso gentil — Eu realmente me preocupei quando você não apareceu, Prem.

— Me desculpa... — Ele desviou o olhar, coçando a nuca — E... Obrigado pela preocupação.

Boun deu um aceno de cabeça, abrindo um pouco mais o sorriso, e acariciou o cabelo do humano.

— Você quer voltar para o acampamento? Ainda dá tempo, posso te levar para que você possa terminar seus estudos — sugeriu, ainda com a mão repousada carinhosamente na cabeça alheia.

Prem pensou por um instante, em silêncio. A condição de sua mãe estava estável, ela estava bem por enquanto.

— Quero — respondeu num tom decidido. Ele precisava voltar à floresta uma última vez para procurar a cura.

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⏰ Última atualização: Apr 14 ⏰

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Sonho Místico [bounprem/premboun]Onde histórias criam vida. Descubra agora