03 . para a diretoria.

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— "Bissexualidade"? Como assim? — Eu não disfarcei o meu tom de surpreso na voz. Confesso que nessa altura eu estava parecendo um intrometido.

— Beomgyu é bissexual. — Ela apoiou os cotovelos na mesa, dando um suspiro fundo. Parece que resgatava algumas memórias e eu pude reparar isso pela preocupação em seus olhos. — Foi difícil quando ele se assumiu, Junnie. Meu pai não entendeu muito bem, achou que ele estava só confuso.

— Entendo completamente. — E eu não dizia isso brincando. Eu sou gay e meus pais sabem disso desde os meus doze anos de idade, quando eu comecei a gostar de um vizinho meu. Os pais dele não aceitaram bem essa ideia, nos afastaram e agora nós agimos como dois desconhecidos.

Essa conversa me fez voltar nos tempos em que eu estava tomando coragem para sair do armário. A primeira pessoa que eu contei foi Winter que simplesmente me acolheu em seus braços e deixou que eu chorasse em seu ombro até eu me acalmar, ela foi um apoio extremamente importante nessa época. Algumas semanas depois, enquanto eu me acostumava com a ideia de falar sobre minha sexualidade em voz alta, vovó escutou uma de minhas conversas no telefone com Winter. Eu achei que ela estava na feira mas ela tinha chegado mais cedo e ouviu minha conversa. Eu não fiquei bravo. Ao contrário. Fiquei aliviado por ela ter ouvido e eu não precisava passar por toda tensão de chamar ela para conversar.

Meus pais não sabem disso, eles não tem a certeza de que sou gay — apenas desconfiam e acham que tudo aquilo foi uma fase — e não quero contar para eles por enquanto. Eu prefiro que fique assim. Mas provavelmente eu vou acabar saindo do armário totalmente quando as aulas acabarem e eu for para a fazenda deles passar os meses de férias. Eu morro de medo da reação deles, por mais que nunca falassem nada sobre isso comigo, nem demonstrado um comportamento preconceituoso, continuo tendo aquele frio na barriga sinistro só de pensar.

— Beomgyu começou a ficar mal, ele falava para mim que não se sentia aceito em lugar nenhum. Ele nunca teve problema em dizer que é bissexual, porém, quando as pessoas começaram a encarar ele de maneira estranha e olhar torto para ele, Beomgyu quase nunca quis tocar no assunto. — A prova de que ela amava o irmão era como Winter ficava só de dizer aquelas coisas, um olhar triste e vago.

— Eu sinto muito por isso, Winter. Sabe que estou sempre aqui, e que se acontecer qualquer coisa é só me falar.

— Obrigado, Junnie! — Aquele brilho e aquele sorriso fofo surgiu novamente em seus lábios, deixando Winter mais bonita do que antes.






* * *





No caminho de volta para casa, encontrei Yuna de braços dados com sua melhor amiga Lia. Winter apertou meu ombro e deu uma risada fraca e discreta. E lá vamos nós.

Yuna é do segundo ano, uma garota que agora se tornou uma trainee. Tem os cabelos loiros e compridos, era bastante animada e falava com absolutamente todo mundo.

Ela já tentou várias vezes ficar comigo. No primeiro dia de aula, eu estava pelos corredores com um livro de poesias na mão e ela passou completamente encantada, puxou assunto comigo e pediu emprestado quando eu terminasse de ler.

Yuna era uma graça, um amor de menina mas que infelizmente eu não iria me apaixonar. Antes de ter a certeza sobre minha orientação sexual eu me sentia culpado por não conseguir me sentir atraído por ela. Yuna é líder de torcida, vai ser uma idol famosa, é muito bonita e todo mundo gosta dela, e tem o principal ponto: ela era uma menina.

Eu ainda negava o fato de me sentir atraído apenas por garotos, — durante o final do ensino fundamental dois — eu chorava todos os dias de noite por gostar de um menino que estudava na mesma sala que eu. Nos primeiros meses desse ano eu ainda tentei resistir mas enfim eu me descobrir.

Winter's brother (Yeongyu)Onde histórias criam vida. Descubra agora