Capítulo 16

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 Adormeci na poltrona ao lado da cama de Carl. Papai e mamãe haviam saído para tomar um ar. Hershel, o senhor que estava no quarto quando cheguei me explicou o que aconteceu. Não pude conter as lágrimas ao saber que um dos integrantes de sua família havia atirado em um cervo e a bala atravessou se alojando em meu irmão. O velhinho tentou me acalmar dizendo que Otis, o responsável pelo tiro saiu com Shane para procurar os itens necessários para a cirurgia que teria que fazer no pequeno.

Segundos depois, Carl começa a tossir e abre os olhos. Mamãe entra no quarto se ajoelhando ao pé da cama, papai logo em seguida também faz o mesmo.

-Onde a gente tá? - foi a primeira coisa que ele disse ao recobrar completamente a consciência. Seus olhinhos vagavam pelo lugar curiosamente.

-Esse é o Hershel, a gente está na casa dele. - papai diz.

-Tá doendo muito... - Carl se queixa e minha impotência me faz balançar a cabeça negativamente enquanto papai tenta me abraçar por trás, mas eu o afasto. Com uma raiva inexplicável por ele ter deixado isso acontecer ao meu irmão. Ou só por simplesmente eu não ter ido junto e o protegido. Ou até por eu não poder fazer nada por ele naquele momento, a não ser segurar sua mãozinha gelada. O pequeno sorri para mim - Você devia ter visto... O cervo. Ele era tão bonito, Ellie. Ele estava tão perto! Eu nunca estive tão... - e de repente ele se cara vidrando seus olhos em mim.

-Carl... - o chamo.

-O que está acontecendo? - mamãe nervosa acaricia a sua cabeça.

Um segundo depois Carl começa a se mexer bruscamente tremendo e se contorcendo na cama. Estava tendo um ataque.

-Calma, é uma convulsão. Se vocês segurarem podem machucá-lo. - Hershel corre para liberar a cama enquanto Carl continuava a tremer.

-Não pode parar isso? - digo entre lágrimas. Dessa vez deixei papai me abraçar e toda a raiva que estava ali se tornou preocupação.

-Tem que deixar isso passar... - foi a sua resposta.

Mamãe correu para me abraçar e abraçar papai também. Fiquei ali entre os dois, molhando a camisa de papai com minhas lágrimas. -O cérebro dele não está recebendo muito sangue. A pressão está caindo. Ele precisa de outra transfusão.

-Tá, eu tô pronto. - papai se nos deixa e dá um passo à frente. - Se eu tirar mais de você, seu corpo vai sofrer. Vai entrar em coma ou ter uma parada cardíaca...

-Pode tirar o meu... Eu sou O + - digo segurando firme o braço do xerife. O mesmo me olha surpreso. - Se eu desmaiar não pare de tirar até que tenha o necessário... - digo levantando a manga do casaco que estava usando e me sentando na cadeira que vi papai ter seu sangue retirado mais cedo.

O velhinho olha para meus pais e eles assentem. Papai puxa minha cabeça para trás me encarando nos olhos. Conversa comigo sobre o dia em que fomos para a praia pela primeira vez. Me lembra em como eu estava apavorada com as ondas, mas quando ele me pegou no colo eu me tornei a menina mais corajosa da costa. Eu podia sentir a agulha perfurar meu braço e um enjôo incômodo, mas papai estava ali com minha cabeça escorada em sua barriga, com seus olhos azuis com um carinho único fitando os meus. Em um instante, Hershel disse que já podia me levantar. Saio da cadeira e sinto uma forte tontura. Mamãe me segura colocando-me sentada novamente na cadeira.

-Acho melhor ficar aí por enquanto. - diz acariciando meus cabelos. - Você foi muito corajosa. Obrigada por ajudar seu irmão.

-É minha obrigação, mãe... - murmuro olhando o fazendeiro colocar a agulha no braço do meu irmão e apertar um pouco o saco de sangue para fazê-lo entrar.

Algumas horas se passaram e eu fiz mais duas transfusões para meu irmão. Sinto-me exausta e Hershel aconselhou que o próximo a fazer seria o papai se não eu poderia ser outra acamada.

-Ele ainda está perdendo sangue mais rápido do que podemos repor... - o médico

diz checando os batimentos de Carl - E com o inchaço no abdômen não podemos esperar mais ou ele vai acabar morrendo. Eu preciso saber agora se vocês querem que eu faça isso, porque ele está ficando sem tempo... Vocês tem que tomar uma decisão.

Depois de um momento de indecisão, com lágrimas nos olhos, mamãe diz ao velhinho que poderia fazer a cirurgia em Carl. Dá uma série de instruções enquanto começa a organizar o lugar para a cirurgia do pequeno. Para um instante e nos encara dizendo que é melhor sairmos, mas graças a Deus escutamos o barulho de um carro se aproximando. Papai olhou pela janela e seu olhar para nós confirmou que os homens haviam chegado com os medicamentos.

Hershel me pediu para ficar com o meu irmão junto a esposa de Otis enquanto meus pais e ele correram para fora. O médico volta em um instante com todas as ferramentas que precisaria. Me pediu para sair que ele começaria a cirurgia.

Foram horas de espera. Shane me encarava o tempo todo. Pensei que não faria mais isso, mas dessa vez estava me olhando diferente, como se realmente estivesse preocupado. Soubemos que Otis havia se sacrificado para pegar os suprimentos para a cirurgia de Carl, o que causou um pesar durante a espera. Quando Hershel saiu e nos disse que meu irmão iria sobreviver e que tudo havia corrido bem, me senti na obrigação de ir até o ex-policial.

-Obrigada, Shane... - digo me aproximando. - Sem você e o Otis, o Carl não teria sobrevivido.

O homem apenas dá um sorriso de lado e assente logo depois desviando os olhos para mamãe que entrava na casa, mas antes de fechar a porta o estava encarando. A mesma estendeu os braços me chamando e eu fui para junto dela olhando apenas uma vez para trás e vendo Shane olhar para baixo com uma cara séria.

............

Não saímos do lado de Carl a noite inteira. Adormeci no colo de papai, mas acordei de manhã cedo com ele me dizendo que Carl acordou. Conversamos com o pequeno por um tempo, mas o mesmo voltou a dormir.

Levanto-me de supetão quando escuto um ronco conhecido de motor de moto. Ando cambaleando pelos cômodos até chegar em uma janela e puxar as cortinas para ver o pessoal que chegava lá fora. Daryl havia acabado de descer da moto e olhava em volta. O restante do pessoal também estava lá, Dale havia trazido o seu trailer também.

Me senti mal ao levantar tão depressa e então, Maggie, a filha mais velha de Hershel me fez sentar e me alimentar um pouco enquanto Glenn contava sobre a nossa trajetória até ali e o desaparecimento de Sophia. Eu queria ir lá fora e ver Daryl, mas tive que esperar até o funeral que fizemos para Otis.

Foi um momento bem difícil para a família da fazenda e quando Shane foi falar as últimas palavras para Otis foi meio estranho. Ele gaguejava demais. Como se o que dissesse estivesse inventando ali na hora. Durante todo o funeral Daryl ficou ao meu lado, sem dizer nada, apenas podia sentir seu olhar sobre mim algumas vezes, mas o mesmo desviava quando eu o olhava.

Ao fim do funeral, enquanto todos se distanciaram e consolavam a esposa de Otis, o caçador me puxou o ombro e me virei para encará-lo. Seu olhar estava cansado e abatido e eu sabia o porquê...

-Sem sinal dela, não é? - pergunto.

-É... Essa noite foi bem difícil pra todo mundo. Carol está meio estranha. Parece que está perdendo as esperanças...

-Vou falar com ela mais tarde. - digo piscando os olhos por um momento com uma tontura que me invadiu.

-Você está bem? Glenn me disse sobre as transfusões... Você não desmaiou dessa vez... - um sorriso de canto de boca tomou seus lábios.

-É... Parece que eu estou evoluindo. Mais tarde vamos retomar as buscas e eu quero ir com você.

-Nem pensar. A senhorita Grimes tem que descansar. - diz o caçador caçoando de mim enquanto começo a andar de volta para casa.

Balanço a cabeça negativamente e digo sem olhar para trás:

-Eu vou e ponto. Agora que Carl está a salvo, preciso encontrar a Sophia. Por ele e pela mãe dele...

Não ouvi Daryl falar mais nada, apenas continuou me seguindo até a enorme casa dos Greene.

Love Keep Us SafeOnde histórias criam vida. Descubra agora