RMS Titanic, Oceano Atlântico;
– 11 de Abril de 1912 –
. . .
Na manhã seguinte de nossa viagem no RMS Titanic não havia mais ninguém ao meu lado.
Ele se fora na calada da noite, sem deixar rastros. Ao menos era o que eu pensava antes de ceder ao desejo de afundar meu nariz no travesseiro onde repousou sua cabeça durante o sono e ali estava, o cheiro adocicado de seus cabelos.
Me perdi por extensos minutos aspirando e esfregando minha bochecha ali como se ele ainda não tivesse partido, como se eu ainda pudesse sentir o calor emanando de seu corpo pequeno, ouvir o som de seu ronronar noturno, da sensação de cachos roçando em meu rosto.
A minha mente estava confusa.
Não era certo ou adequado tal comportamento com relação a um irmão, ele poderia ser meu meio-irmão, mas continuava a carregar meu nome, meu sangue e isso deixava bem claro as restrições de nossa relação.
Fiz uso da banheira em minha cabine, a água quente mandou espasmos relaxantes para cada parte mínima do meu corpo. Ao invés de pentear meu cabelo para o lado eu me arrisquei a deixar uma franja, o que não ficou nada mal. Me vesti com um de meus ternos para atividades matutinas e no meio do caminho recolhi um raminho de oliva de um buquê em frente a porta de entrada do café, o sol ainda nascia preguiçoso e o tempo mais frio que eu me lembrava ao embarcarmos. Margaret Brown, que me encontrou na porta disse ser pelo fato de estarmos no coração do Atlântico Norte.
Ela também me contou que estava no convés superior quando viu uma garotinha da terceira classe derrubar a boneca no mar. O pai tencionava pular para resgatar o brinquedo e um dos oficiais do navio o impediu dizendo que ele morreria congelado naquelas águas em questão de minutos.
O que seria pior; morrer congelado ou afogado? Eu francamente não quero saber a resposta.
Nossa mesa é próxima a janela, meus pais estão tendo seu desjejum em companhia dos Calder.
A primeira coisa que noto é a ausência de Harry.
— Com licença, um bom dia a todos. — Os saúdo tomando meu lugar ao lado de Eleanor.
— Bom dia, querido, passou bem a noite? — Minha madrasta pergunta, ajeitando a gola da minha camisa.
A relembrança do corpo cálido de Harry enrolado ao meu me leva a encolher os ombros.
— Sim, eu dormi bem e a senhora?
— Maravilhosamente bem. As camas aqui são esplêndidas!
A Sra. Calder sorriu largo.
— Foi o que eu disse a Ismay quando o encontrei no convés. Este é de fato o navio mais grandioso e confortável no qual já estive. — Seus pequeninos olhos cheios de malícia pousaram no par, no caso eu e sua filha muda — Acredito que o convés D poderia se tornar um lindo cenário para um casamento.
Engasguei com meu croissant. Tentei disfarçar, mas a massa simplesmente parou no meio da minha garganta. Minha mão foi em direção a xícara de chá que me pertencia, contudo Eleanor foi mais rápida a virando de uma vez, talvez fosse ela tentando buscar uma saída para não ter de falar ou apenas enviuvar ao me deixar morrer engasgado.
— Não seria precipitado? — Assim que as palavras saltaram dos lábios de Anne ela recebeu um olhar nada amigável de papai.
— De modo algum. Gwendoline McCarthy está a bordo, é uma das melhores estilistas, poderia fazer um vestido exclusivo em questão de horas.
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ATLANTIC
أدب الهواةLouis carregava o peso do mundo em seus ombros e tudo o que almejava era ser um pouco mais parecido com seu irmão. Harry podia ser atrevido e espirituoso, mas a verdade é que ele tinha um mau pressentimento sobre aquela viagem; uma certeza era válid...