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- Posso saber por que chegou tão cedo? - Sam perguntou rispidamente, vendo Sue arrumar as coisas necessárias para o dia dela.

Sua primeira pessoa a atender seria Emily e isso melhor consideravelmente seu dia, levando em conta que não a via desde o dia anterior e que seu dia estava sendo horrível, pois a madrugada havia sido repleta de gemidos de Vinnie e Jane, vindos do banheiro. Comemoravam mais um mês juntos e tal festejo fez Sue mal pregar os olhos.

- Ainda não estou no meu horário, não preciso te dar satisfações. - Sue respondeu com uma rispidez igual a dele. Ela sempre fora gentil, por tal razão Sam estranhou sua resposta.

- Exatamente. Você não tem autorização para mexer em nada aqui fora do seu horário. Desfaça tudo e deixe como encontrou. - Exigiu.

- Não. - Ela respondeu secamente, bocejando logo em seguida.

- Sue, não me faça tomar medidas drásticas.

- Sam, eu entro em quatro minutos. Para que desarrumar tudo, sendo que terei que reorganizar as coisas exatamente assim?

- Porque eu estou dizendo para fazer. - Exigiu, trincando seu maxilar.

- Não pode tratar as pessoas como se fossem meros pedaços de lixo. - Sue disse, vendo o homem se aproximar com a expressão rígida em seu rosto.

-Eu as trato como eu quiser. - Falou a encarando. - Agora faça o que eu mandei ou tornarei seus próximos meses aqui um inferno. - Sue respirou fundo.

-Tudo porque eu disse que não precisava dar satisfações?

- Assim aprender a ser menos rude com as pessoas. - Avisou ele.

- Rude? - Ela perguntou. - Jura, Samuel? - Ela indagou sentindo-se cansada e derrotada. - O que eu te fiz?

- Como?

- O que eu te fiz? - Repetiu com veemência. - De todos os dez alunos que estão sob sua responsabilidade eu sou a única que você trata assim. - Disse. - Eu sou a única que fica até mais tarde para te ajudar a organizar tudo, mesmo sem precisar, e não faço isso para puxar seu saco e sim porque imagino o quão cansado deva estar. - Falou umedecendo seus lábios. - Então o que eu te fiz para me tratar todos os dias como um pedaço de lixo? Como se eu estivesse abaixo do solo? - Sam riu e negou com a cabeça.

-Tudo bem, Sue. Então além de arrumar isso tudo você terá que ir buscar café para mim. - Ele disse, se encostando tranquilamente na pilastra dali. A menina apenas sentou no chão e apoiou o rosto sobre sua pernas, puxando fortemente o ar para seus pulmões. - Não me ouviu?

- Quem não ouviu foi você. Não estou em meu maldito horário; cheguei mais cedo porque me voluntariei para tornar o ambiente melhor para Emily, então se você quiser seu bendito café mexa essa bunda preguiçosa e vá buscar você mesmo. - Ela disse irritada, só não sabia com o quê, exatamente.

Sue sempre fora pacifica; sempre acatara tudo o que Sam dizia sem problemas, mas talvez o cansaço, o mau-humor, a solidão e a TPM estivessem um pouco reunidas demais. A ligação de sua mãe naquela manhã a deixou sensível, não era para menos, sentia saudade de sua família e isso a fez pensar sobre toda a sua vida: Ela era uma tremenda solitária. Sempre fora.

Seus amigos eram como uma pequena segunda família, porém mal se viam, tendo em vista que os horários eram todos incompatíveis. Ela não tinha mais ninguém além deles, Fátima e Emily agora se incluíam nisso, exatamente por isso ela acordou com o propósito de fazer o dia mais legal para aquelas duas, haviam passado por um bocado de coisas, mereciam ser felizes.

- O que está havendo com você? - Sam perguntou, se sentando ao seu lado. - Nunca me respondeu assim antes. - Sue enxugou uma lágrima solitária com sua camisa sem que Sam percebesse e levantou o rosto, suspirando.

-Desculpe, acho que eu não dormi direito. - Se recompôs, fazendo um enorme silêncio pairar sobre ambos.

- Acho que você está tornando pessoal demais isso com a garota. - Sam se pronunciou. - Não deveria deixar isso acontecer. Onde está seu profissionalismo? - Aquilo foi a gota que fez seu copo transbordar.

- E onde estava o seu quando se supõe que deveria me ensinar algo? Eu passei meus últimos meses me ferrando, estudando em dobro para conseguir aprovar, porque você nunca me ensina nada. Apenas me manda buscar café, café e mais café. - Ela disse se levantando, olhando seu relógio de pulso.

- Eu..

- Saia daqui! - Sue exigiu, fazendo o homem abrir a boca irritado para dizer algo, porém ela não o deixou. - Agora são oficialmente uma da tarde, onde meu horário começa e, por conseguinte, a sessão com Emily. Eu sou a responsável por ela, não sou? Então eu não quero você como ajudante mais. - Avisou. - Você vai tornar minha vida um inferno por isso? Oh, claro que vai, mas adivinha só? Você já tem feito isso desde que pisei neste bendito hospital, então eu realmente não me importo.

- Não vou sair.

- Oh, você vai sim. - Ela disse. - Saia! - Disse com veemência, apontando na direção da porta. - Eu não quero você e sua áurea podre e negativa perto de alguém tão doce quanto Emily.

- O que está havendo aqui? - A voz de Fátima ecoou no recinto, fazendo Sue olhar em sua direção. Ela empurrava a cadeira de rodas de Emily, que olhava sorrindo para Sue.

-Olá meus amores. - Sue respondeu docemente, sentindo seu coração instantaneamente mais calmo. Nada demais, Sam não ficará mais conosco. - Informou se aproximando. - Como estão?

- Ontem eu estudei um montão, Susie - Sue sorriu e se abaixou na frente da garota.

- Estou tão orgulhosa. - Sue informou, pincelando seu dedo indicador pela vértice do nariz de Emily. - Me diz uma coisa, Emily, você gosta de bolas?

-Depende. Eu não gosto de futebol. Ela disse. - Por quê?

- Porque hoje vamos usar uma bola suíça em nossas sessões.

- Ela veio de tão longe assim? - Emily indagou, fazendo Sue rir.

- Bola Suíça é como chamamos as bolas iguais às do Kiko, porém mais consistentes.

-Vamos brincar com aquelas bolas grandonas? - Os olhos de Emily se iluminaram.

-Sim, só estamos esperando o senhor Sam se retirar. - Sue disse olhando para o homem no momento seguinte. - Esta é uma sessão privada.

Sem dizer nada o homem saiu bufando sem sequer olhar para trás.

- O que foi isso? - Fátima indagou, rindo.

-Jamais permitirei que vocês fiquem perto de pessoas tóxicas. - Sue disse, voltando a fitar Emily. - Vocês são valiosas demais para ter que aguentar isso -. A mão de Emily lentamente tocou o rosto de Sue, iniciando uma carícia suave.

- Aquele homem é mau, não é? - Perguntou.

-Não sei dizer, Emi, mas sua alma talvez seja um pouco perdida.

- E ele machucou seu coração, não foi? - Emily perguntou, continuando suas carícias.

- Por que acha isso? - Sue perguntou curiosamente.

- Porque seus olhos não brilham tanto quando ele está por perto.- Ela disse, subindo uma mecha de cabelo de Sue até atrás de sua orelha. - Não quero mais ele aqui. Nunca mais. - Emily disse seriamente.

- Ah sim? - Sue perguntou sorrindo.

-Sim. -Emily afirmou. Você pediu para eu cuidar da florzinha. - Emily disse calmamente. - E se eu sou capaz de cuidar dela, também sou capaz de cuidar de você, Susie. Meu coração dói de te ver triste. - Sue suspirou, sentindo seu coração saltitar em seu peito.

-Então eu não vou mais ficar triste, tudo bem? - Emily assentiu, sorrindo genuinamente.

Ah! Como Sue queria poder ignorar a forma como seu coração se inundava de alegria em ter aquele ser humano incrível em sua frente, porém era inegável tal fato, restava aceitar. Ela sorriria feito idiota a cada meia frase que Emily soltasse

EM UM PISCAR DE OLHOS - EMISUEOnde histórias criam vida. Descubra agora