Capítulo 16

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POV. Wednesday

Voltamos para a escola no dia em que o ritual seria realizado.

Segundo a pesquisa de Xavier, naquela noite houveria um evento estelar: o alinhamento de Saturno e da lua. Saturno era o nome latino de Chronus, então fazia sentido que o planeta estivesse envolvido. Eu não tinha ideia da lua, mas Xavier nos explicou que o deus egípcio do tempo, então outro alterego de Chronus, também era o deus da lua.

Apesar de sua pesquisa, Xavier não encontrou uma saída para essa situação e nenhum de nós apresentou um plano que pudesse nos salvar da noite de mortos-vivos que estávamos prestes a experimentar.

Bem, tecnicamente eu tinha um plano. Jogar o Thing na cara do cara que estava usando a máscara e deixar meu amigo de mão animada roubar a ametista e fugir. Mas, de acordo com Enid, meu plano era insensível, pois daria uma fritada em perigo. Quando tentei dizer a ela que Thing já estava morto e apenas ressuscitado pela magia da vovó, Thing ficou ofendido e se escondeu em seu quarto enquanto Enid chorava sobre o fato de que, se eu pudesse sacrificar Thing, eu poderia sacrificar todos eles, incluindo ela.

Ter uma namorada sempre foi tão... dramático? Não sei, de qualquer forma nunca mais falei em jogar o Thing.

O dia passou, entre aulas e textos. Xavier e Ajax voltaram à biblioteca, procurando uma solução de última hora em um livro que talvez ainda não tivessem lido.

Não pensei que fosse possível, considerando quanto tempo eles passaram na biblioteca ultimamente.

Tamara voltou para o quarto depois de dizer: - Se eles querem trazer mais alguém do além, então? Vou ter mais amigos mortos-vivos.

Enid voltou para o nosso quarto enquanto eu ligava para Tyler, que faltou à escola para ir ao museu, levando o Thing com ele. Seu plano - desesperado - era usar Thing para roubar a máscara.

- Então? Seu plano funcionou? - perguntei, em dúvida ao telefone.

- Não - respondeu - quando chegamos a máscara não estava no estojo. O guarda me disse, Desculpe garoto a máscara está sendo restaurada. Acho que os bandidos já a têm.

Isso foi uma má notícia. Encerrei a ligação, depois de dizer a Tyler onde iríamos nos encontrar naquela noite, para que pudéssemos voltar para o porão juntos.

Caminhei pelos corredores em direção ao meu quarto. Mas, como se meu dia já não estivesse estranho, ouvi um som vindo de trás da porta. Notas musicais.

Abri a porta o mais devagar que pude, tentando não fazê-la ranger.

Olhei para as costas de Enid. Suas mãos voavam sobre as teclas do piano.

Eu nem sabia que tínhamos um piano! Até aquele dia, estava coberto por toneladas de roupas dela que, apesar da organização de Thing, continuavam acabando com tudo. Lembro que Enid me contou sobre suas habilidades no piano, mas, até hoje, nunca a vi ou a ouvi tocar.

Na verdade, era muito difícil acreditar que alguém tão cheio de energia como Enid pudesse sentar ao piano. Sempre pensei nela mais como uma pessoa esportiva ou dançante. Mas, aqui estava ela. Jogando RIP para minha juventude pela vizinhança, ainda sem saber da minha presença.

Fechei a porta atrás de mim. O clique foi o suficiente para acordar Enid de seu transe musical. Ela se virou para mim, uma mão ainda no teclado.

- Ei - disse ela, com sua voz suave. Aquele que ela usava quando éramos só eu e ela, sozinhas, juntas no quarto, conversando sobre tudo e sobre nada. Eu percebi o quanto eu amava aquela voz naquele momento. Era a minha voz. Aquela que ela usava só comigo. Esse pensamento me fez sentir especial.

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