08 . tudo nos eixos.

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— O que?! — A professora e o diretor disseram quase ao mesmo tempo.

A senhora Hwang olhou para a filha com os olhos arregalados e a boca aberta em uma expressão de surpresa total. Eu tinha certeza de que na cabeça dela, ela só conseguia pensar que estava sendo traída pela própria filha, e isso só deixava tudo aquilo melhor. Antes que venham pensar, eu não me sinto bem vendo as pessoas se dando mal, mas quando essa pessoa deseja e se sente bem vendo minha comunidade sendo agredida todos os dias e fazendo piadas horríveis com isso, não tem como eu sentir alguma tipo de compaixão.

Yeji se afastou um pouco da cadeira onde a professora estava sentada e veio mais para o meu lado. Ela me encarou e em seus olhos eu só consegui ver que sentia medo, mas estava fazendo aquilo por uma boa causa. Eu sorri todo orgulhoso para ela, pois só de estar ali combatendo a mãe manipuladora que ela tinha já era um motivo de eu me orgulhar. Ela sorriu de volta e então voltou a se pronunciar:

— Na última vez que viemos aqui, eu disse que Yeonjun foi ríspido com minha mãe, mas acho que eu estava cega demais para enxergar as falas preconceituosas que ela teve com o meu colega de classe. — Ela disse com bastante firmeza, apesar de eu perceber as mãos tremendo.

— Yeji? O que deu em você? — A senhora Hwang resmungou. Ela se levantou em um sinal de indignação e lançou um olhar feio para mim e depois para a filha. O rosto cheio de rugas da mulher estava ruborizado pela raiva que subia em suas veias.

— O que deu em mim? O que deu em mim é que ver um aluno ser alvo de piadas sobre a sexualidade e ainda ter que ouvir o professor fazendo essas piadas também, me deixa completamente irritada. — Para mostrar que naquela altura do campeonato ela não tinha mais medo, Yeji lançou de volta o olhar de raiva que sentia.

— Senhora Hwang, o que é isso? — O diretor balançou a cabeça negativamente. — Está brincando que fez piadas sobre a sexualidade de um aluno? É por isso que o Choi Yeonjun te "respondeu", não foi? — O homem fez o sinal de aspas com a mão, vendo a mulher se atrapalhar toda em suas palavras, murmurando qualquer coisa que fosse útil para sua defesa.

— Mas, diretor... eu...

— Basta! — Ele bateu na mesa. Não foi um barulho muito forte mas foi o suficiente para que a professora voltasse a se calar. — Hwang, nessa escola pregamos sobre respeitar as diferenças acima de tudo! Ver uma professora fazendo esse tipo de coisa é uma coisa inadmissível.

— Eu não fiz nada demais, só expressei minha opinião sobre isso. — Ela olhou para mim com certo desdém. — Céus, isso tudo é ridículo!

— Ridículo são as piadas que você faz contra a comunidade e todas essas pessoas que sofrem, mãe. — Yeji veio para mais perto de mim. — Você sabe o que a gente passa em um país preconceituoso como esse?

— A g..gente? — Quando Yeji percebeu já era tarde demais. A professora levou a mão para a boca e arregalou mais ainda os olhos. — Yeji, não me diga que...

— Se sua filha é gay ou não, você resolve esse problema depois. — Eu disse.

— Concordo plenamente, sr. Choi. — O diretor relaxou o corpo na cadeira e deu um longo suspiro. — Eu analisei as câmeras, alguns alunos vieram conversar comigo sobre isso e digo que homofobia é crime, senhora Hwang. — Ele pegou uma caneta de um porta-lápis preto de sua mesa e ergueu algumas folhas como se estivesse procurando por apenas uma especifica. — Obrigado senhorita Hwang e senhor Choi, agora estão dispensados.

Deixamos a professora completamente imóvel e chocada na cadeira. Assim que fechamos a porta da diretoria, parados no corredor, Yeji sorriu e me deu um longo abraço apertado, passando a palma das mãos nas minhas costa em forma de carinho. Eu também sorri, senti meu coração ficar mais quente e então percebi que agora que era assumida para a mãe, poderia andar de mãos dadas com Ryujin sem ter medo que ela descobrisse alguma coisa.

Winter's brother (Yeongyu)Onde histórias criam vida. Descubra agora