02 . ele tem namorada.

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Fim de tarde, o céu na paleta de tons rosa e laranja, os carros fazendo filas nas ruas e os barulhos se tornavam mais altos em Seul. Todos estavam voltando do trabalho ou de qualquer lugar que seja, e eu ainda estava lá na casa de Winter, sentado em sua cama encarando os papéis soltos e decoradinhos de seu fichário. O que estava escrito? Tudo sobre biologia que estudamos nos últimos meses.

Eu pegava os papéis na mão, encarava as letras, as frases coloridas com canetas brilhantes que Winter tinha, mas parecia que eu não conseguia conectar nada que fizesse sentido. Confesso que metade dos meus pensamentos tinha o rosto doce de Beomgyu, rindo quando eu derrubei o copo de água em seu moletom.

Assim que sentimos que já tínhamos um grande passo, decidi que já era hora de ir para casa. Me levantei, juntei minhas coisas e coloquei tudo dentro da mochila. Finalmente mais um dia cansativo e chato de aulas e trabalhos havia chegado ao fim e eu só queria chegar em casa e tomar um banho gelado.

— E amanhã?

— Nada de trabalhos e nem coisas relacionadas à escola. — Aquilo me fez sorrir por dentro e por fora. — Vamos almoçar fora, para colocar todo o papo em dia. Nada de biologia, eu prometo.

— Maravilha!

Descemos as escadas e seguimos pelo corredor até o hall de entrada. Winter me acompanhou até a porta de sua casa. Ouvi o barulho da televisão, talvez fosse a mãe de Winter ou o próprio Beomgyu assistindo algo. Ela girou a chave na maçaneta e então eu sai de sua casa, antes me despedindo com um abraço apertado.

Enfim, comecei a caminhar de volta para a minha casa. Estava meio apressado e até pensei em pegar um ônibus para ir mais rápido, mas assim que vi o ponto, desisti. Aquele era o horário que as pessoas voltavam do trabalho, beirando as seis da tarde, com certeza eu pegaria um ônibus lotado com a grande sorte que eu tenho. Suspirei fundo ao passar por um ponto e continuei o caminho a pé mesmo.

Cheguei em casa em uns vinte e cinco minutos mais ou menos. Passei pelo porteiro desejando uma boa noite e me dirigi para o elevador. Aquilo já era rotina, apertei o botão do terceiro andar e esperei até que meu destino chegasse.

Cheguei. Lar doce lar. Mergulhei a mão em um bolso menor da mochila e achei as chaves com a ponta de coelho feito em crochê  - um dos presentes de natal da vovó no ano retrasado - e não pensei duas vezes antes de destrancar a porta e sentir o delicioso cheiro de lámen. Vovó era a melhor cozinheira do mundo, todas as suas refeições eram tão perfeitas que pareciam que vinham dos céus.

  Eu tirei os calçados e coloquei os chinelos tradicionais e confortáveis que comprei em uma viagem para Jeju. Tirei as alças da mochila do ombro me sentindo mil vezes mais leve, jogando-a na mesa de jantar e fazendo um barulhinho por conta da superfície ser feita de vidro, denunciando a minha chegada em casa.

— Querido!  — Ouvi a doce voz se aproximar, então vovó saiu da cozinha com um sorriso gigante nos lábios. Ela vestia um avental branco que estava meio manchado pelas tantas receitas que ela produzia, junto do vestido rosa e com pequenas florezinhas brancas. — Que bom que chegou, estou servindo o jantar.

— O cheiro está ótimo.  — Esfreguei as palmas das mãos umas nas outras passando a língua pelos lábios secos e provavelmente com um olhar faminto. Eu tinha comido algumas besteirinhas na casa da Winter, mas nada que me enchesse muito. — Vou trocar de roupa.

Ela assentiu então eu deixei na sala. Nosso apartamento não era muito grande; a sala de estar tinha um pequeno sofá verde azulado, a estante cheia de livros e plantas com uma televisão média no centro, uma mesa de jantar bem perto da porta de entrada, um pequeno corredor do lado esquerdo tinha a cozinha e no lado direito tinha os dois quartos e o banheiro. Enfim, pequeno e perfeitamente confortável para eu e minha avó. 

Winter's brother (Yeongyu)Onde histórias criam vida. Descubra agora