Parte 1

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Tudo começou com Dustin. Sim, como sempre, a maioria dos problemas de Steve começavam por causa das crianças das quais ele era praticamente a babá. Porém, não iria admitir, claro, mas tinha sim um certo carinho por aqueles adolescentes encrenqueiros, em específico, Dustin, com quem desenvolveu uma relação de amizade e cumplicidade.

Até que ELE apareceu.

Sim, ELE com letras extremamente maiúsculas para expressar sua raiva.

ELE, na verdade, se tratava de Edward (Eddie) Munson, um metaleiro de 20 anos que AINDA estava na escola, guitarrista em uma banda chamada Corroded Coffin, e, talvez o mais importante, líder do Hellfire Club, o clube de D&D da Hawkins High School. Por que isso era tão importante? Bem, porque Dustin e seus amigos eram simplesmente fanáticos pelo jogo, e quando o clube foi criado, estes imediatamente se inscreveram. Novamente, por que isso era importante? Porque agora Steve não era mais “o super incrível amigo mais velho do grupo”, e por mais ridículo e infantil que isso parecesse, sim, Steve estava morrendo de ciúmes.

– Caramba, Steve... – disse Robin sarcasticamente olhando para o teto em uma de suas clássicas conversas no trabalho.

– Pois é, né? Quem esse babaca pensa que é? – esbravejou Steve batendo com o punho fechado na bancada do caixa.

– Meu Deus... – fala revirando os olhos – Você tem alguma ideia do quão besta você tá parecendo agora?

Antes que Steve pudesse responder, o sininho da porta da locadora toca, e o próprio Eddie, acompanhado de Mike e Dustin, adentra o local. Robin segura o riso e empurra o amigo do caixa, obrigando-o a atendê-los. O antigo rei de Hawkins então espera Dustin e Mike notarem sua presença, tentando ao máximo suprimir o ódio que estava sentindo, até porque Eddie, sem sombra de dúvidas, havia ido na única locadora de Hawkins que abria no sábado para provocá-lo.

– Steeeeve!!! – Dustin berra do outro lado da loja, dando um susto em todos os presentes,  correndo em direção ao maior e fazendo seu cumprimento ensaiado muitas vezes. Quando está prestes a perguntar como andam as vidas dele e seus amigos agora que não precisam mais de sua pessoa, Eddie aparece ao lado de ambos.

– Ora, ora, ora... – diz com um sorriso malicioso  – Se não é o Rei Steve... não sabia que eram amigos, pirralho. – comenta dirigindo-se a Dustin, antes de olhar para Steve de baixo para cima, o que, por algum motivo, deixa-o extremamente envergonhado, desviando o olhar e encolhendo minimamente o corpo.

– Ah sim, nós já passamos por muita coisa, matamos uns monstros e tal... – Dustin permanece falando praticamente sozinho, já que seus dois super melhores amigos mais velhos estavam se encarando.

Steve observou Eddie com os olhos semicerrados, gravando cada um de seus detalhes para poder insultá-los quando estivesse a sós com Robin novamente. O maior tinha um rosto anguloso, lábios bem definidos e um olhar que exalava um certo tipo de... insanidade. Seus cabelos cacheados caiam em caracóis castanhos até um pouco abaixo do ombro, e sua jaqueta surrada guiava seu olhar até as mãos brutas, talvez pela prática constante da guitarra, cheias de anéis, com símbolos e caveiras revestidas de joias, correntes e espinhos em seus dedos longos. Vestia também uma calça jeans rasgada nos joelhos e coturnos pretos cheios de desenhos em branco e vermelho, desenhos estes que mais pareciam símbolos satânicos muito mal desenhados. Eddie, por sua vez, fazia a mesma coisa, reparando no queixo definido do Harrington, sua boca carnuda e o cabelo impecavelmente arrumado.

– Ahn... gente... – disse Robin, arrancando-os do transe – vocês estão aí em silêncio faz uns 5 minutos...

– Haha, verdade, parece até que vão se beijar – ri Mike, levando um tapa na nuca de Steve.

Eddie sorri de lado e revira os olhos, irritando o menor, mas quando este fez menção de se afastar Eddie aproxima-se rápido de Steve, como que jogando seu corpo no outro e passando o braço por cima de seu ombro esquerdo, deixando seus rostos perigosamente próximos, mas antes que se toquem, este para, e o encara, deixando-o corado e apavorado.

– Quanto é? – sussurrou no seu ouvido.

– Q-quanto é o que? – gaguejou confuso olhando fundo em seus olhos.

– A fita, Steve! – gritou Robin em seu ouvido, fazendo com que os dois se separassem rapidamente.

Só então o Harrington percebeu que todo aquele gesto exagerado do Munson foi para colocar uma fita de filme na bancada do caixa. Ah, como ele odiava aquele roqueirinho cabeludo!

– São...12 reais...? – afirmou, o que na verdade foi mais uma pergunta para Robin.

– Não, Steve, são 15 – a menina passou por trás do balcão e colocou a fita numa sacola, em seguida recebeu o dinheiro (amassado e manchado) de Eddie.

Este agradeceu a Robin, e antes de sair deu uma piscadinha para Steve, que ficou quase tão vermelho quanto uma pimenta, virou-se e passou pelos meninos que ficaram apenas olhando-se incrédulos.

– Que merda foi essa? – perguntou Dustin quando Eddie saiu da loja.

– Esse amigo de vocês é totalmente... – começou Steve extremamente irritado e vermelho, mas Robin o interrompeu.

– Esse seu amigo de vocês é o responsável pelo primeiro gay panic de Steve Harrington.

Steve olha incrédulo para Robin e manda os garotos risonhos embora. Quando olha para a porta, pode ver Eddie encostado em sua vã fumando um cigarro. Por alguns segundos, aquela simples ação o hipnotiza. A forma como ele leva o cigarro entre dois dedos até seus lábios, o jeito como ele inclina levemente a cabeça para trás e fecha os olhos para tragá-lo, e claro, a maneira como ele abria apenas um pouco sua boca, assim, deixando a fumaça sair aos poucos, subindo e subindo até desaparecer.

“Ele...ele fuma muito bem...” pensa abobalhado apoiando a cabeça em uma das mãos. Aquele sentimento era novo... estava se sentindo confuso, pois fazia tempo que alguém fazia seu coração palpitar daquela forma, e ainda mais um homem, e ainda mais um homem como Eddie Munson! Steve não tinha nenhum preconceito quanto a isso, tendo uma melhor amiga lésbica ele lidava com isso constantemente, quando ia à festas secretas com Robin, ou a encontros com seus amigos “alternativos”, mas não pensava que ele seria capaz de sentir algo assim por outro rapaz, e ao contrário do que a maioria pensa em uma hora como aquela, ele reconhecia o que sentiu. Aquilo foi atração, e embora Steve tivesse decidido reprimir aquilo, mal sabia que Hawkins lhes trariam mais problemas, e junto com eles, momentos inesperados.

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