Mas o que vem a ser um "leitor beta"?
Leitores beta: nada mais são que pessoas, profissionais ou não, que tem como função ler a sua obra, completa ou inacabada — e que ainda não foi publicada para, posteriormente, emitirem uma análise crítica.
A expressão vem do alfabeto grego, cujas duas primeiras letras são "alfa" e "beta". Ou seja, "beta" é o "segundo a ler", uma vez que o escritor (o alfa), foi o primeiro. Então, na linha de produção da obra, é aquele que lerá logo após o original ficar pronto, para dar seu feedback. Pode ser um amigo, um profissional contratado, um editor, enfim, alguém com capacidade para perceber os pontos falhos e orientar, de forma precisa, aquilo que pode ser melhorado (ou deva ser modificado). Em alguns casos, o beta até poderá condenar a obra, mas não vamos levar para esses casos mais extremos... hahaha...
Voltando um pouco a "Assassinato no Continente Gelado", se me permitem...
Em 2005 (ou 2006), um amigo, Maurício Pereira de Araujo, um dos meus principais leitores beta, lendo o segundo original impresso dessa obra (o primeiro tinha um final tão ridículo que achei melhor não passar a ele), não se empolgou com a história. Meu pensamento: "Nossa, a minha menina dos olhos, assim, desprezada"? Foi um duro golpe.
Já em 2007, eu finalmente publiquei o livro em formato físico, fazendo alguns ajustes em relação ao segundo original impresso, que também foi lido pelo Maurício, novamente sem muito entusiasmo. Devo considerar que ele passava por dificuldades nessa época, mas se meu livro fosse realmente bom, seria algo que até poderia tê-lo ajudado a animar-se. Pelo contrário. Isso me incomodou por anos, até que em 2017 foquei naquilo que ele dizia estar ruim (ou que eu julgava ele achar ruim, apreendido em conversas, porque ele nunca fora realmente direto acerca disso, mas estava dito nas entrelinhas).
Concluída a obra, ele a leu novamente e disse: "Trama: nota 10; final: nota 8" e ainda concluiu: "Esse remake foi tão alardeado por ti, criou-se uma expectativa tão grande, mas confesso, esse final não foi digno da trama como um todo, diria que foi frustrante, mais do mesmo, um final comum". Novo baque! Resiliente, perguntei: "E o que você propõe"? Aí realmente começaram meus problemas, pois ele então fez uma proposta para o final, que minha primeira reação foi dizer: "Impossível conseguir", ao que ele respondeu: "Pois bem, é justamente o impossível que tornará essa obra espetacular, mãos à obra".
Fiz então cinco finais diferentes, ele foi lendo, um a um, mas enquanto não cheguei no "impossível" proposto por ele, não fui aprovado. Quando finalmente ele leu o final que esperava (e que reconheço, ficou incrível), sua mensagem, via Whatsapp, foi: "BRAVO! BRAVÍSSIMO! Você superou minhas expectativas, pois enganou até a mim, que já sabia o que aconteceria, mas em vários instantes tive dúvidas do que realmente estava acontecendo".
De fato, não é fácil ser escritor, pensei, mas vale a pena. E se não fosse esse dileto (e chato) BETA, eu jamais teria minha obra à altura de um grande livro policial.
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Escrevendo bem: DICAS!
Non-FictionCompêndio de apontamentos pessoais e de interesse aos escritores, amealhados aqui e ali - ou deduzidos ali e acolá. Nenhuma verdade, sequer relativa, apenas ideias, cujo contraditório será sempre bem-vindo. -- Escrever é um ato de amor, para aplaca...