Capítulo 4

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Uma mistura de palmas, gritos e assobios alcançavam sorrateiramente os ouvidos de Felix ecoando abafados. Por mais que estivesse utilizando seus fones por onde fluía a música que escolhera para sua apresentação e, dessa maneira, pudesse repassar mentalmente a sequência de passos que executaria nos próximos minutos, o som externo ainda era mais forte do que o volume mais alto de seu celular. Tentava não se abalar com aquilo mas falhava miseravelmente, mesmo sabendo que o clima da galera da dança sempre era assim. Tinha pleno conhecimento de que todos passavam por aquele processo de aprendizado pessoal e, por isso, reconheciam e apoiavam uns aos outros daquela forma.

A dança em si é uma arte que exige muita técnica daqueles que a executam, entretanto em comparação com a habilidade de ter um domínio próprio, pode-se calcular que a porcentagem deste último sobrepõe-se ao seu antecessor. É uma pauta aberta para muita discussão ainda, mas de um modo geral, dançar é ter 40% de técnica e 60% de domínio próprio. O que significa que quando um indivíduo começa a engatinhar nesse mundo das coreografias e performances, uma das primeiras coisas aprendidas além dos passos básicos é a necessidade entender qual é o eu interior que floresce quando as envolventes batidas das caixas de som começam a tocar. Nesse momento, apenas mover-se guiado pelo sentimento das notas das canções se encontrando com os tímpanos é quase como atingir um plano superior.

Aqui compreende-se a musicalidade.

Após isso, um trabalho milagroso é feito sobre a confiança do ser. Algo que toca diretamente e profundamente no desenvolvimento do psicológico. É quando o olhar para o espelho sofre uma mudança: passa-se a abraçar o fato de que aquele que está tendo a sua imagem refletida é o responsável por fazer a outra pessoa, o espectador, sentir fluir através de cada execução de uma série de movimentos e através de cada expressão representada pela face, o significado pessoal do dançarino sobre a música que o guia. Para isso, é preciso ter um encontro íntimo com a canção, compreendê-la e, então, executá-la através de seus passos. Se não fosse assim, como um dançarino que não acredita que é possível ter fé em si mesmo, conseguiria emanar com sua dança a essência de uma música que foi composta com o objetivo de fazer as outras pessoas acreditarem em si mesmas? Como passaria a confiança de uma letra que diz que está tudo bem em não fazer parte do padrão social para estética, se o próprio dançarino não internalizar verdadeiramente a real importância que aquele tipo de representatividade tem para algumas pessoas.

Aqui compreende-se a auto confiança.

Sem demora, em seguida a mente é trabalhada de uma forma especial. Uma vez que o dançarino não pode ser mais ansioso que a próxima batida do som, não pode esquecer-se do conceito de cada movimento... Deve memorizar cada passo por completo.

Aqui compreende-se a paciência.

No fim, o domínio próprio é alcançado e, apenas então, o conceito da técnica é apresentado.

Todos os trainees, funcionários e, até mesmo, chefes ali sabiam que aquelas eram as fases do chamado Processo de Cada Um; entendiam que para alguns ele se manifestava rapidamente e para outros de maneira mais lenta. Acima de tudo, todos tinham sentido na própria pele a dificuldade de dominar tais fases da dança inteiramente.

Por esse motivo, a bagunça da galera da dança era uma das mais gostosas entre todas as habilidades treinadas ali. Apoiavam e acreditavam no crescimento uns dos outros mutuamente.

Felix não somente sabia disso, como também contava com isso. Esperava que mesmo que algo desse errado, o apoio sempre presente dos demais colegas aquecesse algo em seu peito e o ajudasse a finalizar seu número.

Heal (Changlix, Minsung)Onde histórias criam vida. Descubra agora