Capítulo 27

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Como passamos bastante tempo rondando pelas cidades da redondeza, passamos a conhecer bem as estradas que os bandos estavam andando. Papai deu o sinal para pararmos próximo ao ponto em que nos encontrávamos perdidos no primeiro dia em que começamos a fugir.

Decidimos pegar um caminho que não havíamos pegado antes, mesmo eu achando um pouco arriscado. T deu ideia de passarmos no riacho próximo dali para pegarmos água e papai concordou enquanto me levava para vasculhar a mata em volta.

-O que há, Ellie? - papai pergunta de repente.

-Não entendi, pai... - respondo.

-Notei você diferente... - ele sabia de algo, sabia, mas queria que eu contasse - Sabe que pode me falar as coisas, não é?

-Sei, pai... Mas às vezes é melhor você não saber. - digo sem olhar para o seu rosto.

-É algo com o Daryl, não é?

Olho rapidamente para papai me acusando. Ele ri pelo nariz por eu ter me entregado sozinha e olha para o chão.

-Você já é maior de idade agora... Não vou ficar dando pitaco na sua vida, mas você sabe o que eu sempre digo... Toda ação tem uma consequência. Pode ser ela boa, ou ruim.

-Pai... - chamo a atenção de papai para algo em nossa frente, mas ele fala evitando me olhar.

-Precisamos conversar, Ellie... Passamos tanto tempo juntos, mas nunca mais conversamos... Sua mãe acha que você está...- papai ainda andava olhando para os lados disfarçando o nervosismo.

-Pai... Olha! - aponto para nossa frente segurando em seu braço e ele olha para onde meus dedos apontam. - Aquilo poderia ser a nossa casa se não estivesse tão cheio. Que lugar é esse?

-Uma prisão... - papai responde surpreso e fica contemplando o local enquanto eu pego água no meu cantil do riacho a nossa frente. - Isso não poderia ser a nossa casa. Isso vai ser a nossa casa! Vou lá chamar os outros, por favor! - diz se embrenhando de volta ao mato de onde viemos.

Não acredito que vamos fazer isso... A última vez que enfrentamos um bando de errantes foi a três meses. Penso enquanto preparava minha pistola. Todos já estavam na beirada do muro esperando os comandos de papai. Ele nos encara e acena.

Glenn corre na frente com um alicate e abre passagem na cerca de fora. Entramos correndo no corredor e eu fecho a passagem com um rolo de arame que tínhamos guardado no carro.

-Vamos! Vamos! - papai nos chama e corremos atrás dele com zumbis eriçados desejando nos devorar, tanto na cerca de fora quanto na de dentro. Chegamos na primeira porta de entrada do presídio. - É perfeito! Se a gente puder fechar aquele portão e impedir que mais zumbis cheguem no pátio, podemos eliminar esses daqui! Vamos tomar o campo até a noite! - diz animado apontando para outro portão dentro do presídio. O problema era que cerca de cinquenta zumbis estavam rondando o local, e com a nossa chegada, mais deles estavam entrando.

O asiático se ofereceu para correr e fechar o portão, mas papai fez uma distribuição rápida de funções onde Glenn, ia com Maggie e Beth para o outro lado chamar atenção dos zumbis para eles, Daryl e Carol iam para uma das torres de vigia atirar nos mortos lá de cima, Hershel e Carl ficariam com a torre mais perto enquanto eu dava cobertura para papai que iria fechar o portão. T ficou encarregado de ficar com a mamãe protegendo-a.

Respiro fundo enquanto mamãe abre o portão pra gente. Papai sai correndo comigo atrás. Escuto um rosnado bem próximo a mim, mas quando olho para trás, o morto já tem uma flecha atravessada na cabeça. Olho para a torre em que o caçador está e ele apenas pisca o olho pra mim. Continuo correndo atirando em alguns zumbis que querem se aproximar de papai. Carol quase acerta papai que para de repente. Esbarro nele e peço desculpas. Ele apenas olha para a torre em que a moça está e ela pede desculpas também.

Enquanto papai conseguia fechar o portão e trancá-lo. Lá estava eu atirando em vários zumbis que chegavam. Logo ele se juntou a mim e me puxou para outra torre. O pessoal começou a atirar para valer e em alguns minutos o local já estava limpo. Podia ver o sorriso do papai no rosto e aquilo aqueceu meu coração. Coisa que não acontecia a muito tempo. Antes de descermos, papai me abraça forte e dá um beijo em cima da minha cabeça. Saímos todos felizes correndo pelo local. Não tínhamos tanto espaço a meses.

Mais tarde, enquanto as pessoas discutiam sobre o que faríamos com tanto espaço, papai circulava pelo terreno. Era a quarta ou quinta ronda dele. Daryl e eu ficamos de vigia em cima de um ônibus que havia capotado no terreno. Estávamos quietos e eu estava começando a gostar disso. Silêncio.

-Pessoal, trouxe alguma coisa para vocês comerem... - Carol apareceu subindo com dificuldade no veículo, eu a ajudei. - Se eu não trouxer comida, vocês não comem. Não é muito, mas dá para os dois.

-É... O Shanezinho ali tem bastante apetite. - Daryl diz zombando da informação que papai nos deu meses atrás. Enquanto não havíamos chegado no acampamento, mamãe resolveu trocar papai pelo outro policial. Aquilo me deixava com os nervos à flor da pele. O caçador percebeu meu mau humor e tirou o sorriso sarcástico do rosto.

Comi uns pedaços de carne, mas meu estômago não andava muito bem esses dias. Ficaria preocupada se Daryl e eu tivéssemos ficado juntos depois daquele dia, mas não tínhamos como, já que todos do grupo permaneceram mais unidos possível, mas eu não tenho como reclamar disso. Carol reclamou de uma dor no ombro por conta dos tiros que deu mais cedo com o rifle e Daryl começou a massageá-la. Fiquei mais puta ainda do que já estava e saí dali sem falar nada. Cruzei o campo e fui para perto do papai.

-Pai... Está tudo bem? - pergunto e ele que parecia estar perdido em seus pensamentos.

-Ah... Oi, princesa. Está sim... Estou apenas pensando no amanhã. Quero tomar essa prisão inteira para nós.

-Vamos fazer isso, pai. Só que você precisa descansar pra nos liderar amanhã. Ficamos seguros mais tempo do que todos imaginavam. As coisas vão mudar agora. Teremos paz finalmente.

Papai me abraça enquanto vejo Carol e Daryl saindo de cima do ônibus e indo se juntar ao grupo. Papai me puxou pela mão até eles e percebi que Beth e Maggie cantavam uma música linda. Daryl foi para o meu lado, mas eu cheguei mais para perto de Carl. Ouvi um suspiro irritado dele.

A madrugada logo chegou e lá estavam todos finalmente dormindo seguros. Pedi para que papai dormisse também, que confiasse a guarda de noite a mim e ele cedeu. Sentada em cima do ônibus eu podia ver todo o arredor. Somente a luz da lua iluminava o local. Como ninguém mais estava acordado, o caçador adormeceu com a cabeça em cima da minha coxa, até ele, o mais durão do grupo havia cedido à nossa primeira noite despreocupados.

Love Keep Us SafeOnde histórias criam vida. Descubra agora