5 | Uma péssima ideia...?

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A lua brilhava alta e solitária no céu e Prem ainda não havia conseguido pregar os olhos. Sentia a adrenalina percorrer suas veias, e seus batimentos aceleravam a cada vez que fechava suas pálpebras. No escuro total do pensamento, a única coisa visível aos olhos fechados de Prem eram os olhos vermelhos de Boun encarando sua alma. Sentia-se vigiado mesmo que dentro de sua barraca. Sentia que algo aconteceria se continuasse ali. E uma voz dentro de si o dizia que não era algo bom.

Foi necessário algum tempo para que o garoto encontrasse toda a coragem necessária para sair mais uma vez do conforto abrigo e obedecer à voz que o chamava.

Dessa vez, já agasalhado e ainda extremamente assustado, deixou a câmera dentro da mala. Sentia que seria melhor não arriscar mais do que sabia que não deveria.

Com um suspiro profundo de olhos fechados, esfregou as palmas uma contra a outra na tentativa de se aquecer um pouco, e foi. Sem olhar para cima, apenas deixou suas pernas o levarem de forma automática de volta à árvore que abrigava os tão bonitos, mas igualmente perigosos fungos elípticos.

· 🦇 ·

Lá estava Prem novamente: no centro da floresta, encarando o Fio Vermelho. A lua já não estava mais cheia, então Off e Gun não estariam ali para ajudá-lo caso se metesse em problemas. Mas algo dentro de si dizia ser seguro prosseguir. Uma pequena voz o pedia para ultrapassar mais uma vez a linha proibida, e dessa vez não era a mesma voz que o guiara junto do seu melhor amigo a um buraco cheio de mini aranhas voadoras.

Sentindo que algo forte o chamava, ultrapassou mais uma vez o Fio, e viu a floresta escura e assustadora à sua volta ser magicamente substituída pelas árvores alegres e cheias de criaturas magníficas e brilhantes que vira na vez anterior. Igualmente encantado com a preciosidade do local, andou devagar para apreciar tudo, se deixando levar. Com o maior sorriso do mundo, seguiu um bichinho que parecia um fofo coelho, porém de pelagem azul-turquesa e tamanho de um cachorro de médio porte, que o hipnotizou com seus pulinhos e piruetas.

Maravilhado como estava com o bonito animal, não foi capaz de perceber uma rápida movimentação atrás de si. Só notou algo diferente quando a saltitante bola de pelos azul disparou a se esconder em meio a um arbusto.

Tudo era silêncio. Estava sozinho em meio a tanta tensão. Até mesmo a grama luminosa parecia brilhar menos. Os únicos sons que Prem conseguia distinguir eram sua respiração pesada e as fortes batidas de seu coração. Estava em alerta, e sentia medo.

Mas o barulho cessou. Um par de mãos pousou firmemente em seu corpo por cima do tecido macio, uma em sua cintura e a outra em seu peito, prendendo o movimento de seu braço esquerdo, segurando-o com possessividade. Uma respiração lenta e quente tocava a pele arrepiada de seu pescoço, ao passo que sua própria respiração estava presa na garganta em meio à sua aterrorizada paralisação.

Cada milésimo de segundo parecia eterno e Prem simplesmente não sabia o que fazer. Ao mesmo tempo em que sua mente corria uma maratona na tentativa de processar algo, seus pensamentos eram um branco total. A única coisa que o garoto tinha certeza era de que estava fodido. Sobrevivera ao vampiro mais temido de toda Tailândia duas vezes, seria simplesmente impossível sair vivo daquela.

Ele até tentaria escapar daqueles braços tão fortes e decididos se tivesse alguma força restante em seu corpo, mas sabia que talvez seria pior. Percebendo que não tinha saída, fechou os olhos e respirou fundo. Em silêncio, despediu-se de Sammy, de Erik e de Triscan. Agradeceu ao professor por tudo o que havia lhe ensinado e tudo com o que lhe havia ajudado. Desculpou-se com Off e Gun por ter sido tão insistente e inconsequente mesmo após ter sua vida salva por eles tantas vezes seguidas. Ouviu em sua mente a voz irritada de Perth gritando consigo enquanto o abraçava forte, depois de lhe ter dado um belo de um tapa na parte de trás de sua cabeça. Abraçou com força a mulher de sua vida.

Não sabia o que viria a seguir, mas estava pronto. Apertou as unhas contra as palmas das mãos que suavam frio, com medo, certo de que sentiria os dentes afiados roçarem seu pescoço a qualquer momento.

Mas ele não sentiu. Prem abriu os olhos num misto de susto e confusão quando Boun o girou repentinamente, encarando seus olhos escuros a uma distância desconfortavelmente curta. Dessa vez, a sensação era de que a criatura a sua frente não só lia e analisava sua alma, mas tinha posse de todo o seu espírito. Ser observado tão de perto por esses olhos tão poderosos e ameaçadores foi, sem dúvidas, a experiência mais traumatizante que o pequeno garoto já havia vivido (logo seguida pelo episódio das mini aranhas voadoras, claro).

As mãos de Boun continuavam segurando com certa força a cintura de Prem, de forma que este não conseguia ao menos se mover. Com o coração extremamente acelerado e todos os pêlos de seu corpo arrepiados, o estudante seguia sentindo a pele indescritivelmente clara do rosto do vampiro perto até demais da sua própria, e era simplesmente incapaz de mexer voluntariamente um único músculo. Seu corpo estava tão tenso quanto o ar ao redor dos dois. O clima ali era quase palpável.

Quando Boun finalmente amenizou o toque no tronco de Prem e o deixou respirar um pouco mais tranquilamente, a tortura acabou. Ou pelo menos parte dela. O olhar se intensificou, como se o vampiro desejasse, por meio daquele encarar, conhecer tudo sobre sua vítima. Bem, dizem que os olhos são a janela da alma.

Sem se afastar, a criatura levantou um pouco a cabeça, cheirando os macios cabelos do garoto à sua frente. Mais confuso ainda, o menor continuou quieto, tentando acalmar a respiração. Depois do topo da cabeça, cheirou a testa do humano. Então desceu para suas bochechas, e logo para seus ombros. Parecia um cachorro farejando as compras do mês que chegavam do supermercado, mas de uma maneira menos eufórica.

Prem pensava que todo o "reconhecimento-olfatal" havia acabado e que estava a salvo, quando seus olhos encontraram novamente as assustadoras íris vermelhas. Com um suspiro lento, a mão gelada tocou suavemente a pele macia de seu rosto.

Seu coração voltou a bater rápido em desespero.

Sonho Místico [bounprem/premboun]Onde histórias criam vida. Descubra agora