26_ Eu to bem.

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Six Blake

— Dá pra notar que a minha namorada me largou? — O Gavin perguntou pensativo e eu me forcei a sorrir.

Ele passou o braço pelo meu ombro saindo da mansão e eu olhei em volta, pela última vez tentando achar a Eva.

O Gavin prometeu voltar e procurar por ela, assim que ele me deixasse em casa.

— A parada é o seguinte, quem chegar até os 25 sem filho, ganha. — Apostou e eu olhei pra ele zombando. — Ok, talvez eu case com você quando a gente tiver 69, só faltam 51 anos. — Sorriu.

— Talvez. — Sussurrei.

[...]

Entrei em casa e tentei fazer o máximo de silêncio possível, quando eu cheguei na escada, notei a Olive adormecida no sofá.

Ela estava esperando por mim.

Um pequeno sorriso apareceu nos meus lábios enquanto eu subia a escada. Chegando no meu quarto, eu tomei banho e troquei de roupa, decidindo ajeitar as coisas para o início da semana.

Eu tinha que entregar o trabalho de história em dupla com a Ocean amanhã, bem como eu também tinha que entregar o projeto de artes.

Peguei o frasco de comprimidos, vendo que sobravam apenas 5 naquele frasco e tomei 2 de uma vez só.

Assim que eu sentei na cadeira e abri o computador, uma vontade de vomitar me preencheu. Eu levantei da cadeira e corri até o banheiro, me ajoelhando diante do vaso pra de vomitar.

O gosto azedo preencheu a minha boca e antes que eu conseguisse evitar, o líquido já saia de mim com rapidez.

Vi os comprimidos no vômito e o pânico me preencheu, mas eu não consegui pensar por muito tempo, antes do segundo e o terceiro e o quarto vômito aparecerem.

Eu lembro que uma vez a Olive me perguntou sobre o meu pai biológico. Eu não falava sobre ele para ninguém. Mas era a Olive, então, eu contei para ela, que uma das únicas lembranças que eu tinha dele era sobre a quantidade de vezes que ele chegava em casa e ia direto para o banheiro vomitar. Eu lembro de ter seguido ele uma vez, e eu assisti o homem que me trouxe para esse mundo vomitar vezes seguidas no vaso.

Eu lembro de como ele não parecia tão assustador daquela forma e eu decidi que aquela seria a única coisa que eu gostaria de me lembrar dele:

Que ele não era assustador, ele era destruído.

— Six? — Ouvi a voz da minha irmã na porta e levantei a cabeça enquanto duas lágrimas rolavam pelas minhas bochechas.

Eu limpei as lágrimas rapidamente, me apoiando em qualquer coisa que eu encontrasse na frente para levantar.

— Eu to bem.

Eu me sinto tão fraca, como se o meu corpo estivesse desistindo dele mesmo e eu não pudesse fazer nada pra persuadir ele a continuar.

Porque nem eu mesmo quero continuar.

Dói tanto continuar...

Mas assim que eu estava de pé, voltei a cair de joelhos no chão.

A minha garganta ardia e eu tinha vontade de abraçar a minha mãe e chorar, mas se ela me visse desse jeito, ela saberia.

Ela descobriria que alguma coisa tá errada.

— Você não parece bem. — A Olive veio até mim, tentando me puxar pra cima.

Eu empurrei a mão dela e a Olive me encarou confusa e juntando os lábios.

— Eu disse que estou bem, você pode ir dormir. — Assenti, me levantando mais uma vez. Dessa vez eu permaneci de pé e encarei os olhos verdes da minha irmã. — Vai.

A Olive assentiu e começou a andar em direção da porta. Eu me virei para o espelho e foquei nos meus olhos avermelhados, segurando firme na pia.

Parecia doloroso ficar de olhos abertos e quando o barulho da porta fechando ecoou, eu percebi que eu estava de olhos fechados.

Abri os olhos e inspirei abrindo a gaveta que eu guardava os frascos dos comprimidos, peguei o que restava apenas 3 e tomei tudo enquanto me olhava no espelho.

O meu cabelo estava mais desarrumado que o habitual, as pontas molhadas do que eu esperava ser a água do banho e não do vômito. Os meus olhos avermelhados voltaram a lacrimejar, mas eu limpei rapidamente a lágrima que tentou escapar. O meu nariz dilatava com a minha respiração e os meus lábios estavam tão sem cor.

Segundos depois, eu voltei a vomitar, e os comprimidos foram junto.

Em desespero, abri um outro frasco e peguei 4, mas antes que eu conseguisse engolir eles, ouvi um barulho no banheiro me fazendo virar assustada.

Olive.

A minha irmã me encarava com os olhos arregalados.

Ela parecia aterrorizada. De mim.

— Você parece com o seu pai. — Ela murmurou e eu quebrei em pedacinhos tão pequenos e o meu coração inchou tanto que me rasgou de dentro pra fora.

O ar ficou preso na minha garganta, e mesmo quando eu abri a boca, nada saiu.

Os meus olhos se encheram de lágrimas e antes que eu conseguisse controlar, elas já caíam.

— Por que você diria isso pra mim...? — A minha voz falhou.

Talvez tudo que o meu pai tocasse, se tornava tão destruído, quebrado e miserável como ele.

continua...

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fazendo o favor, ainda piora

Dupla IndesejadaOnde histórias criam vida. Descubra agora