Six Blake
— Vamos fazer algo divertido, rostinho bonito? — Ela pediu, colocando o seu lábio inferior entre os dentes.
— A única coisa divertida que eu quero fazer com você é te matar.
— Então, me mate. Me mate de praze-
— Tá com sono? Tá carente? Tá com caganeira? Não? Então deixe de ser palhaça. — Encarei ela com as sobrancelhas franzidas e a Ocean prendeu a risada.
Vou acabar quebrando a porta com a cabeça dela.
Suspirando e fechando os olhos, eu aproveitei os breves minutos de silêncio, até a voz da Ocean soar.
Demônia desgraçada.
— Eu tenho uma pergunta. — Anunciou. — Genuína.
— Uma resposta genuína, então. — Abri os olhos e me virei pra ela, já encontrando a mesma me encarando e eu me perguntei se o tempo todo que eu estava com os olhos fechados, ela me encarou também.
— O que é algo que você não se arrepende? — Questionou.
Olhei para o teto de madeira tentando pensar. Perguntas assim sempre me faziam pensar muito e eu não conseguia uma resposta de imediato.
— Estudar. — Sussurrei e a Ocean me encarou confusa. — Estudar do jeito que eu estudo. Incansavelmente. Mesmo quando eu não quero ou não consigo. Porque eu sei que vai valer a pena, quando eu conquistar tudo que eu quero.
— Você não precisa estudar incansavelmente pra ser bem sucedida. — A Ocean deu de ombros. — Notas perfeitas não importam tanto. Não são apenas elas que te fazem entrar para uma universidade incrível.
— Infelizmente, neste mundo, as notas importam muito. E talvez eu não precise de entrar em Harvard, sequer, pra ser bem sucedida, ou até mesmo ter notas perfeitas como promessa de que eu vou me tornar o que eu sempre sonhei. Mas neste mundo, o meu mundo, as minhas notas vão influenciar o quão bem sucedida eu posso ser. Porque se eu falhar agora, como vai ser depois? Se eu falhar agora, errando uma pergunta, o que eu posso causar no futuro quando eu me tornar uma médica?
As palavras saiam da minha boca com velocidade, como se tudo que estava preso na minha garganta por anos tivesse acabado de fugir. E percebendo isso, eu me virei para a Ocean assustada.
— Se eu pudesse escolher ser de outro jeito, eu escolheria. — Sussurrei. — Eu não estou escolhendo morrer por amar estudar, eu estou fazendo isso tudo pra deixar os meus pais orgulhosos. Isso é tudo que eu preciso.
— Eles já têm orgulho de você. — A Ocean soltou com relutância.
Os meus olhos fitaram os da Ocean, examinando cada porção do seu rosto, e eu pisquei algumas vezes tentando afastar as lágrimas.
Eles teriam orgulho de mim se soubessem o que eu tenho feito? Será que eles teriam orgulho de mim se me vissem tomando cada vez mais comprimidos, e desmaiando em cima dos meus livros porque eu tenho esquecido de cuidar de mim, porque o tempo parece tão curto de repente, porque eu já não entendo o que é real ou não?
Mas vale a pena. Vai valer a pena, quando eles não sentirem nada além de orgulho.
— Temos de tentar pra conseguir o que queremos, né? Não importa o que custe. — Soltei sem pensar.
— Eu acredito que depende do que você está sacrificando. — A Ocean inclinou a cabeça na minha direção. — Eu não sacrificaria você.
— Mas temos uma vida! — Falei desacreditada, me aproximando pra sentar na frente da Ocean. — Apenas uma. Por que não estamos correndo pra realizar os nossos sonhos como se estivéssemos pegando fogo? — Sorri tentando persuadir ela.
Ocean apenas prestava atenção no pouco espaço que havia entre os nosso corpos, me fazendo travar e recuar.
— Fica. — Ela me olhou franzindo a testa, como se não entendesse porque eu estava recuando.
— Não, eu tava sentada ali.
— Ali tem aranhas e é mais fácil conversar com você se você estiver na minha frente, meu pescoço já tava até doendo de olhar pra você de lado. — Argumentou.
Eu apenas franzi as sobrancelhas considerando.
— Eu até ouvi sobre alguém que ficou com o pescoço preso assim, eu não quero ficar com o pescoço preso, seria muito estranho chupar alguém desse jeit-
— Tá bom, eu sento. Mas não porque eu queria, porque eu não queria. — Esclareci voltando a me aproximar.
A Ocean abriu um sorriso gigante jogando a cabeça pra trás e eu fiz uma careta confusa não entendendo se ela tava se exorcizando.
— Por que você tá sorrindo? — Perguntei e ela abaixou o rosto apenas o suficiente pra me encarar por cima do nariz, ainda com um sorriso na cara.
— Você sabe o porquê... — Brincou.
Então ela fechou os olhos, ainda com a cabeça jogada contra a parede. Eu tinha uma visão perfeita do seu pescoço e de como ela engoliu seco quando eu me ajeitei no chão, cruzando as minhas pernas do melhor jeito possível, por causa da minha calcinha enfiada na bunda.
— Haley. — Chamei, quando parecia que ela tinha adormecido.
— Senhor, tira essa vontade de mim que o senhor sabe muito bem o que é. — Ela murmurou ainda com os olhos fechados e unindo as mãos.
— Deus responde todas as orações, mas as vezes a resposta dele é não. — Brinquei dando de ombros.
— Então você acha que eu não deveria me controlar? — Abriu os olhos e depois de alguns segundos encarando o teto, voltou os olhos para mim, me fazendo engolir seco. — Você acha que eu deveria fazer o que tenho vontade?
— O que você tem vontade de fazer, boquinha suja? — Inclinei minha cabeça para o lado, o meu cabelo roçando no ombro.
— Acabar com você. — Soltou.
— De que maneiras? — Comecei a brincar com o meu vestido, não quebrando o contato visual.
— As melhores.
— Me matando? — Sorri.
— Você é tão, mas tão, lerda. — Ela negou com a cabeça.
— Você tem a personalidade de uma tábua. — Xinguei de volta.
— Eu prefiro dormir do lado de uma cobra do que do seu. — Soltou.
— Você e uma cobra não têm muita diferença. — Ergui uma sobrancelha.
— Ambas adoraríamos te morder. — Ocean sorriu.
— Bullying. — Recuei franzindo a testa.
— Flerte. — Corrigiu e eu arregalei os olhos levemente.
continua...
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Dupla Indesejada
Подростковая литератураSix Blake, é a filha que todo pai quer, mas ela não tem pai nem mãe. Depois de seus primeiros 7 anos de vida sendo negligenciada pelo pai biológico, logo depois da mãe a ter abandonado, Six é adotada por um casal adorável. Então, decide que a sua ún...